– A burrice é contagiosa; o talento,
não.
– No dia que tiver uma ideia, morrerá de
apoplexia fulminante.
– Passou a vida correndo atrás de uma
ideia, mas não conseguiu alcançá-la.
– No dia que tiver uma frase de
espírito, despedem-no.
– Há sujeitos muito burros que às vezes
conseguem fazer uma coisa boa. É a faísca da ferradura na calçada.
– Esse político queria estabelecer um
acordo entre os brasileiros, quando não era capaz de estabelecer um acordo do
sujeito com o predicado, numa oração.
– Sempre votou ódio de morte a uma
sisuda senhora chamada Gramática.
– Era um deputado conservador. Seu único
programa político era conservar a sua cadeira na Câmara.
– Cobriram-no de adjetivos poéticos, mas
ele queria apenas um substantivo prosaico: dinheiro.
– Um fauno carecendo de afrodisíaco.
– Inútil como um tenor resfriado.
– Era um pêndulo, oscilando entre a
ignorância e a má fé.
– Sempre indeciso entre o preciosismo e
a vulgaridade.
– Os caminhos da literatura sempre
estiveram cheios de perigosos salteadores.
– Ruminava frases pastando em livros
alheios.
– Há nele um canário e um gato. O gato
sempre querendo comer o canário.
– Fulano nunca esteve nos seus melhores
dias.
– Insultavam-se mutuamente, e ambos
tinham razão.
– Ele era mais preocupado com o estilo
dos móveis que com o estilo de Flaubert.
– Cultivava paradoxos e rabanetes.
– Tinha um estilo mais engomado que
irmãs de caridade.
– Aquele médico, deixando de clinicar,
passou a escrever. Lucraram os doentes, perdeu a literatura.
– Na praia das virtudes, a água é muito
suja.
– A obra é ilustrada; o autor, não.
– Seu livro deveria ser encadernado em
pele de jumento. Coerência com o conteúdo.
– Era um livro raro. Mais raro,
entretanto, era quem o procurasse.
– Dele, só lerei as obras póstumas.
– Irá longe! Foi para Montes Claros.
– Defendia a Polônia nos botequins e
esbordoava a esposa em casa.
– A principal personagem daquele romance
era mesmo o tédio.
– Seu estilo tinha a elegância das burguesas
endomingadas.
– Ele inventou que era inventor.
– Suas estreias eram espetáculos de
despedida.
– Aplaudem porque acabou.
– Era um camelo no Saara das ideias.
– Quanta gente influiu na originalidade
de F.!
– A seca é terrível; mas, pior é certa literatura
provocada pela seca.
– Sarna: uma das poucas distrações que
restam aos pobres.
– Menotti del Picchia, parnasiano,
querendo passar por modernista, lembra atrizes de 70 anos a se fazerem de
ingênuas.
– Ele é mais mentiroso que epitáfio de
cemitério.
– Em 1960, eu era funcionário do
Ministério da Viação e ia ser promovido. O decreto estava lavrado. Mas fui
fazer um discurso para o Aarão Reis, meu chefe, e não me contive. Disse que ele
era “o primeiro dos nossos engenheiros, em ordem alfabética”. Ganhei a frase e
perdi o cargo.
– Tenho uma memória trágica, recordo
tudo. Se houvesse fosfato para diminuir memória, tomava. Às vezes ela dói.
– O Jorge Amado trocou a Gabriela pela
Tereza Batista. É o lenocínio literário.
– O Carneiro Leão entrou para a
Academia. Estranhei: – Até agora os animais tinham entrado de um a um. Dois de
uma vez é demais.
– Não tenho balança de justiça. Tenho
amores e rancores. Tudo em mim é gratidão e vingança.
Agrippino Grieco (1888-1973) foi um
importante crítico literário brasileiro, editor da revista Boletim de Ariel.
Com um estilo virulento, muitas vezes próximo da agressão, demoliu com algumas
pretensões literárias do século XX. Publicou muito, mas o livro que causou maior escândalo foi aquele em que esculhambou com a obra de Machado de
Assis – o que deu motivos para uma interessante polêmica, através dos jornais, com
Afrânio Coutinho e Augusto Meyer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário