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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A ÁRVORE DA VIDA


A associação entre o "talento" de Terrence Frederick Malick (diretor de The thin red line, 1998) e o dinheiro do marido da Angelina Jolie na produção e direção do filme A árvore da vida (The tree of life, Dir. Terrence Malick, 2011) resultou em duas longas horas e quinze intermináveis minutos de verniz pseudo−inteligente, simulacro do filme de "griffe", aquele que parece fornecer cultura, mas que − nestes tempos em que o capitalismo predatório determina as regras do mercado de consumo − está ansioso por ver os números fornecidos pelas bilheterias.

A árvore da vida, que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2011, não é um filme ruim – é, apenas, pretensioso. E beira, perigosamente, o tédio. Em alguns momentos parece teatro filmado − que é o outro nome do cinema artificial. A ambição de construir um grande poema visual ou de captar a essência e a fragilidade da vida não se efetiva. Fica no arremedo. E a participação decorativa de atores "estelares" como Brad Pitt, Sean Penn e Jessica Chastain não melhora o panorama. A condução dramática da película fica por conta dos meninos Hunter McCracken, Laramie Eppler e Tye Sheridan – nomes quase escondidos na ficha técnica.

As diversas estruturas alegóricas – lançadas na tela através de imagens da natureza (vulcões em erupção, ondas gigantes, por−do−sol na praia) – não conseguem extrair algo mais significativo do que o maneirismo proposto pela montagem: planos abertos e lentos, travellings em quantidade, roteiro fragmentado, música elegíaca e narrativa sussurrada. Os elementos acessórios foram promovidos a protagonistas, substituindo inexoravelmente a ausência (ou insuficiências) do enredo.

Todo esse esforço se concentra em quase nenhuma ação dramática. A história dos três irmãos que precisam sobreviver a um pai autoritário e distante, e a uma mãe submissa, se dilui em divagações quase banais. E que são nitidamente religiosas. Ou que tentam expressar os desígnios divinos. A voz da mãe, no início do filme, se referindo ao filho morto aos 19 anos, não é gratuita: Quem ama o caminho da graça jamais têm um fim triste. Filosofia barata ou, como se diz no dia-a-dia, conversa pra boi dormir

A parte mais significativa da narrativa se concentra na passagem da infância para a adolescência. Nesse momento, os meninos sentem prazer genuíno quando o pai vai viajar. O elemento repressor desaparece de cena e a felicidade contagia os filhos e a mãe. O paraíso não precisa ser muito sofisticado.

Também é nesse período que o irmão mais velho sente as primeiras agulhadas do ciúme. As habilidades do irmão do meio (que sabe tocar violão, gosta de desenhar, é mais corajoso) servem de alimento para a raiva – que vai germinando dentro do menino. O instinto do mal faz com que traia a confiança que o irmão do meio deposita nele. E isso torna tudo mais confuso porque o que ele, o irmão mais velho, ambiciona é ser amado pelo pai. Esse mesmo pai que se mostra incapaz de controlar as próprias idiossincrasias.

Em uma das refeições familiares, o pai pede aos filhos que, na próxima meia hora, somente falem o que for realmente importante. Alguns minutos depois, o irmão do meio, diante de um pai que não para de dizer bobagens, pronuncia: "Be quiet" (cale−se). A tempestade se instala através da cólera, da violência.

São as lembranças de um tempo passado que reconstituem a relação afetiva entre os dois irmãos – o irmão menor praticamente não tem voz, é apenas uma sombra. Essas histórias de um tempo em que a amizade e a perversidade se confundiam é que indicam as possibilidades de rever, reaver, a memória do irmão do meio – são elas que permitem reavaliar a perda e o que se perdeu com ela.






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