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quarta-feira, 28 de março de 2012

CONTOS DE AMOR E MORTE

Arthur Schnitzler (1862−1931) é quase desconhecido no Brasil. Não há surpresas nisso. Quem é que poderia ter interesse em um escritor austríaco do século passado? Poucos, muito poucos. No entanto, foi na Viena do século XIX, uma das herdeiras da parte "mais civilizada" da Europa Oriental, que nasceram e viveram artistas importantes como os músicos Arnold Schönberg, Alban Berg, Anton Webern e Gustav Mahler, os pintores Gustav Klint e Oscar Kokoschka, os escritores Hugo Von Hofmannsthal, Herman Broch, Karl Kraus e Stefan Zweig. Há quem arrisque dizer que a modernidade iniciou na Ringstrasse, a rua que abrigou figuras emblemáticas como Lou Andreas Salomé e Sigmund Freud.

Foi como dramaturgo e escritor de sucesso que Schnitzler ficou conhecido. Um de seus textos psicológicos mais complexos, Breve Romance de Sonho, teve uma versão cinematográfica, De Olhos Bem Fechados (Dir. Stanley Kubrick, 1999).

Pelas narrativas escritas por Schnitzler passeia uma fauna muito especial: homens e mulheres apaixonados. Muitas vezes nas versões mais confusas, frequentemente como sobreviventes de casamentos fracassados. Não bastasse isso, as convenções sociais se confundem com histórias que envolvem amantes, prostitutas, intelectuais, nobres decadentes, burgueses esclarecidos e iletrados. Todos sofrem das mesmas doenças: paixões descontroladas, ciúmes, pessimismo, fantasias persecutórias, loucuras diversas. O resultado de tamanho embate? Mortes. Muitas vezes não há cadáveres estendidos no chão − a destruição psicológica é tão devastadora que equivale.

Na coletânea Contos de Amor e Morte, a associação entre Eros e Thanatos não é apenas um bordão publicitário. Todas as doze narrativas repetem a mesma história, o mesmo horror. E de forma sintética: com exceção dos nomes, pouco se pode perceber das características físicas das personagens. Como esclarece Wolfgang Bader, na apresentação do volume, Ele despe suas personagens de toda preocupação material e de toda determinação individual ou social, levando−as para um terreno onde estão à disposição daquilo que constitui o tema do autor: o interior do ser humano.

E o interior humano é o lugar onde o comportamento moral e sexual se esconde. Freud, certa vez, declarou evitar ler Schnitzler por receio de ser contaminado. Acho que evitei um contato com o senhor por uma espécie de medo do duplo, escreveu o pai da psicanálise por ocasião do sexagésimo aniversário de Schnitzler. Para alguns especialistas, os dois autores se confundem. Enquanto um elaborou a teoria, o outro narrou em contos, romances e peças teatrais esses abismos em que a alma humana costuma mergulhar.

Os personagens de Schnitzler são constantemente atormentados pela culpa. E ninguém escapa da punição. Parecem diagnosticar que o mundo está doente – amar é o sintoma dessa patologia.

Um comentário:

  1. Nossa!! Como me identifiquei com isso... a morte psicológica que ocorre pelo desequilibrio das emoçoes...e vai além: o fisico tb é atingido em cheio: nunca se viu tantos casos de cãneer, enfartos fulminantes, AVCS...POR AÍ VAI...Chego a concluir que o AMOR É COISA DE LOUCO!
    Beijos!

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