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sexta-feira, 30 de março de 2012

MACHADO DE ASSIS EM TRINTA FRASES POUCO CONHECIDAS (E CINCO GRAVURAS DE JEAN-BAPTISTE DEBRET, 1768-1848)

− A monotonia é a morte. A vida está na variedade.

− (...) a paciência é a gazua do amor.

− Quando a gente se aborrece dos homens toma sempre a afeição dos animais, que têm a vantagem de não discorrer nem intrigar.

− Mas quem pode adivinhar o mal, quando nos apresentam uma fisionomia risonha?

− As pequenas dívidas são aborrecidas como moscas. As grandes, logicamente, deviam ser terríveis como leões, e são mansíssimas.

− Olha, há Penélopes da virtude e Penélopes do galanteio. Umas fazem e desmancham teias por terem muito juízo; outras as fazem e desmancham por não terem nenhum.

− Há casos em que a indignação silenciosa é o mais eloquente comentário.

− Caí da poltrona; não me dividi fisicamente, como me parecera em criança; mas moralmente desdobrei−me em dois, um que imprecava, outro que gemia.

− Corrupção escondida vale tanto como a pública; a diferença é que não fede.

− Os acontecimentos parecem−me com os homens. São melindrosos, ambiciosos, impacientes, o mais pífio quer aparecer antes do mais idôneo, atropelam tudo, sem justiça nem modéstia...

− Não há mal que não traga um pouco de bem, e por isso é que o mal é útil, muita vez indispensável, alguma vez delicioso.

− Não falava de amor, mas perseguia−a com os olhos, e ela, por mais que afastasse os seus, não podia afastá−los de todo.

− (...) preferi dormir, que é um modo interino de morrer.

− Creio que é ambicioso; mas na idade em que está, sem carreira, a ambição vai−se−lhe convertendo em inveja.

− Nada havia de novo naquelas cento e oitenta páginas, senão a letra do autor.

− Dissera−se que a alma da moça era uma espécie de comediante que recebera da natureza ou da fortuna, ou talvez de ambas, um papel que a obrigava a mudar constantemente de vestuário.

− Há coisas que só se aprendem tarde; é mister nascer com elas para fazê−las cedo. E melhor é naturalmente cedo que artificialmente tarde.

− Mete dinheiro na bolsa – ou no bolso, diremos hoje, e anda, vai para diante, firme, confiança na alma, ainda que tenhas feito algum negócio escuro. Não há escuridão quando há fósforos. Mete dinheiro no bolso. Vende−te bem, não compres mal os outros, corrompe e sê corrompido, mas não te esqueças do dinheiro, que é com que se compram os melões. Mete dinheiro no bolso.

− A ciência e a consciência, eis as duas condições principais para exercer a crítica.

− E ambos pararam a distancia, tomados daquele invencível desejo de conhecer a vida alheia, que é muitas vezes toda a necessidade humana.


− Sua alma era uma fonte de duas bicas, vertia mel por uma e vinagre pela outra.

− Era atrevido por causa de uma sombrinha de amor−próprio, que não tolerava a menor picada.

− A banalidade repete−se de século a século, e irá até à consumação dos séculos; não é folha que perca o viço.

− O ruído não é eloquência.

− (...) À noite, entre um beijo e um bocejo, o marido e a mulher abrem um para o outro a bolsa das confidências.

− A beleza é como a bravura; vale mais se não a metem à cara dos outros.

− (...) sem pecadores não há inferno, nem purgatório, e sem esses dois lugares o céu valeria menos.

− O conto do vigário é o mais antigo gênero de ficção que se conhece. A rigor, pode crer−se que o discurso da serpente, induzindo Eva a comer o fruto proibido, foi o texto primitivo do conto.

− A impunidade é o colchão dos tempos; dormem−se aí sonos deleitosos.

− Mas, como entre nós, não é comum dizer coisas novas, nós nos contentávamos com repetir verdades velhas, mas triunfantes do tempo.

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