Depois de muito protelar, fui ao cinema ver Os Vingadores. Para agregar algum valor à aventura, sessão 3D. Perdi tempo e dinheiro. No mínimo. Para ver mais do mesmo bastava ir até a locadora e alugar um dos trezentos e oitenta e nove farvestões tecnológicos que estão encalhados nas prateleiras. Salvo um ou outro (d)efeito especial, Os Vingadores não acrescenta um milímetro à fórmula cansada e ultrapassada dos blockbusters – aqueles que fazem a alegria, digo, a fortuna dos produtores de Hollywood.
Essa história de super−heróis que se divertem salvando o mundo não consegue mais me divertir. Mesmo assim, revelando teimosia e vontade consciente de regressar a infância e à adolescência, assisti a quase todos os filmes do gênero (X−Man, Batman, Homem−Aranha, Super−Man, Hulk, Homem de Ferro, Quarteto Fantástico). Detestei Lanterna Verde, Besouro Verde, Speed Race (que ainda hoje me parece ser um desenho excelente), e muitos outros empreendimentos comerciais dispostos a destruir as (boas) lembranças que tenho das histórias em quadrinhos.
Também encarei o escurinho do cinema para assistir aos filmes de aventuras derivados da literatura (Harry Potter, Sherlock Homes, Senhor dos Anéis).
Sempre fui tomado, ao deixar as salas de cinema, pela sensação de que alguma coisa se perdeu no meio do caminho que separa o prazer de ler e a decepção de ver o filme.
A turma do "deixa disso" costuma dizer que esse tipo de confusão mental é normal em quem não consegue entender que o cinema possui uma gramática própria. Provavelmente eles estão com a razão, embora "conversa pra boi dormir" também esteja incluída no cardápio das ilusões perdidas nessa selva que o capitalismo teceu ao redor dos indivíduos. De minha parte, depois de pensar uns dois minutos (ou menos) sobre o assunto, conclui que o cinema é uma arte predadora. Dessas que, no espírito antropofágico do a−pós−o−modernismo, sentem redobrado prazer em cuspir na cara dos ignorantes bons pedaços de cultura pop, mastigada e sem sabor. O que muda (quando muda) é a embalagem. A essência continua corrompida e frágil – pronta para ser golpeada outras vezes pelos piratas da mediocridade.
Para evitar grandes decepções e cenas histéricas, as adaptações deveriam ser evitadas. Afinal, cinema bom é cinema autoral. Quer dizer, mais ou menos. Centenas de vezes, menos. Muito menos do que seria justo se festivais como Sundance não tivessem virado a casaca e entregado os pontos para um adversário inescrupuloso e imoral. De qualquer forma, a grande aventura artística está em abrir mão de ser ancorado por algo que o deus mercado abençoou. A grande sacada é inovar – infelizmente, quando há dinheiro em jogo, ninguém deseja ser criativo.
Retomando a ponta solta da discussão, imagens de videogame fazem a alegria do público. Se estivessem sendo lançados atualmente, filmes como Casablanca (Dir. Michael Curtis, 1942) ou Manhattan (Dir. Woody Allen, 1979) provavelmente seriam grandes fracassos (de público e de crítica). Quem quer ver filmes onde não há violência explícita ou o derramamento de litros de sangue? Quem pagaria para ver historias (confusas) de amor em que os finais são o suprassumo da ambiguidade?
Em ritmo machadiano, cabe perguntar: mudou o cinema ou mudei eu? Provavelmente não há uma resposta correta. O que há é o desencontro.
Livros são livros...viajamos neles, criamos uma atmosfera de sonho em torno deles que só a nós pertence. Qdo assistimos o filme, vem a decepção...cadê aquela atmosfera? Cadê nossos sonho? Ele é só nosso...não pertence às telas de cinema. Vc descreveu o que sempe senti ao sair do cinema( sempre mesmo) depois de ter apreciado um excelente livro e ter caído na besteira de assistir o filme feito a partir dele... "Sempre fui tomado, ao deixar as salas de cinema, pela sensação de que alguma coisa se perdeu no meio do caminho que separa o prazer de ler e a decepção de ver o filme.
ResponderExcluirJeanne: concordo contigo! Beijos!
ExcluirAssisti a Os Vingadores e me diverti muito. Vi para nunca mais ter de ver de novo. Estes filmes são assim, divertidos e descartáveis.
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