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segunda-feira, 12 de março de 2012

LIÇÃO DE AMOR (AMAR, VERBO INTRANSITIVO)

Aventura de final de semana. Revisitar Lição de Amor (Dir. Eduardo Escorel, 1975), a adaptação do romance Amar, Verbo Intransitivo, de Mário de Andrade. Filme de baixo orçamento (as cenas se limitam ao jardim ou dentro da casa. O mundo externo foi eliminado). Cinema artesanal − sem os truques baratos de edição que garantem boas bilheterias. Câmara parada e o uso frequente de campo e contra−campo. A dramaturgia do cinema. Parece teatro filmado, algumas cenas mostrando problemas nas soluções de continuidade, a mudança de posição da câmera e o reinicio da cena no ponto interrompido. Lilian Lemmertz, Rogério Fróes, Irene Ravache.

Década de 20 do século 20. Fräulein Helga, a nova governanta, ensina alemão para os herdeiros da família Sousa Costa. Felisberto, o patriarca, preocupado com os perigos do mundo, além de querer definir a sexualidade do filho mais velho, que vai fazer dezesseis anos, contrata Fräulein para ensinar a Carlos a arte do amor. Laura, a esposa, desconhece esse acordo (mais tarde, quando descobre a trama, aceita participar da hipocrisia burguesa).

Carlos é um garoto que ainda não efetuou a transição entre a infância e a adolescência. Implica com as irmãs, joga futebol, desconhece os interesses que movem o mundo. Com o passar do tempo, começa a perceber os atrativos da mulher mais velha. O desejo vai se insinuando entre os dois, minando resistências, instilando vontades. Nas aulas de alemão, um idioma áspero, brota a suavidade da excitação amorosa. Pretextando um melhor ensino da lição, em diversas oportunidades, a professora pega na mão do rapaz. Ele se retrai. Como no jogo entre gato e rato. Logo depois, a mesma situação. Mas, com outro desfecho. No início, beijos e abraços. Depois, a exigência do macho: quer visitá−la no quarto. Nada que o espectador não conheça: o amor sendo confundido com sexo, o sexo sendo substituído pelo amor.

Quando considera que sua tarefa pedagógica está completa (ou perigosamente próxima da dependência afetiva), Fräulein combina com Felisberto a ruptura. Uma noite, quando o rapaz vai visitar a amante, o pai efetua o flagrante – e, em nome da moralidade e dos bons costumes, se declara indignado com tanta indecência. Afinal, aquela é uma casa de respeito.

O rapaz reage como um menino. Cheio de culpa, chora, grita, se declara apaixonado. Quer continuar usufruindo do brinquedo. Fräulein vai embora, oito contos de reis na bolsa, um pouco apreensiva (talvez por ter gostado um pouquinho de Carlos, talvez por não se sentir bem em precisar repetir, logo depois, a mesma situação incomoda: seduzir algum outro garoto tolo).

Uma cena do filme é interessante. A família se reúne no jardim para alguns "instantâneos". Diante da câmara, a unidade familiar é simulada nas reproduções em papel fotográfico. Por alguns segundos parecem estar juntos, unidos, a filha da cozinheira fazendo companhia às "patroinhas". Provavelmente, quando as fotografias em preto−e−branco começarem a ganhar a tonalidade sépia, todo esse arranjo se mostrará artificial e insosso.

P.S. 1) De maneira enviesada, por força do constructo ficcional ou do caráter de Bildungsroman (romance de formação) que permeia as duas narrativas, não há como negar (em alguns trechos) a aproximação entre os filmes Lição de Amor e O Leitor (Dir.Stephen Daldry, 2008), entre os romances de Mário de Andrade (Amar, Verbo Intransitivo) e de Bernhard Schilink (Der Vorleser).

P.S.2) Lição de Amor não teria muitas chances de ser produzido nos dias de hoje. A chatice politicamente correta provavelmente gritaria contra o "abuso" que é mulheres mais velhas seduzirem homens mais jovens (ou com idade abaixo da maioridade jurídica).

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