Ficar em casa ou sessão de cinema? Não foi possível resistir à segunda opção. Principalmente em um sábado à tarde. Estar diante da tela grande (acompanhado por refrigerante e pipocas) é uma forma de dizer (para si mesmo) que a sanidade só se mantém quando estamos afastados do estresse que vigora lá fora, lá naquela parte da realidade que os chatos chamam de responsabilidade ou trabalho. É com ajuda da arte (em muitos casos, de algo que não é arte, mas parece ser arte) que é possível ampliar o prazer de viver. Há uma deliciosa tranqüilidade quando damos vazão a essa insensatez que é o deixar o mundo ser embalado pelo compasso de espera.
Para quem mora na província, uma das boas coisas das sessões no sábado a tarde é a sensação de isolamento. Geralmente a sala de projeções está vazia. Durante uma hora e meia ou duas a penumbra não se dissolverá em outras atividades. Nenhum pré−adolescente carente fará algazarra. Lá nos fundo não estarão sentados os casais de namorados sedentos de saliva. As vozes de quem escolheu o cinema para colocar em dia as fofocas da semana não interromperão o filme. Não há chances de algum jogador de basquete estar sentado exatamente na nossa frente. Parece até mágica: somente freqüentam esses horários aqueles que vão ver o filme!
O cinema nacional contemporâneo melhorou muito. Principalmente quando deixou de lado a seriedade. Felizmente, aqueles que a crítica considera os "melhores" diretores brasileiros pararam de tentar imitar a genialidade de Glauber Rocha. Não é possível suportar pseudo−intelectual discutindo a luta de classes no país dos cafajestes. Essa coisa pedante que eles chamam de "cinema verdade" ou, sei lá, qualquer outra classificação igualmente medíocre, não sabe se divertir. Aliás, eles desconhecem a diversão. Qualquer tipo de diversão. O espectador que assistiu aos últimos trabalhos de Fernando Meirelles, José Padilha ou Arnaldo Jabor provavelmente perdeu a fé na existência de uma cinematografia que não esteja comprometida com a chatice. Não bastasse isso, cinema não é (ou não deveria ser) uma luta enraivecida por recordes de bilheteria.
Fui assistir Cilada.com (Dir. José Alvarenga Júnior, 2011). Não é bom. Nem mediano. Protagonizado por Bruno Mazzeo, o filme está estruturado em alguns lugares−comuns do universo masculino. E parte do problema é exatamente esse. Em alguns momentos parece ser apenas um capítulo ruim do seriado que fez sucesso no canal a cabo Multishow. Sem a descontração do programa de televisão, auxiliado por um roteiro fraco e piadas ruins, o que sobra é a falta de identidade. Ou melhor, a falta de humor. Principalmente aquele mau humor, aquela rabugice, que o espectador esperava encontrar na franquia "Cilada". O resultado desse blefe é um trabalho melancólico, ridiculamente patético. Nem mesmo a belíssima Fernanda Paes Leme ajuda a salvar o desastre.
Em contrapartida, nas locadoras é possível encontrar cópia de Desenrola (Dir. Rosane Svartman, 2011), uma comédia adolescente sem grandes pretensões, exceto reinterpretar nova velha versão de uma historinha bem conhecida, a da crise de identidade dos jovens que estão procurando pela porta de entrada no mundo adulto. Ajudado por um roteiro bem estruturado, o filme desliza tranquilamente até o desfecho. O excelente Lucas Salles responde por parte dessa ausência de atrito.
Nesse ritmo de semi−dramas adolescentes, misturando lirismo, rituais de passagem e a aquisição do conhecimento, o mercado brasileiro foi abastecido, recentemente, com algumas produções de boa qualidade. Não são filmes para ganhar festivais ou arrecadarem fortunas. Antes de qualquer coisa, esses trabalhos estão comprometidos com o entretenimento. E isso, inquestionavelmente, é uma qualidade. Exemplos dessa tendência são, entre outros, Antes que o mundo acabe (Dir. Ana Luiza Azevedo, 2009) e As melhores coisas do mundo (Dir. Lais Bodanzky, 2010)
Misturando diversas situações, Cinco vezes favela – agora por nós mesmos (Dir. Manaíra Carneiro e Wawá Novais, Rodrigo Felha e Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcelos, Luciana Bezerra, 2010) lança um novo olhar de esperança para o cinema brasileiro. Mesmo sendo um filme de episódios, onde alguns estão melhor resolvidos do que outros, o conjunto revela sensibilidade, talento e um gostinho de quero mais. Quantos filmes são capazes de fornecer essa sensação?
E, para não dizer que não falei de flores, na primeira fila da frente do renascimento desse cinema mais solto, menos comprometido com o sensacionalismo, não se deve esquecer que ainda há espaço para o humor escrachado, non−sense, do ótimo De pernas pro ar (Dir. Roberto Santucci, 2010), onde a genial Ingrid Guimarães mostra com quantas piadas se constrói uma comédia. Uma excelente comédia.
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