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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

QUE LINDOS SÃO OS JAPONESES

Parte da literatura brasileira sofreu grande influência da cultura japonesa. Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari (criadores da Poesia Concreta) por um lado, e Paulo Leminski de outro, todos admiradores fervorosos de Bashô, estreitaram laços afetivos com algumas palavras: haicai (que alguns grafam haiku), waka, tanka, koan e satori. A prosa, em compensação, não fez muito esforço nessa direção. Com exceção de Mongólia (Bernardo Carvalho, 2003), O sol se põe em São Paulo (Bernardo Carvalho, 2007), Rakushisha (Adriana Lisboa, 2007) e Nihonjin (Oscar Nakasato, 2013), em pouco ou quase nada forneceu cor ao cenário em que movimentam alguns personagens de descendência oriental. Ou seja, a literatura discursiva se contentou em ler a produção dos escritores do arquipélago. E é preciso fôlego de Musashi para dar conta dessa turma toda.

A literatura japonesa recebeu duas vezes o prêmio Nobel. O primeiro foi concedido em 1968 a Yasunari Kawabata. O segundo foi entregue a Kenzaburo Oe em 1994. Enquanto Kawabata sentia prazer em trabalhar temas psicológicos e eróticos, Oe enfrenta corajosamente a modernidade com os referenciais do após−guerra. Com estilos distintos – e inconfundíveis –, eles são as vigas mestras que sustentam essa construção multifacetada chamada de prosa nipônica. Os valores da sociedade feudal (honra, coragem, bravura e respeito às tradições sociais e políticas) aparecem nos romances e contos de Ryunosuke Akutagawa, Nagai Kafu, Natsume Soseki, Akira Yoshimura e Yukio Mishima.

Depois de 1945, ocorreram muitas mudanças no Japão. A influência do Ocidente transformou o país. Essa transição está delineada com precisão nos livros de Yasushi Inoque e Junichiro Tanizaki.

Contemporaneamente, os escritores japoneses que são publicados no Ocidente, mostram preocupação com os conflitos familiares e as questões sexuais. Textos como Kitchen (Banana Yoshimoto, 1995), Miso soup (Ryu Murakami, 2005), Sayonara, gangster (Genichiro Takahashi, 2006), Cobras e piercings (Hitomi Kanchara, 2007) e Quinquilharias Nakano (Hiromi Kawakami, 2010), entre outros, transitam por essas áreas turbulentas, deixando rastros de destruição e prazer por centenas de páginas.

No romance policial Do outro lado (Natsuo Kirino, 2009) ocorre um fenômeno curioso: um dos personagens secundários é brasileiro (acusado de estuprar funcionárias da fábrica em que trabalha). Enquanto aqui há reverência ao "Império do Sol Nascente", a visão antípoda parece não acompanhar o idealismo. E, como sempre acontece, a realidade se mostra muito mais cruel do que é possível imaginar.

Com a habilidade e a precisão de um arqueiro zen, Haruki Murakami é o escritor japonês contemporâneo mais surpreendente. Fã fanático do jazz, ex−dono de bar, sua escrita oscila entre a ficção científica e os dramas afetivos com igual competência e talento. A relação que estabelece com o Ocidente é de tal ordem que a balada amorosa Norwegian Wood (2005), por exemplo, poderia ter sido ambientada em qualquer lugar da Europa (trocados os nomes dos personagens e dos lugares).

Apesar de estar do outro lado do mundo, editoras como a Estação Liberdade (responsável pela publicação de alguns dos nomes e livros citados acima) vivem a nos lembrar que o Japão é aqui!

Um comentário:

  1. Adoro a literatura japonesa.
    Kawabata,Soseki,Kafu. Atualmente estou lendo naufrágios do Akira Yoshimura. Senti falta no texto, do Soseki, gosto muito da obra eu sou um gato.

    Abraços

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