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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

MELANCOLIA, UM FILME DE LARS VON TRIER

Que os defensores dessa coisa amorfa que alguns críticos chamam de "cinema de arte" me perdoem: prazer é fundamental. Filme chato será eternamente filme chato, seja "artístico" ou "trash". Adaptando essa proposta para os dias de hoje, cada uma das partes da pavorosa e reacionária série Crepúsculo merecia ganhar uma dúzia de Palmas de Ouro do Festival de Cannes se o padrão de comparação fosse o "cult" Melancolia (Melancholia. Dir. Lars van Trier, 2011). Bocejos e vontade de desligar o DVD foram os efeitos mais suaves (e constantes) em um filme que conseguiu a proeza herética de transformar Kristen Dunst e Charlote Gainsbourg em mulheres feias.

O enredo da película é ridículo. A primeira parte (Justine) conta a história confusa de um casamento confuso. E que não se concretiza. O noivo e a noiva chegam atrasados, em uma limusine enorme. Parecem felizes. Só parecem. Despido o véu diáfano da fantasia, como diria o Conselheiro Acácio, as máscaras mostram as más caras, tão "reais" quando a quantidade de sentimentos ruins que logo em seguida são jogados na tela e, conseqüentemente, no expectador que teve a péssima idéia de assistir essa bobagem.

Além da visível dissintonia entre as irmãs Justine e Claire, o noivo parece figurante de pantomima. John, o cunhado de Justine, pagou todas as despesas da cerimônia e pressiona para que tudo se resolva em bom termo, como mandam as regras da civilidade social. Entre os demais integrantes da festa, o único que merece algum destaque é o pai da noiva, uma figura, e que chama todas as mulheres por um único nome, redução explicita da feminilidade, como se elas não tivessem identidade ou livre arbítrio.

Para arrematar o festival de clichês deprimentes, algumas cenas com câmera de mão acenam para uma fotografia modernosa, lembrança nostálgica do extinto e enterrado movimento Dogma 95 – e constantemente exumado por tolices de teatro filmado como Dogville (Dir. Lars van Trier, 2003).

Quando a câmera se fixa, o casamento desanda. E, enquanto foge do noivo e do patrão (que quer um slogan para uma campanha publicitária), a noiva − demonstrando todo o mal−estar que a reveste − faz sexo com outro homem. Nada demais. Apenas tédio. Ou um elemento tolo de um roteiro que beira o non−sense. Há pouca amarração entre as cenas. O desespero artificial pontua cada fotograma.

Depois de um pouco mais de uma hora, inicia a segunda parte (Claire) – que consegue ser mais deprimente. Justine está catatônica; Claire, histérica. Enquanto isso, John (interpretado por Kiefer Sutherland) brinca de astrônomo. Um planeta errante está se aproximando da Terra. Segundo cálculos matemáticos, não há perigo de colisão.

O final é apocalíptico – e previsível. Todas as almas desesperadas são destruídas pelo choque planetário. Ridículo. E chato.

Nos blockbusters catástrofes (Armageddon, O dia depois de amanhã, 2012, Guerra dos mundos, Independence day, A estrada, e mais uma centena de outras bobagens de igual quilate) essas fantasias são mais divertidas. E, de certa forma, esperançosas. Sempre sobra alguém na cena final para dar continuidade à saga. Lars Von Trier, patético, não concede redenção. Na sua ânsia de brincar de deus vingativo, quer é destruir o mundo. Provavelmente, o mundo que o obrigou a dirigir um filme tão chato.

Framboesas de Ouro (Razzie Awards) para Melancolia e Lars Von Trier.


(Kristen Dunst e Charlote Gainsbourg, belas e formosas, em uma sessão de entrevistas para promoção de Melancolia).


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