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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

AS AVÓS

Amigas a vida toda. Da infância até a velhice, Rozeanne (Roz) Struthers e Liliane (Lil) Western repartiram o existir como se fosse um bem−comum. Sempre moraram próximas. Sabiam se defender, lutavam pelas próprias causas e pelas da outra também. "Como irmãs", diziam as pessoas, e até mesmo: "Como gêmeas". Foram à universidade, casaram, tiveram filhos. Uma ficou viúva, a outra se separou do marido. Na companhia dos filhos, Thomas e Ian, deixaram o tempo escorrer lentamente – sempre juntas. Quando os rapazes tinham cerca de dezessete anos, elas compartilharam algo diferente, algo que ainda não haviam experimentado.

Essa é a sinopse de uma pequena novela escrita por Doris Lessing, As avós, publicada no Brasil, em 2007. Apenas 88 páginas de um texto que não apresenta grande complexidade, a leitura escorre límpida pelos olhos do leitor. O prazer de ler. E de surpreender o leitor com o inusitado.

Em determinado momento, a narrativa se desloca sutilmente das mulheres para os filhos: (...) eram belos, despreocupados, com um algo a mais, um ar de quem está saciado, como se vivessem passado a vida mergulhados em prazeres e, agora, retribuíssem em forma de ondas invisíveis de contentamento. Assim como as mães, eles cresceram juntos, compartilharam a infância e a adolescência, eram inseparáveis. Tom, o filho de Roz, era bem−humorado e atleta; Ian, o filho de Lil, melancólico e frágil – Dois meninos, loiros e agradáveis, todos diziam que podiam ser irmãos.

No fim da adolescência, foi Ian quem deu o primeiro passo. No meio da noite. No dia seguinte, depois do jantar, foi a vez de Tom. Gostaram. Muito. Repetiram durante mais de dez anos. O sabor do proibido contaminou suas vidas.

Foram as inevitáveis trapaças da sorte que mudaram o script. Tom, que havia herdado o gosto pelo teatro de sua mãe, foi passar algum tempo na casa do pai (que havia casado outra vez, que tinha outros filhos). Foi lá que conheceu Mary, foi lá que descobriu outros prazeres sexuais. No casamento, Ian foi o padrinho.

Roz e Lis concluíram que, para o bem de todos, deveria haver outra união. Hannah, uma amiga de Mary, entra em cena, como se fosse outra imagem especular, nesse jogo de fazer caretas diante do espelho.

Apesar dos protestos de Ian, os casamentos prosperaram. E todos continuaram a se encontrar − como se nunca tivessem se separado − nos Dentes de Dexter, a praia onde todos moravam.

A história que havia iniciado com as duas amigas (que, em determinado momento, próximas da velhice, passaram a viver juntas) se multiplicou. Primeiro, com os maridos, depois com os filhos. Sempre aos pares (2, 4, 6, 8), voltou a aumentar. Com as noras e as duas netas.

Um dia, Mary encontrou algumas cartas antigas − que Tom havia escrito para Lil. Perplexa, não precisou fazer muito esforço para perceber o que havia acontecido. Descobriu que o proibido tinha sabor amargo.


Doris May Lessing ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2007. Escreveu romances, contos, ensaios, memórias. Faleceu em 2013.

2 comentários:

  1. Nesta sinopse ficou levantado o véu do interesse.
    Obrigada pela partilha.
    abraço
    oa.s

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  2. OceanoAzul. Sonhos: O que será que aconteceu entre eles? Pois é, só lendo para descobrir. E se você nao conhece Doris Lessing, recomendo!

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