Páginas

terça-feira, 31 de maio de 2011

RECORDAÇÕES DA RIBALTA (II)

Quando for escrita a história do teatro no Planalto Catarinense, algumas figuras carimbadas se destacarão. Não será possível ignorar a importância de Pe. Ervino Lerner, Mauro Nerbass, Armindo Toigo, Ciro Campos, Leoncir Cardoso Borba, Lota Lotar Cruz, Ivan Cesar Cascaes, Nelson José de Andrade, Alfeu Varela, Marcelo Andrade dos Santos e Ion de Souza, entre outros. Todos, de uma forma ou de outra, contribuíram para que o sonho se concretizasse no palco.

Esse inventário histórico, preocupado com ações pontuais, provavelmente omitirá uma das "personas" mais anárquicas (no bom sentido) que deram o ar da graça nestes confins do Brasil: Carlos Agne.

Nômade por natureza, sempre sorrindo, com um humor de gosto duvidoso, Carlão era o diretor de um único espetáculo: "O macaco e a velha", de Ivo Bender. Sua preocupação maior em cada cidade que morou era a de fundar um novo grupo de teatro – para montar, outra vez, o mesmo espetáculo.

Quando chegou a Lages, lá pelos anos 80, rapidamente se associou ao grupo do SESC. Sem muito esforço, conseguiu impor a sua peça favorita, pois forneceu o cenário, o figurino e a proposta de encenação. Resultado: ganhou o FETEL daquele ano.

Junto com a consagração, Carlão também ganhou alguns desafetos. No entender de algumas pessoas, ele falava demais, aumentava algumas histórias e os seus amigos mais íntimos não constituíam exatamente a fina flor da sociedade. Preconceitos a parte, o descrédito o acompanhava.

Certa vez, assim como quem não quer nada (mas sonha em fica com tudo), interrompeu uma reunião da Associação Lageana de Teatro Amador (ALTA) e fez uma proposta. Parte significativa da comunidade teatral considerou aquele momento como a gota d’água que faz transbordar o copo. Definitivamente, o cara era maluco! Quem é que poderia acreditar que ele era amigo de... Carlos Vereza?

Apesar disso, por alguma razão difícil de explicar, houve quem "comprasse" a idéia. Naquela época o Diretor do Departamento de Cultura era o Ricardo Almeida Varela, que, depois de consultar o Prefeito, prometeu, a contragosto, o apoio indispensável. Cético, não tinha muita fé na vinda do grande ator – que vivia, naquele momento, uma fase áurea: "Memórias do Cárcere" ainda estava em exibição nos melhores cinemas do país.

Apesar da ênfase com que Carlão defendia a amizade com Vereza, ninguém acreditava que o ator global pudesse interromper seus afazeres e vir passar três dias no interior de Santa Catarina.

Os últimos dias foram de pura tensão. Carlão insistia que Vereza estava chegando: "Olha, ele me telefonou ontem...". O pessoal da ALTA sorria amarelo e desconversava. Carlão estava completamente desacreditado.

Na data marcada, um pequeno grupo se reuniu para recepcionar o artista global. Quer dizer, mais da metade queria era ver o Carlão "quebrar a cara".

No aeroporto, quando o avião pousou, fez−se um silêncio assustador − que só foi rompido quando a porta da aeronave se abriu e, lá de dentro, uma voz gritou:

− Carlão, meu velho amigo, que prazer te reencontrar!!!

Para surpresa geral, Vereza, em carne e osso, desceu a escadinha e abraçou Carlos Agne com imenso carinho. Foi a consagração! Naquele momento, algumas pessoas queriam carregar Carlão nos ombros, como se ele fosse o protagonista daquela comédia.

Imediatamente formou−se uma caravana, que – de acordo com grotesca tradição provinciana − desfilou pelas ruas da cidade fazendo o maior estardalhaço. Parecia que todos desejavam se redimir do pecado da descrença. Ninguém dispensou autógrafo e fotografia ao lado dos dois grandes astros!

Durante três intensos dias, Vereza desmistificou idéias e comportamentos. Sem frescuras, tomou cachaça em balcão de boteco, foi a diversos churrascos, dançou, cantou e encantou. Diante de mais de 500 pessoas falou sobre a magia do teatro: foi aplaudido de pé. O mais chocante (em vários sentidos) dessa história, foi o não cansar de chamar Carlos Agne de "meu grande amigo".

Algum tempo depois de Vereza ter ido embora, Carlão também tomou o seu rumo. Por certo foi montar "O macaco e a velha" em outra paróquia. De qualquer forma, deixou saudades.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

P.S: Foto cedida por Telmo Mendonça Matos, que está em primeiro plano, ajoelhado, ao lado de Hermelino de Arruda Neto (com um copo na mão). Carlos Agne, que tinha um visual "Belchior, está em pé, ao lado de Carlos Vereza.

4 comentários:

  1. Grande história! E o livro do teatro do Planalto Catarinense deverá ser escrito por Raul Arruda Filho, naturalmente. Te mexe, Raul!

    ResponderExcluir
  2. Grande Raul
    Obrigado por ter lembrado desse filho de Deus que sempre esteve ao lado dos artistas, do povo e nunca usei das pbres e imaginrias linhas ou cinicamente se envlvesse cm pessoas para horas mais tarde as distratar-las. Poderia usar a Lei de Imprensa para te fazer engolir certos termos utilizdos, mas a vã ignorância de certos pensamentos ficam para quem gosta. Te admiro em confessar nas entrelinhas que estavas cntra e não acreditar em coisas sérias. Mas, crei, que se tiveres boa lembrança e que seus neuronios ainda funcionem que além de funcionário de carreira do Banco d Brasil que era, fui o palhaço Pinduca, no Clube do Brick-Breck com tia Claudia, que escrevi um text autenticamente lageano, Avenuras na Terra do Sapo Boi e que falava do Rio Cará e que foi encenado no fetel. Além disso, dirigi e criei, além de traduzir Le Petir Prince, com alunos do Aristiliano e que participaramdo Fetel. Vc deve estar magoado cm a vida. Que Deus te abençõe. E nos vemos em breve. Se Deus quiser. Abraços
    Carlos Agne

    ResponderExcluir
  3. Carlos Agne:
    Li teu comentário duas vezes e não entendi nada! Provavelmente os neurônios estão falhando, como apontastes. Teu texto está cheio de falhas na "dedografia". Isso quebra a estrutura, não consegui distinguir se você quer dividir uma cerveja comigo ou quebrar a minha cara. Na dúvida, conservarei a distância física! Outra coisa, não lembrava de teu trabalho com Velci. Ou seja, você tem razão: a idade faz estragos nas nossas vidas.

    ResponderExcluir
  4. Caro amigo
    Infelizmente a maquina em que estava tinha a ausência da letra "o". Infeliz coincidencia. Jamais me atreveria usar de força fisica ou agressões porque não está inserida dentro da índole que tenho. pelo contrário. Devemos amar o próximo mesmo que este se poste como inimigo. Perdoar é um dom de vida. E, ao contrário do que muitos imaginam, amam as pessoas de bem. portanto, desejo-te felicidades e te agradeço por lembrar de mim.
    Carlos Agne
    Jornalista
    registro Profissional 3700-SC
    48.99125310

    ResponderExcluir