ESPERANDO AS BÁRBARAS
(Marília Kubota)
barbie, tippie ou como você chame,
janet, condoleza, lynndie,
não é mais que uma boneca.
não como konstantin,
que amava os homens e por eles caiu
nos bordeis de Alexandria
anunciando homens
como os de vocês.
vocês são demais.
anseiam romances
enquanto seus homens explodem
cabeças
de porco no mundo velho.
vocês sabem tudo sobre sexo
e leem revistas pornográficas em
banheiros iluminados,
controlando hormônios.
vocês são híper.
jovens americanas, como vocês, mas
do sul,
também ousadas, desde os dez anos
vendem o corpo
para comer. os abutres comem delas.
vocês ensinam as mulheres a serem
liberadas
usando as mais modernas técnicas
para conseguir prazer.
Todas as mulheres do mundo aguardam
o ritmo
que a superestrela virgem ditará,
apertada em corpetes e botas
militares.
vocês são o rosto das mulheres do
mundo.
o que será de nós sem as barbies?
CASAMENTO
(Adélia Prado)
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me
levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e
salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na
cozinha,
de vez em quando os cotovelos se
esbarram
ele fala coisas como ‘este foi difícil’,
‘prateou no ar dando rabanadas’
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos pela
primeira vez
atravessa a cozinha como um rio
profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
TEIA
(Orides Fontela)
A teia, não
mágica
mas arma, armadilha
a teia, não
morta
mas sensitiva, vivente
a teia, não
arte
mas trabalho, tensa
a teia, não
virgem
mas intensamente
prenhe:
no centro
a aranha espera.
Tarot
(Assionara Souza)
Vou confessar,
querida
Tenho isso de gostar
dos loucos
Observo de longe o
jeito que eles comem com os olhos
Com você foi assim
Esse esmalte vermelho
sempre em dia
Esse passado colado
no álbum com cantoneiras e papel vegetal
Quero a receita
completa
Desde o suspense
antes do desfecho da trama
O disparo, teu olho
assustado pra câmera
Por trás da palavra
pêssego
corre um rio espesso
Mordo a palavra
pêssego
E as comportas
desabam — uma cidade inteira vem abaixo
Corremos, corremos
para bem longe do set de filmagens
Vida real é um cão
dormindo no silêncio da tarde de um domingo
querida
sara,
(Alessandra Safra)
agradeço sua umidade nessa tarde ardida
tão seca. sobre a
recusa de flores, preciso esclarecer que
não aprecio esse
roubo da natureza apenas você [como
sempre] basta.
Agradável sua visita nesse domingo
insípido, aliás, todos
os domingos minhas ilusões tiram folga e
esse mal estar
acumulado me força olhar para o ridículo
dessa peleja
diária. estava afundada na cólica desses
farelos quando
você me salvou com seu instinto de vida.
bom passar o tempo sob & sobre seu
corpo ouvindo a
música dos seus gemidos.
Se puder, volta para me salvar no
próximo domingo
também.
beijos
Anna S.
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