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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

NELSON RODRIGUES: CINQUENTA F(R)ASES (I)MOR(T)AIS

Não há um único e escasso personagem de romance, neste País, que saiba cobrar um escanteio.

A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.

Invejo a burrice porque é eterna.

O dinheiro compra até o amor verdadeiro.

O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da imaturidade.

Todo tímido é candidato a um crime sexual.

O casamento já é indissolúvel na véspera.

O gozo é uma mijada.

Só acredito nas pessoas que se ruborizam.

Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.

Há na aeromoça a nostalgia de quem vai morrer cedo. Reparem como vê as coisas com a doçura de um último olhar.

Com sorte, você atravessa o mundo. Sem sorte, você atravessa a rua.

Deus está nas coincidências.

Sou contra a pílula, e ainda mais contra a ciência que a inventou; a saúde pública que a permite; e o amor que a toma.

O brasileiro, quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte.

Deus só freqüenta as igrejas vazias.

A cama é um móvel metafísico.

Amar é ser fiel a quem nos trai.

Todas as mulheres deveriam ter catorze anos.

Assim como há uma rua Voluntários da Pátria, podia haver uma outra que se chamasse, inversamente, rua Traidores da Pátria.

A liberdade é mais importante do que o pão.

A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.

As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado.

Toda unanimidade é burra.

Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.

O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.

Não acredito em honestidade sem acidez, sem dieta e sem úlcera.

A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.

Considero o filho único um monstro de circo de cavalinhos, um mártir, mártir do pai, mártir da mãe e mártir dessas circunstâncias. As famílias numerosas são muito mais normais, mais inteligentes e mais felizes.

A Europa é uma burrice aparelhada de museus.

Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista.

A platéia só é respeitosa quando não está entendendo nada

Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância.

O que dá ao homem um mínimo de unidade interior é a soma de suas obsessões

A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: – o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.

Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.

A prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que, devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável
fronteira.


O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca.

Toda mulher gosta de apanhar. Só as neuróticas reagem.

Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura.

Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho, melhora.

No Brasil, só se é intelectual, artista, cineasta, arquiteto, ciclista ou mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas.

Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.

O padre de passeata é hoje, uma ordem tão definida, tão caracterizada como
a dos beneditinos, dos franciscanos, dos dominicanos e qualquer outra. E está
a serviço do ódio.

Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos
bondes que não chegam nunca.


Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar de batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um são Francisco de Assis, com a luva de borracha e um passarinho em cada ombro.

As grandes convivências estão a um milímetro do tédio.

O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. É abjecto que um homem deseje a mãe dos seus próprios filhos.

Outrora, o remador de Ben-Hur era um escravo, mas furioso. Remava as 24
horas por dia, porque não havia outro remédio e por causa das chicotadas.
Mas, se pudesse, botaria formicida no café dos tiranos. Em nosso tempo, o
socialismo inventou outra forma de escravidão: a escravidão consentida e
até agradecida.


Toda a história humana ensina que só os profetas enxergam o óbvio.

Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns morrem de fome, outros vivem dela, com generosa abundância. Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas  de ambos os sexos.

O "homem de bem" é um cadáver mal informado. Não sabe que morreu.

Um comentário:

  1. to copiando teu post......não fique bravo, vou colocar a (minha/sua) referencia

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