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segunda-feira, 2 de abril de 2012

LORD BYRON: VIDA LOUCA VIDA


Entre os gêneros literários, os relatos biográficos não possuem boa reputação. Há sempre a suspeita de que interesses escusos determinam a flexibilidade da verdade (seja lá o que isso for). Em outras palavras, o material que constitui a narrativa sobre o outro raramente se aproxima da transcrição fiel dos acontecimentos.

Apesar dessas dificuldades, a escritora irlandesa Edna O’Brien (Dezembros Selvagens, A Luz da Noite) gosta de bisbilhotar a vida alheia. Não satisfeita em ter escrito uma biografia secundária de James Joyce, tentou fornecer um retrato da tumultuada vida do Lord Byron, um dos mais importantes poetas do romantismo britânico.

A biografia Byron Apaixonado está focada em um conjunto de curiosidades e fofocas maledicentes. Ao descrever a vida afetiva e amorosa do poeta – sem se deter na análise de sua poesia – O’Brien poupa o leitor da chatice de relacionar vida e obra, o que tornaria a leitura enfadonha.

Lord George Gordon Byron nasceu em janeiro de 1788 com um defeito congênito no pé direito. Morreu em 1824, defendendo a independência da Grécia. Viveu pouco, mas intensamente. Tinha 1,74m, cabelos castanhos, olhos cinzentos, uma palidez assombrosa e era bonito. Ou melhor, andrógino. Poucas mulheres resistiram ao seu charme. Muitos homens (jovens) compartilharam de sua cama. Educado em colégio interno – como era costume secular da nobreza inglesa –, desenvolveu particular prazer pela sodomia. Seu casamento com Annebella Milbanke foi dissolvido por dois motivos. Primeiro, a esposa ameaçou denunciá-lo pela prática de sexo anal (que era um crime inadmissível na época). Segundo, ele estava se relacionando sexualmente com Augusta Leigh, sua meia-irmã. Os detalhes escabrosos desse caso (além de muitos outros) foram minuciosamente comentados na corte inglesa – que o considerava um devasso incorrigível.

Byron sempre esteve em dificuldades financeiras. Gastava muito dinheiro com quatro itens julgados indispensáveis: roupas, viagens, vinho e prostitutas. Sua entourage era extensa: criados, amigos, amantes e animais de estimação (cavalos, cachorros, pássaros). Além disso, em cada lugar por onde passava freqüentemente se envolvia sexualmente com alguém. Esses rituais de sedução costumavam custar caro. E só cessavam quando ele cansava da situação (o que acontecia facilmente quando a pessoa seduzida se declarava apaixonada).

O número de mulheres que sucumbiram ao seu encanto é incontável. Assim como no enredo de um de seus poemas mais importantes, Don Juan, era um homem irresistível. Com uma conversa agradável, erudita e levemente melíflua, seduzia virgens românticas e esposas fiéis. Não perdoava ninguém. As virgens entregavam a virtude e a sensatez, as esposas abandonavam os maridos e caiam aos pés do sedutor. Nos intervalos entre uma mulher e outra, novas histórias de orgias com vinho em quantidade e prostitutas, novos casos homossexuais, novas viagens. E incontáveis doenças sexualmente transmissíveis.

Morou algum tempo na Itália. Envolveu-se com mulheres casadas, fez filhos bastardos, enlouqueceu gradativamente (provavelmente em consequencia da sífilis). Ao saber que a Grécia estava em armas contra a dominação otomana, resolveu ajudar e financiou um exército. Foi uma aventura pouco realista, pois os gregos estavam mais preocupados em brigar entre si do que em expulsar o inimigo.

Em solo grego, não conseguiu se abrigar de uma chuva intensa. Algum, tempo depois, foi tomado por calafrios. Os médicos aplicaram diversas sangrias. Morreu no dia 19 de abril de 1824, aos 36 anos. A autópsia revelou que o fígado e os rins estavam bastante debilitados.

Contra sua vontade, expressa diversas vezes, seus restos mortais foram transportados para a Inglaterra e enterrados em Nottingham. Era o mais importante – e famoso – escritor de sua época.

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