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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

COLECIONANDO LIVROS


Entre os leitores obsessivos é comum "esgotar" a obra de um autor. Por exemplo, alguns amigos costumam comprar e ler (em alguns momentos, reler) quase toda a obra de Anton Tchekov, Fiodor Dostoievski, Ernest Hemingway, Philip Roth, John Updike, Amos Óz, Ítalo Calvino, Juan Carlos Onetti e José Saramago. São escritores que satisfazem determinadas idiossincrasias. E que escrevem criativamente sobre assuntos que emocionam. Raramente o leitor se decepciona ao comprar e ler qualquer um dos livros escritos por eles.

Um fenômeno paralelo está vinculado à temática. Outro amigo coleciona livros de ficção com animais. Aquelas histórias açucaradas de cachorrinhos que salvam vidas? Ele tem todas! Também tem relatos sobre golfinhos, tartarugas e ornitorrincos, gatos e cobras, porcos e leões. Sem exageros, sua pequena biblioteca temática (quase duzentos volumes) é um zoológico.

Coleções temáticas quase nunca me interessaram. Exceto, umas duas vezes. Talvez a mais importante tenha ocorrido depois de ler um exemplar de Mestre de Armas – seis histórias sobre duelos (org. Cláudio Figueiredo, 2007). Poucos livros me causaram tanto prazer.

Dias depois, revi o filme baseado no conto de Joseph Conrad (Os duelistas, The duellists. Dir. Ridley Scott, 1977). Fiquei atônito. O primeiro filme do diretor de Blade Runner (a cena final é, de certa forma, um duelo!) é obra-prima, belíssima fotografia e a qualidade indiscutível de captar a essência proposta pelo texto original.

Colocar a vida em risco na defesa de alguns ideais, nem sempre compreensíveis ou justos, refletiu em alguns de meus valores. Na modernidade − de onde o romantismo foi expulso −, pouco se discute sobre a honra e o heroísmo. Parece assunto fora de moda. Coerente com o contemporâneo é a emboscada e a covardia.

Em Mestre de Armas – seis histórias sobre duelos, junto com as narrativas escritas por Joseph Conrad, Arthur Schnitzler, Guy de Maupassant (um estudo sobre a covardia), Henrich von Kleist, Ivan Turguêniev e Vladimir Nabokov, há uma introdução ao tema. Cláudio Figueiredo, com bom humor, relata várias histórias interessantes e cita alguns romances relacionados com duelos. Foi uma revelação. E o início de uma nova mania.

Acessei a internet, mais especificamente www.estantevirtual.com.br, e comecei a busca. Foi difícil. Alguns títulos não estavam disponíveis. Outros, em compensação, possuem várias traduções. Comprei, por exemplo, O duelo (Anton Tchekov), numa dessas edições pouco confiáveis, fruto de direitos autorais que se transformaram em domínio público. Parte do prazer se perdeu ao imaginar o sabor literário que perdi nessa tradução de alguma tradução inglesa ou estadunidense.

Uma lacuna se preencheu quando anexei ao acervo um clássico legítimo, O herói do nosso tempo (Mikhail Liérmontov), traduzido diretamente do russo. Aqui, a leitura foi diferente, parecia banquete em restaurante francês. Até porque na época em que viveu Liérmontov, a moda na corte russa era falar e imitar os costumes parisienses.

Paguei um valor razoável (bem acima da tabela) em edição de 1933 de O duelo (A. Kuprin). O livro está inteiro, bem conservado e alguém escreveu em uma de suas páginas iniciais que o exemplar foi adquirido em 17 de março de 1939. Há algo de anacrônico em folhear um livro vinte anos mais velho do que seu leitor!

Como sou um fã do David Grossman, não me contive e adquiri um texto infanto−juvenil, O duelo. Na minha avaliação, seu valor está em ser um objeto colecionável.

Li, deliciado, cada um dos livros citados. De vez em quanto, faço uma pesquisa pelos sítios de busca da Internet, tentando descobrir se existe alguma novidade sobre o assunto. Fico torcendo para ser surpreendido. Infelizmente, raramente acontece. Embora não tenha pretensões de formar uma coleção, ainda continuo interessado no tema.

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