Biutiful. Filme cheio de dor. Repleto de personagens desagradáveis. Ausência de zona de conforto. A tristeza marcando cada cena. Mal−estar. Estômagos delicados sentem o incômodo. Claustrofobia. Quase duas horas e meia de duração. Para o espectador, é fácil renunciar a tanta tristeza, basta desligar o DVD, abandonar o sofrimento, fingir que não incomoda.
Biutiful Javier Bardem. A difícil arte de interpretar um personagem ambíguo. Uxbal. Subornar policiais. Explorar imigrantes ilegais. Conversar com os mortos. A ausência do pai. O irmão cretino. A ex−esposa bipolar. Os dois filhos pequenos, Ana e Mateo. Câncer de próstata. Impotência (em vários níveis). Urina e sangue se misturando. Ritual de despedida. Os mortos sofrem se deixam dívidas para trás, observa – inutilmente − um dos personagens. Os vivos também sofrem. Também fazem sofrer aqueles que estão próximos.
Biutiful cinema. Recorte dos nós que nos atam, que atam a todos nós. A outra face de Barcelona. Aquela que desmente as imagens decorativas dos cartões postais. Aquela que desconhece Gaudi. Que suprime as cores. Que reprime a alegria. Ruas escuras. Atividades escusas. Lixo espalhado nas calçadas. Sujeira. Mau cheiro. O bolor no teto do apartamento. Cadáveres boiando na praia. A decomposição da vida.
Biutiful. A fonética superando a gramática. A letra da filha no desenho fixado na porta da geladeira. Cinema em ritmo coloquial. Sem igual. Um exercício poético sobre a desgraça, versos naturais, goles d’água, o ar que respiramos. Viver é conviver com a angústia, sobreviver às ilusões da ilusão. Culpa. Muita. Dessas carregadas de amargura. E que resultam em confusão. Nenhuma desculpa. Não daqueles que transgridem. Não daqueles que se descobrem inúteis para corrigir o rumo dos acontecimentos. Se eu fecho os olhos, os pensamentos começam, confessa Marambra, a mãe das crianças. Ausência de sintonia entre os personagens.
Biutiful. Vários núcleos narrativos. Melhores condições de vida deslocam homens e mulheres para outras formas de inferno. Os imigrantes chineses e o trabalho escravo. Os negros que vendem produtos piratas e drogas. Conflitos que se entrelaçam. A luta pela sobrevivência gritando quadro−a−quadro. A metástase da exclusão. A esperança esfarelada pelas sentenças de morte instituídas pelo colonialismo, pelo capitalismo.
Biutiful obra−prima. Sincera até a medula.
Alejandro Gonzáles Iñárritu: Amores perros (2000), 21 gramas (2003), Babel (2006), Biutiful (2010).
Forte! Pesado...apesar de tratar uma realidade cruel.
ResponderExcluirVanda: felizmente, parte do cinema ainda respira desconforto, inquietação e indignação. As comédias românticas de Hollywood são interessantes, apesar de alienantes. No entanto, elas não contribuem muito. Para entender a vida, é necessário alimentar o espírito!
ResponderExcluirVi esse filme e é deprimente mesmo, ver um grande cartão postal, se transformar em lixo, dor, atividades ilícitas e gente totalmente sem cor. Adorei a sua crítica diz na melhor forma literária o que sentimos ao ver o filme.
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