Alguns indivíduos − habitantes desse pântano que os ingênuos chamam de modernidade − ambicionam reviver aqueles dias que desapareceram na curva do tempo e que, de alguma forma, deixaram rastros de felicidade. Uma impossibilidade, gritam (sem a mínima sensibilidade) os estraga−prazeres. Talvez tenham razão. Talvez não. Não importa. Para cada cínico ou descrente no poder de transformação das ações humanas, há milhares de resistentes, que alimentam a saudade sonhando acordado.
Em contrapartida, a realidade pré−existente, esbanjando crueldade, não perdoa aqueles que querem continuar jovens. Nenhuma dor se compara a do amadurecer. Essa parece ser a lição primordial que a vida ministra aos defensores de uma espécie de nova velha versão de Peter Pan.
Com roteiro de Diablo Cody (ganhadora do Oscar de 2007, categoria Roteiro Original, por Juno), o filme Jovens Adultos (Young Adult. Dir. Jason Reitman, 2011) mostra que algumas pessoas gostariam de poder usar um túnel do tempo - máquina capaz de impedir que o passado idealizado seja destruído pela passagem inexorável do tempo.
A escritora de romances juvenis Mavis Gary (Charlize Theron), 37 anos, divorciada, mora em Mini Apple (trocadilho infame, envolvendo Minneapolis e Nova York, conhecida como a Big Apple). Entre namorados circunstanciais e consumo maciço de álcool, leva uma vida vazia. E tudo piora quando recebe uma mensagem eletrônica anunciando que seu antigo namorado, Buddy Slade (Patrick Wilson), acaba de se tornar pai.
Esse alerta sobre o ritmo implacável da vida resulta em um surto emocional. Mavis, impulsivamente, resolve voltar para sua cidade natal (Mercury, Minnesota) com um objetivo determinado: reconquistar o ex−namorado. Focada no que gostaria que acontecesse (Com você é como se o tempo nem tivesse passado, diz Buddy), Mavis flerta, neuroticamente, com inúmeras recordações. Nem todas são agradáveis. Todas revelam um ser humano frágil, carente.
Aquela que foi rainha do baile de formatura e líder de torcida, para obter todas essas glórias colegiais, criou muitas inimizades e ressentimentos. São essas pessoas que encontra nos bares e nos eventos sociais (show de música, batizado da filha de Buddy).
Matt Freehauf (Patton Oswalt), gordo, nerd, deficiente físico, representa o oposto dos valores estéticos que Mavis sempre defendeu. Ao mesmo tempo, em sua companhia, ela encontra algum abrigo emocional.
Embalada por velhas canções gravadas em fitas cassetes − esquecidas dentro de caixas de sapatos – Mavis não parece ser capaz de perceber que o tempo, como se fosse um vendaval avassalador, carrega todas as verdades.
Jovens Adultos, filme classificado como comédia de humor negro, mostra, sem muitas sutilezas, que acordar do conto de fadas é traumático. Poucos conseguem encarar, de frente, a realidade.
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