− Um monge e um açougueiro brigam no interior de cada desejo.
− Todo pensamento deveria lembrar a ruína de um sorriso.
− Um livro de guerra – o de Clausewitz – foi o livro de cabeceira de Lênin e de Hitler. E ainda se pergunta por que este século está condenado!
− Há almas que nem o próprio Deus poderia salvar, ainda que se pusesse de joelhos e rezasse por elas.
− O espermatozóide é o bandido em estado puro.
− Quem não conhece a humilhação ignora o que é chegar ao último grau de si mesmo.
− Quem não viu um bordel às cinco da manhã não pode imaginar para que lassitudes se encaminha o nosso planeta.
− Cada dia é um Rubicão no qual desejo me afogar.
− O Real me dá asma.
− Se Noé tivesse o dom de prever o futuro, teria certamente naufragado.
− Somos todos farsantes: sobrevivemos a nossos problemas.
− Todas as águas são cor de afogamento.
− Em contato com os franceses se aprende a ser infeliz gentilmente.
− O erro da filosofia é ser demasiado suportável.
− Fracassar na vida é ter acesso à poesia – sem o suporte do talento.
− Só os espíritos superficiais abordam as idéias com delicadeza.
− Por necessidade de recolhimento, livrei−me de Deus, desembaracei−me do último chato.
− A insônia é a única forma de heroísmo compatível com a cama.
− Só enlouquecem os tagarelas e os taciturnos: os que se esvaziam de todo mistério e os que o acumulam demasiado.
− Nos momentos mais cruciais da vida, a ajuda do cigarro é mais eficaz que a dos Evangelhos.
− A morte se espalha tanto, ocupa tanto lugar, que não sei mais onde morrer.
− Como todo iconoclasta, destrocei meus ídolos para consagrar−me a seus restos.
− A história das idéias é a história do rancor dos solitários.
− Só se entregam ao tédio as naturezas eróticas, decepcionadas de antemão pelo amor.
− Onan, Sade, Masoch, que felizardos! Seus nomes, assim como suas proezas, não envelhecerão jamais.
− Quem se mata por uma mulherzinha vive uma experiência mais completa e profunda do que o herói que altera a ordem do mundo.
− Há dois mil anos que Jesus se vinga de nós por não haver morrido em um sofá.
− A dignidade do amor consiste no afeto desiludido que sobrevive a um instante de baba.
− Quando nem sequer a música é capaz de salvar−nos, um punhal brilha em nossos olhos; nada mais nos sustenta, a não ser a fascinação do crime.
− Ser um Raskolnikov – sem a desculpa do homicídio.
− Temo um homem político que não dá sinal de caduquice.
− Quanto maior é minha intimidade com os crepúsculos, mais me convenço de que os únicos que compreendem algo de nossa horda são os humoristas, os charlatões e os loucos.
− Feliz no amor, Adão teria nos poupado da História.
− O segredo de minha adaptação à vida? Mudei de desespero como quem muda de camisa.
− Evolução: Prometeu, hoje em dia, seria deputado da oposição.
− A criação foi o primeiro ato de sabotagem.
− Algumas gerações mais e o riso, reservado aos iniciados, será tão impraticável como o êxtase.
− Chopin elevou o piano à condição da tuberculose.
− A carne é incompatível com a caridade: o orgasmo transformaria um santo em lobo.
− Macbeth: um estóico do crime, um Marco Aurélio com um punhal.
− Prolixa por natureza, a literatura vive da pletora de vocábulos, do câncer da palavra.
Oi Raul, por que me proibiste de comentar teus textos? Que pena!! MPerez
ResponderExcluirMarlene: nunca fiz isso, jamais farei.
ExcluirQue livro interessante!
ResponderExcluirNa verdade não é ele (Cioran) que é pessimista, a vida é que é péssima: e poucos percebem, ainda bem. Para enxergar é preciso uma lente de longo alcance, talvez um olhar de águia. E assim vivamos a vida de Sísifo.
ResponderExcluirVerdade, ainda bem que a humanidade acredita nas mais diversas espécies de santidades, mesmo matando e morrendo. Isso não é bom nem ruim.
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