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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

... AND THE OSCAR GOES TO...

Todos os anos a história é sempre igual. A síndrome de vira−lata, uma das mais significativas características da nacionalidade brasileira, costuma aparecer em grande estilo.

Como a nossa produção cinematográfica (salvo raríssimas exceções) sempre foi (do ponto de vista qualitativo e financeiro) medíocre, a única chance de obter algum destaque na indústria internacional do entretenimento está em ser contemplado com algum dos prêmios periféricos do Oscar. A bola da vez era a categoria Melhor Canção Original.

Na eterna (e ridícula) disputa contra nuestros hermanos, os argentinos, que ostentam dois prêmios de Melhor Filme Estrangeiro decorando a sala de jantar (História Oficial. Dir. Luis Puenzo, 1985; El secreto de sus ojos. Dir. Juan Jose Campanella, 2009), a imprensa brasileira, seguindo a trilha aberta por uma longa história de sabujismo cultural, pensando na necessidade de compensar o visível complexo de inferioridade que alimentamos diariamente, tentou convencer o Brasil que a dupla "genuinamente" nacional Sérgio Mendes e Carlinhos Brown tinham chances reais de erguerem a taça.

Deram com os burros n’água. Os "nossos" músicos e os jornaleiros. Não foi dessa vez. As araras que queriam substituir o Zé Carioca na imagem colonial que identifica a Republica do Bananão foram superadas pelos Muppets.

Uivando que a música Real in Rio era melhor do que Man or Muppet, incapazes de entender − como manda o script decorado previamente – que é necessário levantar a cabeça, sacudir a poeira e dar a volta por cima, os perdedores não quiseram lamber as próprias feridas. Vão demorar, no mínimo, uma semana para entender o que aconteceu. De qualquer forma, a fila anda, o espetáculo continua. O ano que vem têm mais. Ou menos. Provavelmente mais tolices, menos senso critico.

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A Cerimônia do Oscar, versão 2012, foi de uma chatice inacreditável. Muito pior do que o show costumeiro.

As cenas anteriores a premiação, no tapete vermelho, foram o de sempre, aquele eterno exibicionismo de roupas e jóias, o ridículo característico de nouveau riche. Similar a uma sessão de tortura em Guantánamo, alimentarão as revistas de fofocas por várias edições.

A "festa" propriamente dita foi comandada pelo sádico−mor Billy Cristal, um sujeito que não tem brilho ou humor ou talento ou qualquer outra qualidade aproveitável. Parece um saco vazio. Aquele mesmo que é usado em demonstrações inequívocas de carinho como privação sensorial e water boarding.

Em compensação, Michelle Willians (a viúva de Heath Ledger), que concorria ao prêmio de melhor atriz − e não levou − estava linda, lindíssima. Os fãs mais exaltados se lembraram de Dawson’s Creek, quando a felicidade não era um sonho distante.

O Artista e A Invenção de Hugo Cabret foram os grandes premiados da noite, cinco troféus para cada um. O primeiro, quase sem diálogos, é uma "homenagem" ao cinema pré−histórico. O outro, em 3−D, é uma "homenagem" à modernidade. Os dois, instrumentalizados pela globalização, ambicionam ampliar o faturamento nos mercados europeus (sem se importar com a crise econômica que vigora no outro lado do oceano).

Woody Allen ganhou mais uma estatueta. Como é de costume, não compareceu à cerimônia. Avesso a toda aquela suntuosidade desnecessária, nunca fez questão de esconder que está enfadado por ganhar prêmios secundários. Desta vez deram a ele o de Roteiro Original por Midnight in Paris, um filme mediano, mas que recupera a nostalgia de um tempo que só existe como ficção.

Christopher Plummer, 82 anos, finalmente recebeu um prêmio (Ator Coadjuvante).

De resto, quem gosta de cinema e literatura, ficou com vontade de assistir ao ganhador da categoria Curta de Animação, The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore.

Dizem que o Melhor Filme Estrangeiro, o iraniano A Separação (Dir. Asghar Farhadi) é bom.


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Lista de Prêmios

Melhor filme: O Artista
Melhor ator: Jean Dujardin (O Artista)
Melhor atriz: Meryl Streep (A Dama de Ferro)
Melhor ator coadjuvante: Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)
Melhor atriz coadjuvante: Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)
Melhor diretor: Michel Hazanavicius (O Artista)
Melhor roteiro original: Meia-Noite em Paris (Woody Allen)
Melhor roteiro adaptado: Os Descendentes (Alexander Payne, Nat Faxon, Jim Rash)
Melhor animação: Rango
Melhor filme estrangeiro: A Separação (Asghar Farhadi, Irã)
Melhor fotografia: A Invenção de Hugo Cabret (Robert Richardson)
Melhor edição: Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres (Angus Wall, Kirk Baxter)
Melhor direção de arte: A Invenção de Hugo Cabret (Dante Ferretti, Francesca Lo Schiavo)
Melhor figurino: O Artista (Mark Bridges)
Melhor maquiagem: A Dama de Ferro
Melhor trilha sonora original: O Artista (Ludovic Bource)
Melhor canção original: Os Muppets (Bret McKenzie, "Man or Muppet")
Melhor mixagem de som: A Invenção de Hugo Cabret
Melhor edição de som: A Invenção de Hugo Cabret
Melhores efeitos visuais: A Invenção de Hugo Cabret
Melhor documentário: Undefeated
Melhor documentário (curta): Saving Face
Melhor curta de animação: The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore (William Joyce, Brandon Oldenburg)
Melhor curta-metragem: The Shore (Terry George)





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