Assim como muitos brasileiros, eu não entendo de baseball. Embora nunca tenha confundido home run com touchdown, e saiba a diferença entre arremessadores, rebatedores e apanhadores, para ser sincero, nunca me esforcei para compreender algumas das características do esporte (a empolgação dos fãs, os estádios cheios, as partidas intermináveis).
Invariavelmente, quando vejo os personagens de algum filme jogando, pergunto para mim mesmo: qual é a graça? Não há graça, respondo rápido, sem medo de estar errado. Provavelmente estou errado. Basta lembrar alguns romances (quase todos inéditos no Brasil) que foram escritos sobre o tema.
Centenas de filmes sobre baseball povoam o imaginário hollywoodiano. Campo dos Sonhos (Field of Dreams. Dir. Phil Alden Robinson, 1989), com Kevin Costner, e o divertido Sujou, Chegaram os Bears (Bad News Bears. Dir. Richard Linklater, 2005), com Billy Bob Thornton, para citar dois que fizeram relativo sucesso no Brasil, bastam para estabelecer uma dimensão que, de uma forma ou de outra, poderia ser comparada com o futebol.
O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball. Dir. Bennett Miller, 2011), baseado no livro Moneyball: the art of winning an unfair game, escrito por Michael Lewis, parece ser mais um filme sobre um esporte chato, desses (filmes, esportes) que gostam de utilizar o corpo semi−vestido de algum galã para aumentar a bilheteria. Não é o caso. Embora pouco faça para dissipar essa ideia. A foto do Brad Pitt na capa do DVD ajuda a vender a mercadoria.
O raciocínio do baseball é medieval. Estão fazendo as perguntas erradas, afirma o personagem Peter Brand (interpretado por Jonah Hill), criticando olheiros e dirigentes esportivos. Formado em Economia, em Yale, uma das cinco melhores universidades estadunidense, Peter é o responsável pela análise estatística do desempenho dos jogadores do Oakland Athletics, equipe que fracassou na temporada de 2001 da Major League Baseball. Foi contratado por Billy Beane (Brad Pitt), gerente geral da equipe, que, não tendo dinheiro para reconstruir o time com jogadores de qualidade, resolve apostar em outro método de trabalho.
Nosso problema é que existem os times ricos e os pobres. Depois, tem 15 m de merda. Só depois é que somos nós. Essa análise (elementar para quem está de olho no capitalismo predatório) motiva a mudança. Billy, um jogador fracassado, quer obter mais vitorias com menos dinheiro. Por isso aceita usar a tecnologia e a matemática como ferramentas de análise. Maluco é o melhor elogio que recebe. Ninguém consegue entender porque ele desprezou alguns jogadores de qualidade e, sem mais nem menos, contratou um bando de jogadores medianos, alguns machucados, outros desconhecidos. Poucos conseguem visualizar que uma quantidade considerável de vitorias são obtidas fora do campo, antes mesmo do início da partida.
Sempre olhando para as estatísticas, Billy e Peter vão mudando o jogo. Tanto que, após um início bastante tumultuado, o Oakland Athletics escreve o seu nome na História. Venceu vinte partidas seguidas. É um recorde, é uma maldição. Perdem a partida seguinte, que é eliminatória, e, junto, dizem adeus à chance de disputar as finais.
O primeiro cara a derrubar a parede sempre acaba ensanguentado, afirma um dos dirigentes do Red Sox, quando fez uma proposta irrecusável de trabalho para Billy Beane. Como Billy não estava procurando por dinheiro, recusou – vencer não é tudo, parece ser a lição. Parece. Não o é. A lição é outra. E bem menos edificante.
PS: O espectador brasileiro com algum senso critico, ao final do filme, não deixará de fazer a inevitável comparação com a maneira amadora - e sem amor - com que alguns esportes (baseball, basquete, futebol,...) são administrados. De forma grotesca, interesses pouco esportivos geram fenômenos absurdos (como jogadores super−valorizados, completamente inacessíveis para equipes com menor lastro econômico) e invalidam a paridade entre as diversas equipes que disputam as competições. Dinheiro é o deus que rege os esportes.
Não só os esportes. Dinheiro é o Deus que rege o mundo.
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