A juventude caminha de mãos dadas com a decepção. Esse ensinamento cruel – eventualmente desnecessário, inegavelmente pedagógico − se repete em muitas narrativas contemporâneas. Principalmente naquelas que flertam com algumas variações do romantismo tardio. Centenas de leitores e leitoras, ignorando o masoquismo implícito nesse tipo de situação, sonham em protagonizar alguma espécie de conto de fadas. Tragédias como a de Romeu e Julieta são as favoritas de dez entre dez almas inundadas pelos mais nobres sentimentos.
Ando tão à flor da pele / Qualquer beijo de novela / me faz chorar, canta Zeca Baleiro. Esses versos, por diversas razões, poderiam ser a epígrafe do romance água com açúcar Resposta Certa, escrito pelo inglês David Nicholls. O protagonista, Brian Jackson, tem 18 anos, ótimas notas escolares, uma bolsa de estudos integral para estudar literatura inglesa, nenhum dinheiro e administra – de forma bastante incompetente – todos os defeitos característicos de quem está ingressando na vida adulta. Não bastasse, está mortalmente apaixonado pela belíssima Alice Harbinson, estudante de Artes Cênicas.
Como cabe a esse tipo de narrativa, suas chances de conseguir a felicidade eterna são menores do que zero. O casal – que não é casal – acumula uma tonelada de diferenças, em diversos níveis. Isso não constitui impedimento para Brian. Com a determinação de quem ocupa as horas vagas dando murro em ponta de faca, coleciona hematomas no ego.
Resposta Certa foi escrito com linguagem ágil, poucas descrições e muitos diálogos, o velho esquema do pré-roteiro de cinema. Ao mesmo tempo, e essa é a grande qualidade desse tipo de literatura prêt-à-porter, o autor evita o tom de dramalhão barato, a mistura eterna de lágrimas e desencontros, de impedimentos socioeconômicos e traições ridículas. Assim, em lugar de grandes tragédias, o enredo se concentra no ridículo, no lento e inexorável desmoronamento das encostas que sustentam o afeto, o amor e a paixão.
A parte mais divertida do romance está estruturada nas relações intelectuais e emocionais que envolvem a participação do casal em um programa de televisão sobre conhecimentos inúteis. O Desafio Universitário, em ritmo perguntas e respostas, possui boa audiência na comunidade nerd. E Brian sempre teve como uma de suas metas participar desse show. Desastre é a palavra adequada para descrever os acontecimentos. Em compensação, gargalhadas garantidas para o leitor.
David Nicholls, além de Resposta Certa, também escreveu o best-seller internacional Um Dia – livro que foi destruído pela adaptação cinematográfica (One day. Dir. Lone Scherfig, 2011), com Anne Hathaway (Emma) e Jim Sturgees (Dexter), atores que nem em mil anos de trabalho vão conseguir entender corretamente os personagens que estavam tentando interpretar.
Raul, estou lendo Resposta certa. Como você adora esses romances que afirmam suas convicções. Como disse Machado de Assis na célebre frase profética que você insiste em repetir "todas as histórias de amor acabam mal".Bem, se acabam mal não há porque não nos divertirmos enquanto elas acontecem, mesmo sendo ridículas como as cartas de amor, que à posteriori também produzem gargalhadas. Raul, eu lhe pergunto: Há esperança para os amantes na literatura e por consequência na vida?
ResponderExcluirRafael: sempre há esperanças. Eu acredito nisso. Mas, o amor não é para amadores! Nas artes de cama, mesa e banho, há que ser mais profissional ("Me deito a fumar debaixo da janela./Respiro com vertigem. Rolo no colchão./E sem bravata, coração, aumento o preço.", como escreveu Ana Cristina Cesar). O amor é vertigem, mas também está sob a égide da economia da libido. Sofrer é um verbo digno dos fracos (e, claro, daqueles que escrevem romances sobre fracassos amorosos).
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