Páginas

quinta-feira, 26 de maio de 2011

APAIXONADO

Alguns anos atrás, em uma de suas crônicas, Danuza Leão fez uma dessas perguntas que incomodam: "Há quanto tempo você não ouve alguém declarar, com todas as letras, que está perdidamente apaixonado?"

Passo em revista, mentalmente, a vida de meus amigos. Todos eles, em algum momento, estiveram casados, tiveram filhos, se separaram. Alguns casaram outra vez, tiveram outros filhos, mas... Qual deles esteve – ou está – apaixonado? Não sei. Provavelmente nunca saberei. Homens não confessam para outros homens suas fraquezas.

Outro lado da questão: tive um amigo que não suportava viver sozinho. Casou várias vezes. Umas quatro ou cinco. Toda vez que o calor abrasador da paixão se transformava em cinzas, dava a volta por cima e ia à luta. Não se constrangia em procurar, outra vez, pela felicidade (ou algo que suprisse a solidão). Onde? Ora, para essas coisas não existem "receitas de bolo" – e é isso que dá sentido à procura.

E o que pensam do assunto minhas amigas? Amigas? Desculpem−me, mas tenho poucas "amigas". Somente depois dos 40 anos é que considerei as mulheres do ponto de vista da amizade. Não sabia o que estava perdendo. Minha educação sentimental (até aquele momento) era puro preconceito masculino: homens e mulheres só são amigos quando os homens não "gostam" de mulheres.

As mulheres são melhores interlocutoras do que os homens. Principalmente nesses assuntos espinhosos, constrangedores, que são as relações afetivas. Costumam pensar com o coração – e não se abalam com isso. Sabem que o amor não é (nunca foi) um privilégio dos adolescentes, não é um território hormonal. Sabem que a capacidade de negar esse sentimento é a incapacidade de ter sentimentos.

Mesmo assim, há um bloqueio. No mundo em que vivemos, onde o ego está alguns degraus acima dos valores coletivos, compartilhar é phoda. E, como se não bastasse, há o grande impasse: o medo de que elas, as mulheres, exponham a fragilidade masculina, oferecendo alguma resposta à pergunta formulada no primeiro parágrafo.

A minha experiência pessoal nesse tema é ridícula. Mas como entrei nesse labirinto por livre e espontânea vontade, como estou a desenrolar o fio de Ariadne, nada mais me resta senão "pagar o mico". Em determinado momento de minha vida, estive intensamente apaixonado – não estou mais. Acabou. Como naquele poema de Vinicius de Moraes, posto que fosse chama, foi infinito enquanto durou.

A pergunta feita pela Danuza Leão ainda é uma incógnita. O que será que está faltando? O que será que os homens e as mulheres estão tentando esconder? Como uma pergunta não deve ser respondida com outra(s) pergunta(s), só resta lembrar – e concordar com – a resposta que a cronista dá à própria pergunta: "faz séculos que não ouço alguém declarar, com todas as letras, que está perdidamente apaixonado".

2 comentários:

  1. A paixão e tão passageira, e como um ladrão que entra pela janela da vida...um sentimento impetuoso... Falar do amor sim e gostoso...Amor com asas que vai mais volta.E o amor em todas suas faces nos aconchega nos leva com leveza.O amor e a ferida que cicatriza e o fogo que não arde e a bondade se maldade...

    ResponderExcluir