segunda-feira, 10 de outubro de 2011
DOR RIMA COM AMOR
O mais banal dos temas artísticos é o amor. O que se gastou de tinta e saliva para descrevê−lo nem mesmo Einstein seria capaz de calcular. Parte significativa da literatura de ficção sente especial prazer ao passear nesse bosque profundo que envolve os caprichos da sedução, os desvarios de conquista, os desatinos da paixão e os rituais sexuais. Ou seja, por todas essas vertigens que, de uma forma ou de outra, traduzem o conceito (muitas vezes pouco romântico) do amor. Sempre há lugar, em uma folha de papel, para descrever a dor infinita da procura ou da separação – causada pela pessoa amada.
O escritor inglês Hanif Kureishi, filho de paquistanês com uma inglesa, é um mestre no desvendar essas dolorosas sutilezas.
Em 1985, o roteiro do filme My beautiful laundrette (Minha adorável lavanderia), dirigido por Stephen Frears, lhe rendeu a indicação ao Oscar de melhor roteiro original. Não levou a estatueta. No entanto, a parceria frutificou e Frears filmou, algum tempo depois, Sammy and Rose get laid (Sammy e Rose). Desde então, alternando cinema e literatura (peças de teatro, romances, contos, roteiros de cinema), Kureishi construiu uma carreira intensa. Alguns de seus livros foram publicados no Brasil: O Buda do subúrbio, O álbum negro, O dom de Gabriel, Intimidade, O corpo e outras histórias (contos) e Tenho algo a te dizer. Também foi publicado o volume memorialista: No colo do pai.
A tristeza é constante na novela Intimidade (publicada no Brasil em 2000). Na noite que antecede sua saída da casa em que vive com a esposa, Jay relata um pouco de sua história. Fala da mulher, dos dois filhos, da amante, dos amigos, das qualidades e defeitos da vida familiar. Descobre que a insatisfação é uma constante. Os desgastes foram tantos que não é possível evitar a ruptura. A única alternativa racional, para evitar novas feridas, é abandonar a família. Essa decisão implica em aceitar que a solidão terá um peso maior em sua vida – talvez insuportável.
Mesmo assim, sair de casa é um ato de coragem – pelo menos neste caso específico. Diante do imponderável, nada mais lhe resta senão admitir o fracasso afetivo. Simultaneamente, deixar para trás a família é uma afirmação de esperança – existirão outras oportunidades (e outros desapontamentos). Cabe apostar nas incertezas do futuro.
Sem pretensões grandiloqüentes, sem fazer acusações gratuitas, sem cair no choro sentimentalóide, Jay estabelece a arqueologia da dor. E tempera o seu monólogo com frustração, culpa e carência.
De posse de uma consciência amarga, dessas que se escondem nos silêncios (cortantes como punhais), nas frases banais e no rancor velado, o narrador parece sincero. As iniqüidades masculinas não impedem que a honestidade se pronuncie. É difícil não ficar comovido com esse homem que está a falar, os olhos úmidos, de coisas que, em dias normais, jamais conseguiríamos pronunciar. Jay é, de certa forma, a imagem do homem contemporâneo – mas que a modernidade não nos deixa ver.
Há uma versão cinematográfica complicada, baseada em trechos de Intimidade (Intimacy. Dir. Patrice Chéreau, 2001).
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Raul, sempre bom ler seus apontamentos. Este, um tema sempre tratado em grande escala, escrito e realizado pelos mais diversos mestres da palavra e da arte de encenar e representar.
ResponderExcluirAbordado de forma mais conservadora ou mais aberta, será sempre um tema actual e instigador.
abraço
oa.s
OceanoAzul.Sonhos: E o tema fica melhor, quando quem o aborda é excelente escritor! Beijos!
ResponderExcluirEu gostei bastante desse filme e recomendo àqueles que ainda não viram...
ResponderExcluirAos que não viram... o mesmo pode ser baixado pleo blog:
http://dropboxgls.wordpress.com/
Baixe este e muitos outros filmes gratuitamente e sem aborrecimentos com mega,file,rapid e etc...
Um abraço e bom filme a todos...