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domingo, 19 de setembro de 2021

CARTA ABERTA AO DUDU

 

Foto: Wladimir Nequesaurt Pereira Neto

Ilustre e ilustrado,

Um amigo comum comunicou-me, via whatsapp, que estamos (eu e você) de relações rompidas. Contestei essa afirmação, pois não me lembro de ter proferido alguma amabilidade a teu respeito ou de ter destacado as virtudes de teus familiares. Mas, obviamente, isso pode ter acontecido, o mundo é um moinho (como cantou Cartola) e (na opinião de uma de minhas irmãs) abuso da pose de artista temperamental. Mítia, o herdeiro de minhas dívidas e dúvidas, é mais sucinto: não passo de um velho. Os dois, unidos em complô contra esse gentleman que sou, concordam que, frequentemente, falta-me delicadeza (um sinônimo sutil para má educação). E que eu costumo esquecer que existem pundonores mais aflorados, menos permeáveis às travessuras da linguagem. Enfim, completam o diagnóstico dizendo que sou um craque na arte do sincericídio. E que isso não é exatamente uma qualidade no contexto social.

Pasmado fico ao ouvir esse tipo de juízo de valor, mas raramente discordo.

Disse-me esse amigo que deveria falar com você sobre o mal-entendido e agitar a bandeira branca na direção das tropas adversárias. Pareceu-me justo, embora eu seja péssimo no exercício da arte de pedir desculpas. Principalmente quando não consigo perceber onde errei – se é que errei.  

Não vou lhe telefonar ou mandar mensagem por redes sociais. Provavelmente, com a sensibilidade de elefante em loja de louças que me atribuem, iria empelotar o angu de vez. É que essa confusão me causou risos. E, infelizmente, nem todos concordam que rir é o melhor remédio. E se você ficou magoado por algo que eu disse (ou não disse), então me cabe tratar a questão com seriedade (mas não muita). Prefiro escrever, que é algo que sei fazer (embora não muito bem). Ao optar pela forma epistolar, que é um meio de comunicação fora de moda e, ao mesmo tempo, sem modos (como comprovou, na recente história da República, o golpista rei das mesóclises), o fiz como uma forma de compartilhar com o distinto público o que deve ser público e distinto. Nada tenho a esconder, exceto o que escondo – e não é pouco, lamento dizer.  

Nesses termos (e em outros mais, pois quem quiser moleza que vá sentar em pudim), cabe-me esclarecer que concordo com Guimarães Rosa, que, através de Riobaldo Tatarana, colocou as coisas em seu devido lugar: A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.

Para não me alongar nesta prosa sem poesia, gostaria de poder reaver a sua presença no mundo virtual (e mais tarde, quando a pandemia e a banda passarem, ao vivo e em cores) para que possamos dar continuidade nas nossas conversas sem pé nem cabeça (juntos com nosso amigo e com quem estiver disposto a nos aturar). Será pedir muito?

Antes das despedidas, o que mais posso dizer? Ah, você me é caríssimo (em parte pela inflação e pelo atual preço cambial do dólar).

Abraços,


Um comentário:

  1. Também não sei o motivo da “ruptura” mas nunca recebi uma carta pública tão delicada e empática. Só me resta apontar minha agressividade para o Wladimir!
    Rabu, nos veremos em breve.

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