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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O BRASIL E OS LIVROS


O Brasil foi "descoberto" em 1500. Mas, a história do livro em terras portuguesas deste lado do Atlântico somente teve início em 1808. Teoricamente, foram 300 anos de obscuridade (com um pequeno intervalo durante a invasão holandesa, na década de 1640). O governo colonial considerava crime de alta periculosidade a importação de equipamentos gráficos. Em outras palavras, era proibido publicar. Uma das razões desse descalabro tem explicação política: conflitos entre o governo do marquês de Pombal (1750−1777) e os jesuítas. Proibido aqui, porque durante muitos anos as gráficas inglesas funcionaram noite e dia para imprimir jornais, livros e folhetos destinados à lusa possessão sul-americana.

Foi a fuga da família real para o Brasil e a emissão de uma carta régia, no dia 13 de maio de 1808, pelo Príncipe Regente, Dom João, que modificou o panorama mercantilista. O documento que instituiu a reprodutibilidade técnica em terras tropicais foi impresso no Rio de Janeiro, em um dos dois prelos (prensas) com 28 fontes de tipos para impressão, que Portugal comprou da Inglaterra e que, por conta das turbulências políticas portuguesas de 1807, ficaram, durante muitos meses, encaixotados no cais de Lisboa.

Entre 1808 e 1821, a Imprensa Régia foi monopólio do governo regencial. Esse privilégio foi contestado em 1811, quando o comerciante Manuel Antonio da Silva Serva instalou uma tipografia em Salvador. Como os preços cobrados pelo Rio de Janeiro eram abusivos, não foi difícil conseguir várias encomendas de trabalho.

Com o fim do monopólio, surgiram as primeiras tipografias particulares na capital real. Historiadores relatam que, em 1822, o Rio de Janeiro contava com cerca de sete gráficas. Um número significativo se for considerado que, na mesma época, Paris contava com 480 livrarias e 850 tipografias.

A partir da Independência, a indústria gráfica nacional progrediu significativamente e se espalhou por "todo" o Império. No entanto, os livros continuavam sendo importados da Europa. Além da precariedade dos "parques gráficos", a elite intelectual do Brasil era completamente dependente da cultura produzida no outro lado do mar. Tentando reagir (mas não muito) contra esse atrelamento, surgiram alguns personagens significativos. Talvez o mais importante tenha sido Francisco de Paula Brito, que, entre tantas contribuições, imprimiu a primeira constituição brasileira, em 1824. Ao redor de Paula Brito se reuniram os mais significativos nomes do movimento romântico de 1840−1860.

Como não poderia ser diferente, impressores se transformaram em livreiros. O que era "composto" e gravado na sala dos fundos era discutido e vendido no balcão da livraria.

Mas, qual teria sido a primeira publicação sobre o Brasil? Rubens Borba de Moraes considera que foi um folheto de oito páginas, Mundus Novus, escrito por Américo Vespúcio e publicado por Johannes Otmar, em 1504, na cidade alemã de Augsburg. O mesmo autor revela que o primeiro impresso brasileiro também foi um folheto (22 páginas) e surgiu no Rio de Janeiro em 1747. Impresso por Isidoro da Fonseca, seu título era Relação de entrada que fez... D. F. Antônio do Desterro Malheiro, Bispo do Rio de Janeiro... Composta pelo Doutor Antônio Rosado da Cunha....

Ao saber dessa publicação, e de outras duas, Lisboa mandou fechar a tipografia, aprender os impressos e remeter tudo ao Reino.

Entre 1808 e 2012 a indústria do livro, assim como outros setores comerciais, se desenvolveu bastante, assimilou a tecnologia e tornou o acesso à cultura mais fácil, ágil e democrático. Entre tropeços e pequenas vitórias, foi uma aventura e tanto!


2 comentários:

  1. Muito bom este artigo, peço sua autorização para reproduzí-lo no site www.encontrodeescritores.com.br

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    1. Demarchi: autorizado estás! E obrigado pela leitura! Abraços!

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