(...) o sol brilha para você ele disse no dia em que estávamos deitados entre os rododendros no topo de Howth com aquele terno de tweed cinza e seu chapéu de palha o dia em que eu fiz ele se declarar a mim sim primeiro eu lhe dei um pedacinho do bolo de sementes aromáticas que eu tinha na minha boca e era ano bissexto como agora sim 16 anos atrás meu Deus depois daquele beijo longo em que eu quase perdi a respiração sim ele disse que eu era uma flor da montanha sim agora somos todas flores todo corpo de uma mulher sim isso foi uma coisa verdadeira que ele disse em sua vida e o sol brilha para você sim foi por isso que eu gostei dele porque eu vi que ele compreendia ou sentia o que uma mulher é e eu sabia que eu poderia sempre contorná−lo e eu lhe dei todo o prazer que pude levando−o a que me pedisse que dissesse sim (...).
Ulisses, James Joyce
Marcela amou−me durante quinze meses e onze contos de réis.
Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis
Bem, isto é magnífico! exclamou Alice. Nunca esperei ser uma Rainha tão cedo... e, vou lhe dizer uma coisa, Majestade, continuou num tom severo (sempre gostava de ralhar consigo mesma), não convém de maneira alguma você estar esparramada na grama desse jeito! Rainhas devem ter dignidade!
Através do Espelho e o que Alice Encontrou Lá, Lewis Carrol
Fechas a porta e começas a me beijar−me, primeiro os olhos, depois o lóbulo da orelha, depois o pescoço, enquanto os teus dedos me abrem a camisa e me procuram os seios. Beijamo−nos de olhos abertos, como sempre, e é de olhos abertos que procuro cada uma das novidades do teu corpo, os sítios onde a tua pele se dobra, o cheiro agora mais adocicado do teu sexo. Entramos um no outro de olhos abertos, como se mergulhássemos num mar de silêncio e fogo escuro. A meio da noite peço−te que me deixes ficar contigo um mês − "só um mês, prometo. Posso?" Não me respondes, claro. A não ser que os beijos sejam uma resposta, e eu preciso de acreditar que sim. Preciso dessa vida verdadeira que escondi debaixo da tua pele, antes que o cabelo me caia, antes que comecem os enjoos e as dores, antes que o meu corpo seja tomado pelo cheiro miserável da doença. Talvez para morrer eu precise do amor e da família. Mas para acabar de viver, só preciso de ti, desta febre azul a que os outros chamam só sexo.
Só Sexo, Inês Pedrosa
Aproximei−me dela o mais espontaneamente que pude, e perguntei em inglês se ela falava a minha língua (inglês, o que só me fez relembrar de súbito o quanto eu era um grandissíssimo nada nos aeroportos do vasto mundo onde minha língua nativa nada era).
− Yes, madam – respondeu, por trás do véu, num estágio intermediário entre o respeito e o nada.
Chocada com que tivesse falado assim tão simplesmente, alto e bom som, chocada pelo madam de princesa com que me tratara, inventei de perguntar se ela sabia onde ficava a toalete, que eu não vira placas.
− Yes, madam – e me indicou onde era, no mesmo estágio, sob o mesmo véu inalterado.
Agradeci, voltei praticamente feliz ao meu lugar, pela ousadia que eu tivera, a audácia, e a normalíssima gentileza dela: madam, ela me tratara. Feliz com que tivéssemos uma identidade, aquele código secreto em língua estrangeira, das mulheres tão diferentes que éramos.
Meu marido então vinha voltando, um jornal debaixo do braço e empurrando um daqueles carrinhos de carregar bagagens. Dei uma boa risada, gostando de ver como ele me surpreendia. Ele riu também, pondo nossas duas malas no carro. Esqueci−me de Adama por um instante e pulei no pescoço dele, beijando−o duas vezes no rosto. Ou talvez eu nem tenha me esquecido de Adama, e tenha na verdade desejado mostrar a ela que naquele momento eu aceitava, quase resignada, não saber por que eu tinha me casado justamente com ele, que nem sempre me via. Talvez eu tenha desejado confidenciar a ela que de noite, quando eu acordasse no meio da noite, uma de minhas pernas estaria entre as dele, no lugar onde eu mais gostava de dormir, no meu abrigo mais valioso.
Fomos saindo ele e eu para nosso próximo embarque. Mas eu não me esqueceria de virar para trás e dizer a ela:
− Goodbye.
Ela tirou o véu e respondeu, sorrindo:
− Goodbye, madam.
E ela era tão linda. E foi o mais lindo sorriso de mulher que já me deram.
Muslim: Woman, Marilene Felinto
O Rui me ama de paixão. Eu faço por merecer. Sei agradar um homem, sem nunca ter aprendido.
Ontem um amigo dele veio visitá−lo.
− A senhora é mãe do Rui? – perguntou ao me ver.
− Mãe, o cacete – respondi atordoada. – Sou a mulher que dorme com ele, que faz a comida dele, que cuida da roupa dele, da casa dele.
− Praticamente uma mãe – o cínico completou.
− Deus me livre ser mãe do Rui. Mãe é uma desgraça na vida de qualquer pessoa. Mãe não deixa a gente ser feliz.
O moço ficou assustado e pediu desculpas.
Quando ele foi embora, perguntei pro Rui se ele me via como mãe, mas ele disse que não, nunca!
− Até porque, eu gosto muito da minha mãe. Não tenho problema algum com ela – ele disse me beijando a boca com o ardor de sempre.
Mãe, o cacete, Ivana Arruda Leite
Ele me cortejou como ninguém, declarou. (Pois a um homem a quem uma mulher permite que lhe dê prazer, ela perdoa tudo).
Toda Lana Turner tem seu Johnny Stompanato, Sônia Coutinho
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