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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

CONTRA O BRASIL, A FAVOR DA LITERATURA


Nunca, em toda a historia da cultura brasileira, a idolatrada salve salve foi tão maltratada. Nunca. Inclusive porque do ponto de vista literário, cuspir no prato em que comeu é um sentimento novo. Na terra em que o bispo Sardinha foi deglutido por motivos mais fúteis, a tônica sempre foi a da louvação, do sabujismo e do delirante ufanar. Ofender a pátria−mãe gentil configura crime inafiançável, digno de degredo e ostracismo (intermediados por sessões disciplinadoras no pau−de−arara mais próximo. Chibatadas em praça pública também podem ser consideradas como um exercício pedagógico. Urge impedir que os abusados não repitam o atrevimento).

Diogo Briso Mainardi não embarca na canoa dos contentes. O seu lema pessoal é baixar a ripa no lombo daqueles que considera medíocres − uma categoria animal abundante em nossas desmatadas florestas tropicais. Coerente com os conceitos literários que procura defender, imaginou que o paraíso terrestre está na contracorrente. Tanto em teoria como na prática. Quem lê as resenhas literárias ou as crônicas que publicou na revista Veja enche os olhos de divertimento e deboche. Esses textos, escritos com a tinta do mais puro fel, vão espargindo pelas páginas um solene e solerte desprezo pelas literatices e vaidades pequeno−burguesas. A alegria do enfant terrible está em delícias como entre mortos e sobreviventes saldo zero. E dá−lhe tiro de canhão (algumas vezes contra passarinho). Batalhas ganhas em uma guerra perdida? Talvez. Mesmo assim, o ilustre escritor, ao apontar defeitos e deslizes, vai criando uma legião de inimigos (e, não poderia ser diferente, um exército de fãs. Meno male).

Atualmente, nas horas de folga, o ilustre escritor vai levando a vida de gôndola – quase feliz na segunda dentição de seu auto−exílio em Veneza. Quase, pois alguns problemas familiares estão atrapalhando a vida. Embora tenha jurado nunca mais escrever ficção, vai levar para o túmulo uma pequena bagagem literária (quatro romances, alguns livros de crônicas e dois roteiros cinematográficos). Como bônus por tanto esforço, a crítica (e os adversários) normalmente torcem o nariz para tudo o que ele escreveu. Petulante é uma palavra sagrada quando Diogo Mainardi é o verbete consultado na enciclopédia dos insultos da vaidade brasileira.

Contra o Brasil, o seu último filho ficcional, foi publicado em 1998. Como de costume, poucos foram os que renderam homenagens ao escriba. Ressentido, Narciso acha feio tudo o que não é espelho. Caetano dixit.

O problema é que essa rejeição não se restringe, basicamente, à estética do umbigo. Nada disso. O buraco é muito, muito mais embaixo. Literal e literariamente.

Assim como Ulisses, de James Joyce, foi escrito para acabar com todos os romances, guardadas as devidas proporções e qualidades, Contra o Brasil queria mudar os cânones tupiniquins, mostrando um pouco do lado obscuro da lua. É uma proposta audaciosa e arrogante, como tudo o que caracteriza o estilo Mainardi. Estranhamente, se, porventura, o livro não causou a ruptura definitiva, inegavelmente chegou perto. Escandalosamente perto.

Pimenta Bueno, o protagonista de Contra o Brasil, é, na falta de um termo mais adequado, admirável. Seguramente, já garantiu o seu lugar no panteão da imortalidade, pois faz oposição direta aos ideais estupidificantes do nacionalismo brazuca. Sem qualquer psicologismo ou profundidade, e se exprimindo em ritmo afetado, pseudo−teatral, Pimenta Bueno adora enumerar citações venenosas contra esse pedaço de terra que os portugueses adoravam saquear na época da colonização. Parece uma metralhadora giratória. Entre o drama e a comédia, entre o desprezo e a esculhambação, Claude Lévi−Strauss, Giuseppe Ungaretti, August de Saint−Hilaire, Charles Darwin, Gilberto Freire, Joseph Arthur de Gobineau, Albert Camus, Jean−Paul Sartre e outros menos votados aparecem saltitantes no texto, em forma das frases que disseram ou escreveram contra o Brasil. Obviamente, algumas só são imagináveis na ficção. É o horror, o horror!

Com a falta de caráter típica do brasileiro que adora dar um jeitinho toda vez que se encontra em dificuldades, Pimenta Bueno quer mais é vencer na vida. Se alguém estiver no meio do caminho, ele pisa por cima e, logo em seguida, reclama da falta de competência dos governantes que não providenciaram estradas mais confortáveis para a sua trafegabilidade. Remorso? Jamais. Para quê? Como um personagem de opereta bufa, o sujeito se alimenta de desprezo absoluto. E para justificar o paradoxo que o cerca, arremata: O Brasil é o reino da impunidade.

Contra o Brasil foi construído sobre um conjunto de citações enciclopédicas, o que lembra (de longe, muito longe) o pós−modernismo. Ao mesmo tempo, remete ao humorismo (e, óbvio, ao humanismo) de autores como Jonathan Swift, Voltaire, Miguel de Cervantes. A idéia é satirizar, desmistificar, mostrar que somos reféns de uma ideologia nacionalista hipócrita que dispensa a crítica e a razão. O ufanismo modelar da dupla caipira Conde Afonso Celso e Policarpo Quaresma somado ao pavoroso e antigramatical slogan Brasil: ame−o ou deixe−o (entre outras manifestações de apreço e puxa−saquismo) transformaram o país do carnaval em uma terra sem máculas, sem defeitos, sem pecados.

Diogo Mainardi, maître à penser extemporâneo, cheio de deboche e força, mostra em Contra o Brasil, como naquela fábula de Hans Christian Andersen, que o rei está nu.

Um comentário:

  1. Ediberto José Soares Soares
    NÃO É REVOLTA, SÓ UMA PERGUNTA?
    Autor: Edilberto José Soares
    Betopoeta2011@hotmail.com
    Diante das Revoluções no Oriente, das Manifestações na Europa, e nas Américas, das misérias
    da Africa. Mas, Principalmente Diante da indiferença do povo brasileiro, que só querem saber dos jogos
    pan americanos, campeonato brasileiro, a visita de pelé em israel, contudo nesta republica dos bananas,
    Ninguém está nem ai para a corrupção descarada em todas as instituições, para o Genocídio do povo brasileiro
    Aonde, já foram Assassinados mais de (Quatro Milhões) 4000.000 de Brasileiros, neste últimos vinte anos de
    democracia , sem falar dos Milhões de Brasileiros Assassinados nos leitos dos hospitais.Diante de tudo isto! Sendo
    o Brasileiro que Sou.... Eu que já andei em todos os puteiros desta Pobre rica Nação, assim com Autoridade posso
    Afirmar com Convicção, que À Maior PROSTITUTA DESTA PROSTITUÍDA NAÇÃO TEM NOME, E SEU NOME É
    CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL. Eu venho aqui somente perguntar aos sábios senhores, que todas as vezes
    que Nos Omitimos diante Destas Covardias e Atrocidades, não nos Tornamos tão Criminosos quanto os Executores destas
    Barbaridades? Todas as Vezes que nos Calamos Não estamos Assassinando o Futuro dos Nossos Filhos e netos.
    A crise Global vai se agravar, se não nos unirmos Ricos e Pobres do Brasil, seremos esmagados como insetos, pois ela chegou
    A TERCEIRA ONDA, A REVOLUÇÃO DE TODAS AS COISAS DO PLANETA, No Reino deles só há espaço para os muitos Ricos, os Bilionários de muitos bilhôes, voce pobre milhionários, estão fora.... quanto aos pobres diabos dos dito pacato cidadões como eu chamados de povo! Tamos lascados mesmo, pois somos peso sobre a terra, não precisam mais da nossa mão de obra barata, agora eles tem as maquinas
    ACORDA POVO BRASILEIRO... BEM VINDOS AO SÉCULO XXI. BOM DIA BRASIL, BOM DIA NOVA ERA.....
    Rio de Janeiro 19 de Outubro de 2011.

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