1) Os adjetivos passam, os substantivos ficam.
2) Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular.
3) Marcela amou−me durante quinze meses e onze contos de réis.
4) Sua alma era uma fonte de duas bicas, vertia mel por uma e vinagre por outra.
5) Coelho tinha mais ambições que dinheiro, e não há pior situação que a de um homem cujo espírito está acima das algibeiras.
6) Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos.
7) O amor é uma carta, mais ou menos longa, escrita em papel velino, corte−dourado, muito cheiroso e catita; carta de parabéns quando se lê, carta de pêsames quando se acabou de ler.
8) O amor contrariado, quando não leva a um desdém sublime da parte do coração, leva à tragédia ou à asneira.
9) As aparências enganam; foi a primeira banalidade que aprendi na vida, e nunca me dei mal com ela.
10) A beleza é como a bravura; vale mais se não a mentem à cara dos outros.
11) Só a beleza intelectual é independente e superior. A beleza física é irmã da paisagem.
12) Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens, que de um terceiro andar.
13) O melhor dos bens é o que se não possuí.
14) É que o boato – não me refiro ao boato das simples notícias que envolvem caráter público e interesse comum – é uma das mais cômodas invenções humanas, porque encerra todas as vantagens da maledicência, sem os inconvenientes da responsabilidade.
15) Miloca não era cruel; pelo contrário, tinha sentimentos caridosos; mas, como ela mesma disse um dia ao pai, nunca se deve dar esmolas sem luvas de pelica, porque o contato da miséria não aumenta a grandeza da ação.
16) Então considerou que esse coração abandonado, tiritando de frio na rua, podia ela recebê−lo, agasalhá−lo, dar−lhe o principal lugar, numa palavra, casar com ele.
17) Sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocados jurídicos, máximas, é de bom aviso trazê−los contigo para os discursos de sobremesa, de felicitações ou de agradecimento.
18) Tinha cóleras, que duravam o tempo das opiniões; minutos apenas.
19) Na escola não briguei com ninguém, ouvia o mestre, ouvia os companheiros, e se alguma vez estes eram extremados e discutiam, eu fazia de minha alma um compasso, que abria as pontas aos dois extremos.
20) A consciência é o mais cru dos chicotes.
21) Um contador de histórias é justamente o contrário de historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias. Por que essa diferença? Simples, leitor, nada mais simples. O historiador foi inventado por ti, homem culto, letrado, humanista; o contador de histórias foi inventado pelo povo, que nunca leu Tito Lívio, e entende que contar o que se passou é só fantasiar.
22) Tinha o coração disposto a aceitar tudo, não por inclinação a harmonia, senão por tédio à controvérsia.
23) O coração humano é a região do inesperado.
24) O destino, como todos os dramaturgos, não anuncia as peripécias nem o desfecho. Eles chegam a seu tempo, até que o pano cai, apagam−se as luzes, e os espectadores vão dormir.
25) A diplomacia me ensinou a aturar com paciência uma infinidade de sujeitos intoleráveis que este mundo nutre para os seus propósitos secretos.
26) Caí da poltrona; não me dividi fisicamente, como me parecera em criança; mas moralmente desdobrei−me em dois, um que imprecava, outro que gemia.
27) O ruído não é a eloqüência.
28) Conhecia as regras do escrever, sem suspeitar as do amar; tinha orgias de latim e era virgem de mulheres.
29) Escrevi−a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio.
30) Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
Muito legal Raul! Que estranha linguagem era daqueles tempos!
ResponderExcluirEram outros tempos e outros modos. Aliás, sempre vale recordar que Machado perguntou, em um de seus poemas: "Mudaria o Natal ou mudei eu?". E isso vale para a linguagem (e, por extensão) para a modernidade. Enfim, o mundo mudou ou mudamos nós (eu, você)?
ResponderExcluirGostei muito do católogo!!!
ResponderExcluirApropriei-me desta frase: "O coração humano é a região do inesperado."
No fundo, no fundo, parece que ele parafraseou um pouquinho Blaise Pascal.
Adoro Machado!!!! Compartilhei! Parabéns Amigo!!!!
ResponderExcluirMaravilhoso, Machado ❤
ResponderExcluirSou Machadiana😀😁capitou?
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