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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

GRANTA


A história das publicações literárias brasileiras não repousa no mar da tranqüilidade. Ao contrário. Tempestades e naufrágios é que não faltam. Piratas também são freqüentes. Enfim, por diferentes motivos e situações, saques, estupros e contrabandos acompanham o alegre valsar do empreendedorismo cultural. Conseqüentemente, a vida movimentada de revistas e jornais tem como espelho o comportamento romântico: oscilar entre a efemeridade e a enfermidade galopante. Completa a paisagem a falência econômica. Em síntese: em algumas ocasiões a resistência é um pouco mais consistente, em outras menos. Todas terminando na vala comum do esquecimento.

Tendo esse histórico como referência, o mundo literário nacional recebeu − com surpresa, quatro anos atrás − a notícia de que uma das mais importantes revistas literárias do mundo, a inglesa Granta, teria uma edição brasileira. Periodicidade semestral. Seguindo o pessimismo habitual, muitos leitores apostaram que não duraria cinco números. Erraram feio. Acaba de ser publicado o número oito.

Revista em forma de livro, preferida de dez entre dez escritores, raramente os funcionários das livrarias a conhecem. Mesmo em empresas mais qualificadas como a Saraiva ou a Curitiba, sem insistência não é possível conseguir um exemplar. E isso só ocorre depois de longa e muitas vezes cansativa busca no "sistema", também conhecido como o deus que protege os incompetentes.

Uma das muitas qualidades de Granta é que todos os seus números são temáticos. Ambição, família, longe daqui e sexo foram alguns dos assuntos abordados. Também foram publicadas três antologias: melhores jovens escritores norte−americanos, melhores jovens escritores em espanhol e uma seleção de textos do William Boyd. Reunindo ficção (contos, trechos de romances, poesia), jornalismo literário, fotografia e memória de escritores consagrados ou pouco conhecidos, a revista quer mostrar algumas coisas básicas sobre o tema escolhido. Não há intenção de esgotar o assunto. Isso, além de pretensioso, seria impossível.

Outro ponto a favor da revista é a inclusão de alguns brasileiros. Foram publicados textos de Bernardo Carvalho, Ricardo Lísias, Sergio Sant’Anna, Luis Fernando Veríssimo, Ronaldo Correia de Brito, Reinaldo Moraes e Antonio Cicero, entre outros.

O número mais recente (oito) está concentrado nas relações de trabalho. É a edição com maior número de contribuições brasileiras: seis. Cinco textos e as fotografias de Walter Carvalho. Desses, um ilustre desconhecido, bruno bandido, assim em minúsculas, é talvez o autor que mais surpreenda. Não pela abordagem, A arte de apagar cigarro com cuspe nada acrescenta ao velho conflito entre o fim da adolescência e as agruras do mundo adulto, mas pelo estilo narrativo sem arestas, sólido como o de um escritor veterano (desmentido ao final do volume: bruno nasceu em 1990).

Outro texto acima da média, Se Deus existisse, seria um meia de primeira, do bósnio Alexandar Hemon, poderia ter sido escrito por algum brasileiro. Poderia. Mas nunca o será. Nossa relação com as futilidades da vida é de outra ordem e o olhar que o fanatismo esportivo lança sobre o futebol é tão sagrado que jamais será possível alcançar um tom que una humor e inteligência.

Outro conto digno de nota é Dejeuner sur l’Herbe, de Mario Sabino. Com conhecimento de causa (Sabino é editor em Veja), o autor detona com o comportamento profissional de seus colegas de profissão. Quem trabalha ou trabalhou em redação de jornal (ou revista) vai identificar o ambiente e o comportamento ali descrito.

Enfim, Granta é ótima. O difícil é ficar esperando pelo próximo número (em junho).

(Para quem quiser arriscar, o próximo número será sobre jovens escritores brasileiros)



Um comentário:

  1. hÁ MUITA GENTE BOA ESCREVENDO HÁ MUITO TEMPO, VC, RAUL ARRUDA FILHO E EU HÁ MAIS TEMPO AINDA, O PROBLEMA É AS OPORTUNIDADES, HÁ MUITA CAMORRA, PADRINHAGEM E MEDALHÕES; CREIO Q VC TÁ CHEGANDO E EU E OUTROS BONS ESTÃO CHEGANDO, O PIOR É QUE...QUEM É BOM N BUSCA SER E MORRE ANÔNIMO...MAS ANDO TENTANDO HÁ ANOS RSRS - MARLENE PEREZ

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