Páginas

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A FESTA E O BETÃO DA PENHA

Ninguém entendeu quando Adalberto Medeiros Silva e Souza, também conhecido mundialmente como Betão da Penha, abandonou o subúrbio e foi morar no centro da cidade. A perplexidade aumentou quando, uma semana depois, o caminhão de mudanças trouxe tudo de volta. Os vizinhos inventaram algumas histórias para tentar explicar os fatos.

De acordo com Mané Sandoval, tudo estava resumido em três palavras: golpe do baú. E explicava: Eulália, viúva e rica, tinha sido enganada por aquele cafajeste. Em momento de pura insanidade havia transferido em cartório parte de seus bens para o patife. Agora que as chamas da paixão haviam se transformado em cinzas, o safado decidira aproveitar a vida, longe do local do crime.

Pedro Sargento contribuiu com outra versão. Homem de mau humor e péssima reputação, dizem que era suspeito de envolvimento em vários tiroteios, inclusive contra a policia. Betão, que estava cobiçando Maria das Graças, filha do mau elemento, pensou bastante sobre a vida (e a morte) e, antes que a desgraça acontecesse, resolveu cortar o mal pela raiz: fugiu do combate enquanto estava inteiro.

As fofocas também mencionaram o tumultuado romance entre Betão e a socialite Elizabeth Macarrônica. Trinta segundos após entusiástica ginástica sexual, a madame exigiu dedicação integral do namorado. Prometendo um mundo sem fundo, e muito mais, Elizabeth providenciou a mudança (além do endereço, queria transformar o namorado em homem civilizado, desses que freqüentam clubes sociais, usam roupas de grife e aparentam ser inteligentes).

Seja qual for o motivo, Betão de Penha, com suas bombachas sujas, folha de capim no canto da boca e sandália de couro, mudou−se de mala e cuia para um desses treme−tremes que chacoalham o coração da cidade.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

A primeira providência no novo endereço (e provavelmente o principal motivo para o retorno ao bairro) foi uma imensa, espetacular e fantástica festa.

Betão convidou para o evento os mais variados exemplares da fauna e da flora regional.

A música, uma mistura de sertanojo com roquinról aborrecente, acordou o quarteirão inteiro. Um dos vizinhos, Frederico Antunes, sem conseguir dormir, perdeu a paciência e foi reclamar. No corredor, ao ver a movimentação, principalmente as garotas vestindo shorts minúsculos, perdeu a razão e abriu a lata de cerveja que, como um passe de mágica, alguém colocou na sua mão.  

"Acho que vou ter que derrubar mais um pinhal!", sussurrou Betão, quando viu Soninha Alicate subir em cima de uma mesa e mostrar com quantas peças de roupa um strip−tease enlouquece o distinto público.

No melhor da bagunça, a festa foi interrompida por gritos furiosos. Ao notar a ausência do "com azar" no tálamo conjugal, a digníssima consorte de Frederico não pensou duas vezes e foi tentar impedir que o canalha se transformasse em Fred, o pobre. Sabia que o marido não resistia a um rabo−de−saia. Fato que se comprovou quando, naquele "antro de indecências", o viu obnubilado pela exuberância calipígia de Adriana Toda Hora.

Disposta a mostrar com quantos paus de macarrão se faz uma briga, a megera só se acalmou quando acertou o marido com o primeiro vaso que encontrou ao alcance da mão.

Foi um estrago. Frederico caiu desmaiado, sangue escorrendo pela testa, gritos histéricos do mulheril em fuga, sirene policial, ambulâncias, vinte pessoas presas, o inferno tomando conta de tudo.

Betão da Penha, do outro lado da rua, apoiado no balcão da lanchonete, tomando refrigerante, assistiu ao espetáculo com um sorriso satisfeito no rosto.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário