Em uma das cenas do filme "Antes que o mundo acabe" (Dir. Ana Luiza Azevedo, 2009), Daniel, um adolescente de 15 anos, enumera o que está acontecendo de errado em sua vida:
− Meu melhor amigo está sendo acusado de ladrão por minha causa, tem um cara ai que diz que é meu pai e roubaram minha bicicleta.
O padrasto, interlocutor desse desabafo, responde:
− Nesse caso só há uma coisa a fazer: pão.
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Um enorme pão feito em casa. Esse foi um dos melhores presentes que recebi em toda a minha vida. Lembro que a dádiva estava acompanhada de um bilhete. Com frases simples e emocionantes, D. Dilma mencionava um texto que eu havia escrito algum tempo antes. Lá havia alguma referência sobre o quanto gosto de pão feito em casa.
Diante do presente, fui tomado por uma fome (litúrgica) que só aumentou (em muito) o sabor do alimento. Em um mundo em que o egoísmo e a falta de solidariedade imperam, atos de fraternidade são muito raros. Então, receber um pão de presente, ou melhor, saber que há pessoas que praticam o "repartir o pão", foi uma lição de vida ou um poema – em determinados momentos é quase a mesma coisa.
Pães e poemas, assim como a água translúcida dos mananciais, são formas de relatar o que há de prazer, solidariedade e contentamento no mundo.
Li o bilhete, comi o pão. Guardei a lembrança desses dois episódios (que nada fiz para merecer) como provas inequívocas da beleza intangível que, às vezes, nos momentos mais inesperados, derrubam os muros de exclusão que construímos em volta de nós mesmos.
Queria poder agradecer. Queria. Essa talvez seja a tarefa mais difícil de ser realizada. Diante da impossibilidade de transmutar as palavras em afeto, beijos e abraços, somente sobrou a tentativa retórica de sintetizar minhas emoções em uma palavra: Obrigado.
Raul, aqui é Cecilia Ghiorzi, sobrinha da Dilma. Fiquei com inveja, pois moramos em Porto Alegre e não posso comer sempre desse pão maravilhoso desse pão Adorei o texto e já li outros deste blog também. Minha filha faz jornalismo, meu pai também escreve e todos lemos muito. Por isso estou acostumada a textos e os teus são muito bons.A gratidão e reconhecimento de que fomos alvo de algum carinho também são tão importantes quanto o gesto da dádiva. Sucesso e abraços. Cecilia
ResponderExcluirCissa: Obrigado pelo carinho e pela leitura dos meus textos. Beijos!
ResponderExcluirRaul:
ResponderExcluirIdentifiquei-me com o simbolismo apresentado por
"pães e poemas" como manifestações de afetos. Até mesmo porque ambos alimentam; o corpo /ou a alma. Alimentam o que há de mais humano em nós.
Belíssima mensagem. Parabéns!
Vanda: Obrigado!
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