quarta-feira, 10 de agosto de 2011
CENAS TEATRAIS
O pior teatro sempre será bom teatro. Foi com esse pensamento (ingênuo) que desembolsei R$ 40,00 para assistir Balaio de gatos – uma comédia de peso, com Fabiana Karla e Leandro da Matta. Não é toda semana que a aldeia recebe uma atriz global, dessas que preenchem a telinha com algum talento, mesmo que seja em ritmo de “Zorra Total”.
Teatro lotado. Muitas figurinhas carimbadas posando de coadjuvantes no espetáculo paralelo que a platéia encena nessas ocasiões. Parte da diversão está no observar o exibicionismo social. Enquanto aguardavam pelo início da peça, vários bustos plastificados desfilaram alegremente pelo foyer. Alguns estavam cobertos por casacos de grife. O ambiente contaminado pela exótica mistura de naftalina e perfume contrabandeado do Paraguai causou espirros veementes nos narizes mais sensíveis. Ao fundo, fingindo discrição, meia dúzia de pequenos−burgueses falava em voz alta, na vã tentativa de exibir a cultura que não possuem. O de sempre. Sem tirar nem pôr, que a novidade não costuma passear por esses ambientes, nem mesmo nos dias em que há convidados.
Pontualidade britânica. A peça começou no horário programado, nem um minuto de atraso. A província reagiu adequadamente a esse profissionalismo: nos quinze primeiros minutos, várias pessoas atrasadas. Sussurros fingidamente constrangidos encobriram o espetáculo principal, aquele que estava tentando se desenvolver em cima do palco. Tentando é a forma educada com que devemos tentar esconder as deficiências. A soma da acústica sofrível do teatro com a falta de extensão de voz de Fabiana Karla resultou em grande prejuízo auditivo para quem estava interessado no ato cênico. Em alguns momentos, muitos alguns momentos, parte das falas soaram como murmúrios, sons longínquos.
Para compensar, Leandro da Matta, um ator de verdade, em nenhum momento comprometeu o seu papel de "escada". Como possui uma voz adequada para esse tipo de encenação e estava ciente de que a "estrela" da noite era de outra grandeza, coube-lhe a ingrata tarefa de ajudar no possível − tentativas trôpegas de corrigir o andamento trôpego de sua companheira de palco.
Comédia rasgada, dessas que não se constrangem de repetir os chavões, Balaio de gatos – uma comédia de peso está escorada em um propósito elementar: arrancar risadas do público. A qualquer custo. "Cacos" incluídos no preço do ingresso – e foram muitos, muitos. O bom desses momentos é que o público não se fez de rogado, como se costuma dizer no Planalto Catarinense. O riso foi farto. Sem constrangimento.
O espetáculo durou uma hora e meia. Na saída foi possível assistir outras cenas igualmente hilárias. Alguns espectadores mais entusiasmados prometiam voltar em todas as ocasiões. Em alto e bom som proclamavam que “teatro é cultura, precisamos apoiar mais esse tipo de iniciativas”. Como a noite era de comédia, o bom-senso recomendou esquecer essa tragédia.
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Quando falo que a cultura no Brasil está engatinhando, se fazem de desentendidos. Ah, e digo mais, hoje, os tempos modernos, desde o advento da Globo na televisão, temos a verdadeira sociedade globolística!
ResponderExcluirConcordo!
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