Entre os pensadores que praticaram o marxismo (variações, derivações, interpretações), sempre tive um fascínio muito especial por Walter Benjamin.
Autor de uma obra extremamente criativa e múltipla (com destaque para a sociologia da literatura), Benjamin era filho de um comerciante judeu que faliu com a ascensão de Hitler ao poder.
Sem muitas chances de sobreviver como filósofo (literalmente), Benjamin passou uma boa parte de sua vida escrevendo por encomenda (e sendo muito mal pago) para o Instituto de Pesquisas Sociais (leia−se "Escola de Frankfurt"). Vítima do policiamento ideológico e sádico de Theodor Adorno (tão opressor quanto o dos fariseus nazistas), Benjamin teve que superar grandes dificuldades nos últimos anos de sua vida. Suicidou−se em 1940, em Port Bou, um lugarejo na fronteira entre França e Espanha.
Entre os textos de Benjamin, tenho particular predileção por um conjunto de fragmentos chamado "N° 13", publicado originalmente no livro "Rua de mão única". No Brasil, esse texto integra o volume II das Obras Escolhidas (Editora Brasiliense, 1987, p. 33 e 34).
Nesse conjunto de aforismos, Benjamin trabalha com algumas variações comparativas entre livros e prostitutas. A primeira delas me parece mais interessante do que as outras:
I. Livros e putas podem−se levar para a cama.
Contrariando prováveis sutilezas filosóficas que por ventura estejam escondidas entre oito palavras (inclusive duas vogais!), nunca imaginei que alguém pudesse discutir a clareza dessa afirmação. Claro que, nesses tempos neoliberais do politicamente correto e de feminismos xiitas, não podemos deixar de garantir o devido desconto proporcionado pela noção asséptica de que a prostituição é uma profissão tão desonesta quanto qualquer outra e que, embora toda puta seja mulher (ou assim deveria ser), a população feminina não é (e nunca foi) constituída por putas.
Conta o folclore que, certa vez, durante o lançamento da primeira edição de seu livro de memórias, "A lanterna na popa", o ex−Ministro da Fazenda Roberto Campos ouviu a reclamação de que o livro (1417 páginas!) era pesado demais para ser lido na cama.
Roberto Campos (que, incidentemente, detestava os marxistas e, na vida pratica, tinha um senso de humor peculiar), indignado com aquilo que considerou uma falta de tato de seu provável leitor, emitiu um contra−aforismo:
Quem tem imaginação leva para cama uma mulher. Quando a imaginação é muita, a amante. Somente alguém sem imaginação carrega para lá um livro.
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