Parte da literatura brasileira sofreu grande influência da cultura japonesa. Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari (criadores da Poesia Concreta) por um lado, e Paulo Leminski de outro, todos admiradores fervorosos de Bashô, estreitaram laços afetivos com algumas palavras: haicai (que alguns grafam haiku), waka, tanka, koan e satori. A prosa, em compensação, não fez muito esforço nessa direção. Com exceção de Mongólia (Bernardo Carvalho, 2003), O sol se põe em São Paulo (Bernardo Carvalho, 2007), Rakushisha (Adriana Lisboa, 2007) e Nihonjin (Oscar Nakasato, 2013), em pouco ou quase nada forneceu cor ao cenário em que movimentam alguns personagens de descendência oriental. Ou seja, a literatura discursiva se contentou em ler a produção dos escritores do arquipélago. E é preciso fôlego de Musashi para dar conta dessa turma toda.
A literatura japonesa recebeu duas vezes o prêmio Nobel. O primeiro foi concedido em 1968 a Yasunari Kawabata. O segundo foi entregue a Kenzaburo Oe em 1994. Enquanto Kawabata sentia prazer em trabalhar temas psicológicos e eróticos, Oe enfrenta corajosamente a modernidade com os referenciais do após−guerra. Com estilos distintos – e inconfundíveis –, eles são as vigas mestras que sustentam essa construção multifacetada chamada de prosa nipônica. Os valores da sociedade feudal (honra, coragem, bravura e respeito às tradições sociais e políticas) aparecem nos romances e contos de Ryunosuke Akutagawa, Nagai Kafu, Natsume Soseki, Akira Yoshimura e Yukio Mishima.
Depois de 1945, ocorreram muitas mudanças no Japão. A influência do Ocidente transformou o país. Essa transição está delineada com precisão nos livros de Yasushi Inoque e Junichiro Tanizaki.
Contemporaneamente, os escritores japoneses que são publicados no Ocidente, mostram preocupação com os conflitos familiares e as questões sexuais. Textos como Kitchen (Banana Yoshimoto, 1995), Miso soup (Ryu Murakami, 2005), Sayonara, gangster (Genichiro Takahashi, 2006), Cobras e piercings (Hitomi Kanchara, 2007) e Quinquilharias Nakano (Hiromi Kawakami, 2010), entre outros, transitam por essas áreas turbulentas, deixando rastros de destruição e prazer por centenas de páginas.
No romance policial Do outro lado (Natsuo Kirino, 2009) ocorre um fenômeno curioso: um dos personagens secundários é brasileiro (acusado de estuprar funcionárias da fábrica em que trabalha). Enquanto aqui há reverência ao "Império do Sol Nascente", a visão antípoda parece não acompanhar o idealismo. E, como sempre acontece, a realidade se mostra muito mais cruel do que é possível imaginar.
Com a habilidade e a precisão de um arqueiro zen, Haruki Murakami é o escritor japonês contemporâneo mais surpreendente. Fã fanático do jazz, ex−dono de bar, sua escrita oscila entre a ficção científica e os dramas afetivos com igual competência e talento. A relação que estabelece com o Ocidente é de tal ordem que a balada amorosa Norwegian Wood (2005), por exemplo, poderia ter sido ambientada em qualquer lugar da Europa (trocados os nomes dos personagens e dos lugares).
Apesar de estar do outro lado do mundo, editoras como a Estação Liberdade (responsável pela publicação de alguns dos nomes e livros citados acima) vivem a nos lembrar que o Japão é aqui!
Adoro a literatura japonesa.
ResponderExcluirKawabata,Soseki,Kafu. Atualmente estou lendo naufrágios do Akira Yoshimura. Senti falta no texto, do Soseki, gosto muito da obra eu sou um gato.
Abraços