O libanês Gibran Khalil Gibran e o egípcio Nagib Mahfuz, prêmio Nobel de literatura em 1988, reverteram um pouco desse panorama. Os livros de Gibran foram muito lidos entre os anos 60 e 70 do século XX. A publicação da trilogia de Mahfuz sobre a vida no Cairo (Entre Dois Palácios, O Jardim do Passado e O Palácio do Desejo) despertou a curiosidade de muitos leitores. E, de certa forma, possibilitou que outros autores de origem árabe fossem traduzidos e publicados no Brasil.
Quem gosta de poesia encontra em Os Poemas Suspensos um clássico indispensável. Aliás, a poesia árabe é de excelente qualidade e já está, em parte, disponível em português, como comprovam as publicações de Livro das Cento e Uma Noites (Histórias árabes da Tunísia), A sombra do Amado (Poemas de Rumi), Poesia Palestina de Combate e a coletânea Poemas, de Adonis.
Contrastando com os estrangeiros, há os árabes brasileiros. A ficção está representada pela prosa densa e lírica de Raduan Nassar (Lavoura Arcaica), além de Milton Hatoum (Relato de um Certo Oriente, Dois Irmãos) e Alberto Mussa (Elegbara, O enigma de Qaf). Mamede Mustafa Jarouche, Safa Abou Chahla Jubran e Miguel Attie Filho, entre outros, representam a faceta acadêmica dos estudos árabes.
Ainda no plano ficcional, um dos pontos altos da ficção brasileira está representado pelo projeto desenvolvido por Adriana Armory e Tatiana Salem Levy: o livro de contos Primos (histórias da herança árabe e judaica). Pelo lado árabe, Alberto Mussa, Carlos Nejar, Eliane Ganem, Fabrício Carpinejar, George Bourdoukan, Luiz Antonio Aguiar, Márcia Bechara, Salim Miguel, Samir Yazbek e Whisner Fraga.
Evidentemente, há outros autores, outros livros. A prosa e a poesia árabes (seja no Brasil, seja no Oriente Médio) são muito criativas – e é um desperdício não conhecer esse manancial de belezas.
EU SOU DE LÁ
(Mahmud Darwich)
Eu venho de lá e recordo,
que nasci como todo mundo nasce, tenho uma mãe
e uma casa com muitas janelas,
tenho irmãos, amigos e uma prisão.
Tenho uma onda marinha que a gaivota arrebentou
tenho uma visão de mim mesmo e uma folha de capim
tenho uma lua passada no auge das palavras
tenho comida divina de pássaros e uma oliveira
além da quilha do tempo
atravessei a terra antes que espadas tornassem
os corpos banquetes.
Eu venho dali.
Eu faço o céu retornar à sua mãe
quando por sua mãe chorar,
e eu choro querendo o retorno de uma nuvem
para me conhecer.
Eu aprendi as palavras de tribunais manchados de sangue
de forma a quebrar as regras.
Eu aprendi e desmantelei todas as palavras
para construir uma única: Lar.
Olá Raul, compartilhei o link desta postagem com minha turma de Árabe (I - CL da FFLCH USP).
ResponderExcluirGosto muito de autores árabes, grata pelas informações.
Ana Afonso: Obrigado!
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