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quarta-feira, 25 de maio de 2011

A GENIALIDADE DE MALINVERNI FILHO


Traço inimitável, domínio absoluto das cores, perfeição técnica. A soma dessas características define a pintura de Agostinho Malinverni Filho (1913−1971).

Admiradores mais entusiasmados, não satisfeitos em o considerarem um dos mais importantes artistas plásticos de Santa Catarina, ainda o avaliam como extraordinário interprete das paisagens regionais do sul do Brasil.

Alguns de "seus" pinheiros são considerados como exemplos mágicos de uma arte que vai desaparecendo continuamente, em virtude dos avanços tecnológicos: a pintura.

Mesmo assim, ciente de que a modernidade, assim como os deuses gregos, devora os seus filhos, Malinverni Filho soube resistir às adversidades e legar ao mundo suas obras de incomparável beleza e técnica. 

Suas telas transmitem prazer estético raro, fruto da tentativa fugaz de compartilhar com o espectador a emoção sugerida pela imagem retratada. Exemplar, nesse sentido, é o quadro Flamboyant. A explosão outonal de cores, visível no contraste entre os tons avermelhados com o verde−azulado e o amarelo desbotado, fornece o necessário equilíbrio para a composição, iluminando o passeio visual do espectador. O bucolismo espacial, em uma paisagem que parece bastar em si mesma, é rompido pelo barquinho, que providencialmente parece estar esperando por alguém. E é exatamente esse detalhe que instiga o romper com as estruturas do imaginário e – conseqüentemente − o integrar−se à paisagem.

Com A biblioteca de Rui Barbosa, Malinverni Filho comprova (ao contrário do que alegavam alguns de seus detratores) que também sabia trabalhar interiores. O uso de cores terrosas multiplica a riqueza dos detalhes do mundo intelectual, lapidado com a precisão de um ourives. Diante de tamanho realismo, ampliado pela luz que entra na sala (pelas janelas, pela porta), não seria absurdo imaginar que, em determinado momento, a imagem estática vai ganhar movimento. E isso acontecerá no momento em que Rui Barbosa entrar na ambiente e, com ajuda da pequena escada, estrategicamente colocada no meio da biblioteca, iniciar a procura por algum livro, no alto de uma das estantes.

Em Rua Taylor, uma pintura de juventude (1936), premiada pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, o artista se esmera em contextualizar a perfeita simbiose entre a natureza e o ambiente urbano, entre a rua e o morro, entre o verde das árvores e o ocre dos casarios. Retrato harmônico e delicado de uma parte do universo carioca (e que não existe mais, exceto na memória pictórica produzida pela arte).

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Agostinho Malinverni Filho nasceu em 16 de fevereiro de 1913, em Lages, Santa Catarina, e faleceu em 14 de janeiro de 1971, na mesma cidade.

Desde criança manifestou vocação artística. Com giz desenhava figuras em calçadas e paredes. Com ajuda de seu pai (que também era artista plástico) aprendeu as lições elementares de desenho e pintura. Aos 15 anos, em Florianópolis, venceu um concurso de desenho para estudantes. Em 1934, ganhou uma bolsa do governo catarinense para estudar na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

Aluno brilhante encantou a comunidade artística carioca, como comprova a exposição realizada no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, em 1946.

Regressou ao Planalto Catarinense em 1947, tendo em mente uma utopia: a Escola de Belas Artes Agostinho Malinverni, a primeira de Santa Catarina. A falta de apoio (financeiro, principalmente) fez com que o artista, quatro meses depois, ao se referir sobre a grande motivação de sua vida, comentasse amargo: Não vai mais funcionar. Eu fechei a escola e joguei a chave fora.

Independente desse percalço, a produção artística de Malinverni Filho foi intensa (pinturas a óleo, esculturas, desenhos).

Parte significativa de seus trabalhos integra o acervo do Museu Malinverni Filho, fundado em 25 de maio de 1986, e que está instalado na casa onde nasceu, viveu e morreu o artista. Além disso, o museu abriga ferramentas de trabalho, documentos pessoais, réplicas das esculturas, farto material iconográfico (fotografias, principalmente) e muitos objetos de uso pessoal. Pincéis e palhetas também estão expostos à visitação. Para os pesquisadores há muitos documentos, abrangendo desde as primeiras críticas sobre o trabalho de Malinverni Filho até vários originais (esboços, poemas, cartas, etc.).

5 comentários:

  1. Como sobrinha-neta do artista, torno-me suspeita de qualquer juízo de valor. Como admiradora das artes em geral, penso que o belo não tem parâmetros...apenas deve ser "sentido" e apreciado.
    Posso, porém, agradecer as palavras de quem valoriza a arte e difunde os valores da nossa terra.

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  2. li a história de Maliverni e fico muito emocionada, com as artes,também soube de sua trágica história que morreu tão moço intoxicado pelas tintas, volta e tristeza quando tiraram-lhe a bolsa de movido a sentimentos de revolta estudos, tirando-lhes sua dignidade de ser humano, creio que nesta época uma bolsa de estudos,seria bem mais difícil ganhar. Vi os trabalhos do mesmo pessoalmente com meus alunos da escola , obras lindas, e senti o mesmo pois ha 6 anos tentei uma bolsa e nada na faculdade de artes, saí chorando de lá. sou frustada adoro artes plasticas e vejo que são poucos os que admiram, quando neste mês completaria 100 anos Maliverni VIVO FOSSE ESTARIA seria nosso grande pintor e escultor reconhecido e ajudaria muito os que pela arte se dedicam.

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  3. Excelente lembrança Raul. As palavras nos ativam a memória e vice-versa e espero que no centenário do artista a cidade retome e relembre com carinho o nome de Malinverni Filho.

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  4. meu nome é Gabriel Zanchete Maliverni e é muito bom percebe que alguem lembra de meu bisavó,agradeço ao blog!

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