Lendo uma das maravilhosas crônicas que Elif Batuman escreveu, em Os Possessos (aventuras com os livros russos e seus leitores), descubro que Sófia Andréievna, esposa de Liév Nikolaivitch Tolstoi, era ailurofóbica. Quem é que sabe o que é ailurofobia? Eu não. No Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa não encontro o seu significado. Talvez seja uma palavra russa, idioma que – pelas dificuldades − sempre me pareceu grego. Conheço, no máximo, uma meia dúzia de palavras da língua eslava (Nyet, Da, Spasibo,...). Eis o impasse, disse para mim mesmo.
Poderia continuar a leitura e intuir o significado da palavra. No entanto, seguindo essa estranha obsessão que chamam de curiosidade, consultei uma meia dúzia de dicionários. Continuei ignorante. Foi no The Concise Oxford Dictionary que encontrei um indício da resposta: (f. Gk ailouros cat + o). A vida é engraçada: precisei dar várias voltas para descobrir que a solução era grega!
A língua portuguesa é uma colcha de retalhos. Poucas são as palavras autenticamente portuguesas. Aos alunos, recomendo aprender prefixos, sufixos e radicais gregos e latinos. Esse atalho provavelmente os ajudará a se tornarem bons leitores. Um mínimo de conhecimento de árabe também é importante. No Brasil, saber o básico de algumas línguas indígenas e africanas é metade do caminho para o conhecimento.
Aprender, apreender, os significados das palavras é uma forma de brincar com a vida, de levar para longe as brigas com o conhecimento, de deixar para trás a escuridão e a ignorância. Assim como gostaríamos de saber a origem das coisas que nos rodeiam, também deveríamos querer conhecer a origem das palavras, sua história, sua evolução. Como diz mestre Mansur Gueiros, as palavras não se separam das coisas que elas evocam.
Mas, para quem não gosta de dicionários ou da pesquisa etimológica, o conhecimento pode ser adquirido de maneira divertida. Nos vários volumes de O Pulo do Gato, de Márcio Cotrim, há explicações sobre a origem e o significado de centenas de palavras e expressões utilizadas diariamente. São quatro ou cinco livros para os momentos de descontração. Basta deixar a neurose de lado e consultar um ou outro verbete. Com bom humor, descobrimos a história de palavras e expressões como açougue, maionese, sangue azul, catupiry, favas contadas, erro crasso e muitas outras.
A Vida íntima das palavras, do Deonísio da Silva, é compilação de alguns verbetes de uma coluna publicada na revista Caras − onde o ilustre escritor distribuiu um pouco de cultura aos pseudo−burgueses semi−letrados que oprimem os trabalhadores brasileiros. Quem quiser saber o que significa ósculo, fuste, cacunda e a diferença entre cachê e michê precisa ler o livro de Deonísio.
No combate contra a xenofobia que nos aflige diariamente, as crônicas de What língua is esta?, escritas por Sérgio Rodrigues, são top! Desconstruindo as noções conservadoras de alguns gramáticos, o texto mostra o poder da transformação linguística que está ocorrendo diariamente ao nosso redor.
Na eterna luta entre o português de Portugal e o português brasileiro, o imperdível Schifaizfavoire, do Mário Prata, nos mostra, de forma bem−humorada, o quanto, entre peúgas e alcatifas, os dois países estão separados.
De qualquer forma, para quem quer se aprofundar no assunto há bons dicionários de etimologia no mercado editorial. Um dos melhores é o de Antônio Geraldo da Cunha.
Quando descubro o significado de uma palavra (por exemplo, ailurofobia, detestar gatos) sou tomado pelo entusiasmo (derivação do grego clássico entheos, estar com Deus).
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