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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A NUDEZ DE SCARLETT JOHANSSON


Algumas fotografias da atriz Scarlett Johansson foram roubadas por um hacker – e agora estão à disposição do público voyeur que freqüenta a internet. Como ninguém é de ferro (e a carne é fraca) também fui dar uma olhadinha no material. Aos 26 anos, depois de dois anos de casamento com o ator Ryan Reynolds − somados com o atual namoro com Sean Penn (que, entre outras, já "pegou" a Madonna) −, foi possível constatar que a atriz está em boa forma. Banquete para trezentos talheres.

Não há nada de extraordinário nas fotografias: "artísticas", posadas, pesadas. Falta aquele je ne sais quoi (como se dizia antigamente) que altera a temperatura dos corpos e produz pensamentos – digamos − impróprios para menores de 18 anos. Algumas mulheres são mais excitantes vestidas. E é o desfolhar (mental, físico) das camadas de roupas que festejam o império do olhar, que garantem o interesse e, conseqüentemente, a fruição do gozo.

Scarlett reagiu mal à publicação das imagens: chamou o Federal Bureau of Investigation (FBI). Em USA, atividades ilícitas na internet são consideradas crimes federais. Além disso, prometeu processar todas as publicações (virtuais ou físicas) que divulgarem as fotos. Com essa atitude mal humorada, garantiu publicidade suficiente para incentivar a curiosidade pública, para realimentar a crueldade dos tablóides estadunidenses. É sempre assim: quem faz tudo para preservar a privacidade, se expõe integralmente.

No escurinho do cinema, chupando dropes de anis, minha primeira lembrança de Scarlett Johansson remete ao filme Moça com brinco de pérola (Girl with a pearl earring. Dir. Peter Webber, 2002), uma fábula sobre a vida do pintor flamenco Johannes Vermeer. Misturando ingenuidade e humildade (o rosto ligeiramente curvado, olhando para baixo), a personagem interpretada pela atriz parece uma corça assustada, prestes a ser abatida por algum caçador malvado. Prato cheio para quem possui um imaginário perverso.

Antes − embora ninguém tenha percebido − Scarlett havia filmado algumas tolices como Esqueceram de mim 3 (Home Alone 3. Dir. Raja Gosnell , 1997) e Encantador de cavalos (The horse whisperer. Dir. Robert Redford, 1998). Bobagens, dessas que ninguém quer assistir uma segunda vez, exceto para vê−la na fase Lolita.

Foi ao protagonizar Encontros e desencontros (Lost in translation. Dir. Sofia Copolla, 2003), ao lado de Bill Murray, que Scarlett garantiu um lugar ao sol. O filme é genial, e trata de um tipo particular de curto-circuito que acontece quando certas coisas não podem ser “traduzidas” adequadamente. Scarlett e Bill formam um casal muito estranho, a solidão do estrangeiro contraposta com o parque de diversões fornecido pelas ruas de Tóquio. É cinema de estranhamento, a colisão emocional dando as cartas e mostrando o quanto o jogo é viciado.

Scarlett também contribuiu com um ciclo Woody Allen: Match point (2005), Scoop: o grande furo (Scoop, 2006) e Vicky Cristina Barcelona (2008). No primeiro, interpreta uma "femme fatale", daquelas que conseguem misturar o primeiro prêmio da loteria com um barril de pólvora. O segundo é filme menor. No último, ao lado de Javier Barden, Rebecca Hall e Penélope Cruz, está quase irresistível. Quase. Ao ritmo das travessuras de Woddy Allen, a vontade do espectador é a de invadir a tela e (se ela permitir) lhe oferecer prazeres inesquecíveis.

Na segunda vez que olhei as fotografias daquela que a revista Esquire elegeu como a mulher mais sexy de 2006, fui tomado por uma sensação de incompletude. O rosto da atriz está sério, carrancudo. A ausência de leveza assusta, produz mal−estar. Essa é uma parte do problema. Contemporaneamente, o erotismo e a pornografia se confundem e se dissolvem nos espetáculos descartáveis, um escândalo substituindo o outro. Por isso - mas não só por isso - não é possível deixar de perceber que falta algo nas imagens. O quê? Difícil precisar. Outra particularidade está relacionada com a exposição pública. Em um mundo onde atrizes e modelos divulgam os filmes pornográficos caseiros que "estrelaram", a negação de algo mais safado, mais provocante, não produz energia sexual, não excita – decepciona.

O espelho social em que nos projetamos está embaçado – basta olhar para o reflexo produzido pelas fotos proibidas de Scarlett Johansson para descobrir que queríamos ter algo que não está lá, que não deveria estar lá.

2 comentários:

  1. Que postagem puritana. Onde estão as fotos. ou pelo menos um link para elas. Ficou com medo do processo da Scarlett Johansson?
    Rafael.

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  2. Rafael: Ser chamado de "puritano", nessa fase de minha vida, é um elogio! Obrigado! Quanto 'as fotos, estão no Google. Tente: "Scarlett Johansson, nude photos"

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