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terça-feira, 24 de abril de 2012

A CONTADORA DE FILMES

Final dos anos 50, no norte do Chile. Algumas famílias se concentram em torno da mina de salitre. O fio da vida desaparecendo no trabalho pesado e na pobreza. Muitas vezes não há dinheiro para pagar pela comida. Um dos administradores faz agiotagem e penhora os documentos dos credores.

Nos finais de semana, a única diversão possível é ir ao cinema. Uma das famílias contorna o problema com uma solução criativa: cada um dos cinco filhos precisa assistir a um filme. A ideia é descobrir qual deles conseguirá contar melhor a história para os outros. A vencedora é a filha caçula, Maria Margarida. Combinando imaginação farta e interpretação teatral, a menina de 12 anos encanta a todos. E é, a partir desse momento, que ela descobre o seu lugar no mundo.

Ao mesmo tempo, passa a contribuir com a renda familiar. Como poucos podem ir ao cinema, o ingresso custa caro, a população da vila passam a se reunir na casa de Maria Margarida para ouvi−la contar os filmes. Aqueles que podem contribuir fazem pequenas doações. A fama da menina faz com que receba convites para contar os filmes aos velhos e doentes. Ou a aqueles que podem pagar por sessões extras. Em uma dessas vezes, sofre abuso sexual. Depois de muito pensar, conta para o irmão mais velho o que aconteceu. Algum tempo depois, o administrador da mina é encontrado morto.

Depois disso, sem muitas novidades, os dias e as noites transcorrem naquela região inóspita, próxima do deserto de Atacama. O pai de Maria Margarida, um alcoólatra que estava invalido, morre. Os irmãos se perdem no mundo. E surge a televisão.

Contar histórias e filmes perde a função. Na luta diária pela sobrevivência, manter a sanidade e a integridade corporal exige primazia. Maria Margarida se torna amante de um dos donos da mina.

Essa história simples e emocionante, com um final surpreendente (mas que só pode ser aquilatado por quem ler as 106 páginas dessa pequena joia) é o enredo da novela A Contadora de Filmes, escrita pelo chileno Hernán Rivera Letelier, autor do também genial O Fantasista.

Como um livro não é apenas um objeto para uso descartável, em que se deposita parte do conhecimento, para uso transitório, a editora Cosac Naify – seguindo a linha editorial que caracteriza suas excelentes publicações – apostou em projeto gráfico diferenciado, de extremo bom gosto. Não será surpresa, se até o final do ano, o volume ganhar algum prêmio específico!

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