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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

UM POR UM – 101 encontros extraordinários



Em 1955, durante as filmagens de Assim Caminha a Humanidade, James Dean, para tentar controlar uma crise de ansiedade, urinou na frente das quatro mil pessoas. Ford Madox Ford encontrou Oscar Wilde completamente decadente, em 1899, bebendo absinto no bar de um cabaré em Montmartre. Em novembro de 1969, Allen Ginsberg pagou um sanduíche de queijo e alface para Patty Smith. Na única vez que Marcel Proust encontrou James Joyce, em 1922, eles trocaram informações sobre os mútuos problemas de saúde. Sem paciência para aguentar o péssimo desempenho como cantora da Princesa Margareth, irmã da Rainha Elizabeth II, o pintor Francis Bacon a vaiou, de forma veemente, em uma festa em Londres, em 1977.  

Todas essas histórias, e muitas outras, estão reunidas em um dos mais pitorescos livros publicado nos últimos anos: Um Por Um – 101 encontros extraordinários, organizado pelo jornalista inglês Craig Brown. Defendendo a tese de que são os fragmentos que fornecem substância ao todo, o autor sugere (talvez por blague, talvez como um argumento “sério”) que a história intelectual, cultural e política do Ocidente está resumida em algumas piadas e uma meia dúzia de incidentes desagradáveis. Independente da correção da ideia, que é – no mínimo – discutível, o que importa ao leitor é o entretenimento.

Psicanaliticamente, como ninguém resiste a olhar pelo buraco da fechadura, sempre esperando descobrir algum segredo sórdido das celebridades e subcelebridades, essa excitante expectativa se repete em cada um dos relatos do livro. Basta abrir o volume e mergulhar na aventura. Há diversão para todos os gostos. Principalmente porque todas as narrativas possuem registro histórico comprovado e foram protagonizados por personagens que – de uma forma ou de outra – se destacaram na cultura e na política internacional

Craig Brown
Simultaneamente, em uma percepção que passa despercebida para muitos leitores, o texto está impregnado pelo resgate oblíquo, transversal, de um tempo cronológico que desapareceu na poeira do tempo, mas que deixou rastros indeléveis, absurdamente geniais e patéticos – comprovando que a contradição caminha de mãos dadas com a História (com “H” maiúsculo).

Organizado de forma circular, tendo como elemento-chave a rotação dos personagens, um encontro que puxa outro encontro, o livro está escorado em uma característica muito peculiar: cada um dos 101 relatos foi escritos com exatas 1001 palavras, que somadas resultam em um número absurdo: 101.101. Além de ser uma curiosidade matemática, o que isso significa? Provavelmente, nada. No máximo é uma brincadeira idiossincrática do organizador da coletânea.

Para resumir essa ópera bufa, pode-se afirmar que a leitura de Um Por Um – 101 encontros extraordinários provoca incontroláveis gargalhadas. Como é de conhecimento geral, nada é mais divertido do que o Schadenfreude (palavra alemã que pode ser traduzida por sentimento de alegria e/ou satisfação quando assistimos algum tipo de dano ou infortúnio de alguém).


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