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terça-feira, 3 de maio de 2022

O TESOURO NO MORRO DO JUCA PRUDENTE

 

 

Contam os moradores mais antigos da região leste da cidade que existe um tesouro enterrado no morro do Juca Prudente (ou nas proximidades). Em algum momento, na segunda metade do século XVIII, um grupo de padres (provavelmente jesuítas) estava sendo perseguido pelos bandidos que se escondiam na imensidão continental que chamamos de Planalto Serrano. Expulsos da região de Sete Povos das Missões, os religiosos provavelmente se dirigiam para o litoral do Oceano Atlântico. Sentindo a proximidade dos inimigos, e impossibilitados de oferecer um mínimo de resistência, resolveram colocar em segurança parte da carga que levavam. Moedas de ouro, castiçais cravejados com pedras preciosas, aspersórios de prata, além de outros objetos valiosos, foram depositados em um lugar secreto. Os fugitivos esperavam voltar – algum tempo depois – para recuperar o que foi deixado para trás. Não voltaram. Não se sabe o motivo. Talvez tenham sido mortos. O rio das Caveiras não leva esse nome sem motivo. 

Em diferentes momentos, por cerca de 200 anos, muitos exploradores tentaram descobrir o local em que está guardada a fortuna. Cavernas foram desbravadas, buracos foram abertos em diversas partes do terreno, esquadrinharam a região com aparelhos que detectam metais, procuraram por diamantes – nenhuma dessas expedições arqueológicas e espeleológicas (estudo de cavernas) obtiveram êxito. Além de morcegos, insetos e cobras, nada de significativo valor foi encontrado.

Algumas pessoas que participaram dessa caça ao tesouro acreditam (na falta de uma teoria com maior consistência) que existe algum tipo de código secreto que permite encontrar o que está escondido. Esse abre-te sésamo precisa ser desvendado para que seja possível desfrutar das benesses econômicas. No entanto, descrentes de sucesso imediato, quase todos concordam que, entre a revelação do mistério e a posse da fortuna, o planeta ainda vai girar em torno do Sol por incontáveis vezes.    

Habitantes das proximidades do morro afirmam que, no período da noite, brotam do chão algumas bolas de fogo – que talvez indiquem o local onde está escondido o espólio. Também podem ser avisos do sobrenatural. Aqueles que acreditam na existência de outros mundos afirmam que alguns fantasmas estão guardando o local, evitando que o tesouro caia nas mãos de quem nada fez para merecê-lo. Fogo-fátuo, rebatem os céticos (essas pessoas que procuram no mundo da ciência a explicação para qualquer coisa). Ou seja, trata-se da combustão de gases provenientes da decomposição de matéria orgânica. Independente da correção de qualquer hipótese, os mais supersticiosos dizem que a lógica nunca é suficiente para explicar alguns fatos. Seguindo um ditado hispânico, repetem, como um mantra: no creo en brujas; pero que las hay, las hay.

Outro acontecimento que está gravado no imaginário popular refere-se à possibilidade do exército ter fechado a entrada da maior das cavernas com um portão de ferro. Ninguém confirma se isso realmente aconteceu. Também são incapazes de explicar o motivo dessa ação (se é que ela ocorreu).

Independente da aparição de almas penadas, de fenômenos físico-químicos, ou de outras intervenções (divinas ou humanas), durante algum tempo foi possível frequentar um restaurante que estava situado no alto do morro. A comida e o atendimento eram de boa qualidade – como complemento, uma interessante vista urbana. Por algum motivo (talvez o difícil acesso), essa alternativa turística e gastronômica se perdeu no passado. Ficou apenas a lembrança – assim como a lenda do tesouro.

 

Foto: Antônio Agostinho Vieira

 

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