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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

OUTRAS TRINTA FRASES DE MACHADO DE ASSIS

1) Nada há mais feio que dar pernas longuíssimas a ideias brevíssimas.

2) A esposa é apenas uma casaca, traje comum; a hetaira é uma farda agaloada de ouro.

3) Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito.

4) Eu sei que Vossa Excelência preferia uma delicada mentira; mas eu não conheço nada mais delicado que a verdade.

5) O infeliz namorado tinha o sestro, aliás comum, de querer ver quebrada ou inútil, a taça que ele não podia levar aos lábios.

6) A vida é uma ópera bufa com intervalos de música séria.

7) Vão esforço, inútil esforço. Mergulhava naquele Jordão sem sair batizado.

8) A gratidão de quem recebe um benefício é sempre menor que o prazer daquele que o faz.

9) Se a missão do romancista fosse copiar os fatos, tais quais eles se dão na vida, a arte era uma coisa inútil; a memória substituiria a imaginação.

10) A História é pessoa entrada em anos, gorda, pachorrenta, meditativa, tarda em recolher documentos, mais tarda ainda em os ler e decifrar.

11) Antes do poeta mostra−se o homem, antes do talento o caráter.

12) José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental as idéias; não as havendo, servia a prolongar as frases.

13) Todo aquele castelo de vento, laboriosamente construído nos seus dias de ilusão, todo ele se esboroava e desfazia, como vento que era.

14) A irmã olhou silenciosamente para ele, e admirou consigo mesma a ventura daqueles para quem as tempestades do ar importam mais que as tempestades da vida.

15) Quando a gente não pode imitar os grandes homens, imite ao menos as grandes ficções.

16) Era vaidoso como um tolo e tolo como um vaidoso.

17) Dizem que cozinha e política não devem ser feitas às claras, porque faz perder o gosto... Do jantar.

18) Não há mal que não traga um pouco de bem, e por isso é que o mal é útil, muita vez indispensável, alguma vez delicioso.

19) Ia cheia de perfumes e bálsamos; o rapaz respirou−lhos sem querer, e pela primeira vez sentiu a vertigem que pode causar uma mulher quando sabe escolher os aromas do seu uso.

20) A paciência é a gazua do amor.

21) Há casos em que a indignação silenciosa é o mais eloqüente comentário.

22) Felizes aqueles cujos dias correm com a insipidez de uma crônica vulgar. Geralmente os dramas da vida humana são mais toleráveis no papel que na realidade.

23) O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.

24) Viver é lutar; e morrer é acabar lutando, que é outro modo de viver. Não sei se me entendem. Eu não me entendo. Digo coisas assim, à laia de trocado engenhoso, para tapar o buraco de uma idéia. É o nosso ofício de pedreiros literários.

25) Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola−se mais ou menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.

26) Há um bom costume na Índia, que eu quisera ver adotado no resto do mundo, ou pelo menos aqui no Rio de Janeiro. A visita não é que se despede; é o dono que a manda embora.

27) Não é mal esse costume de escrever o que se pensa e o que se vê, e dizer isso mesmo quando não se vê nem pensa nada.

28) Não era magro nem gordo, nem alto nem baixo; mediano em tudo, exceto na inteligência, que era ínfima.

29) Como vês, Capitu, aos quatorze anos, tinha já idéias atrevidas, muito menos que outras que lhe vieram depois; mas eram só atrevidas em si, na prática faziam−se hábeis, sinuosas, surdas, e alcançavam o fim proposto, não de salto, mas aos saltinhos.

30) Leio por instruir−me; às vezes por consolar−me. Creio nos livros e adoro−os.

2 comentários:

  1. bom dia parabens por esse espaço é realmente uma delicia de ler. gostaria de saber de vc em qual livro de machado de assis encontra-se a frase ") Viver é lutar; e morrer é acabar lutando, que é outro modo de viver. Não sei se me entendem. Eu não me entendo. Digo coisas assim, à laia de trocado engenhoso, para tapar o buraco de uma idéia. É o nosso ofício de pedreiros literários. Vc poderia me ajudar por favor .

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  2. Depois de um tempo de procura, localizei a citação. Minha referência foi o livro "Machado de A a X" - um dicionário de citações", organizado por Lucia Leite Ribeiro Prado Lopes (Editora 34, 2001). A citação está na página 354 e se refere a uma crônica publicada no jornal "A Semana", no dia 24 de maio de 1896.


    Em outras palavras, para obter o contexto total, você deve procurar por coletâneas das crônicas publicadas no jornal "A Semana" (há umas duas ou três no mercado, inclusive, se não estou enganado, uma organizada pelo John Gledson). Ou então, ir à fonte original, creio que a Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro) deve ter esse material.


    Espero ter sido útil!

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