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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

NICK McDONELL


O maior desafio de quem escreve um livro de sucesso é se superar – qualitativamente − no segundo trabalho. Raras vezes isso acontece. Principalmente quando o(a) autor(a) é uma dessas crianças prodígios que surgem de vez em quando para amaldiçoar a literatura. A síndrome Françoise Sagan é uma barreira quase intransponível. Mesmo tendo escrito vários romances, a francesa nunca conseguiu superar Bonjour Tristesse, publicado quando tinha 18 anos.

Alguns anos atrás, quando li o primeiro romance de Robert Nicholas (Nick) McDonell, Doze (que foi publicado em 2002, quando ele tinha 17 anos), não consegui conter a surpresa e, entre inúmeros palavrões, disse para mim mesmo׃ "Esse garoto está fudido!"

Doze não é exatamente uma obra−prima, mas consegue trilhar um tema bastante batido com consistência, sensibilidade e elegância estilística. Capítulos curtos, diálogos ágeis e bastante ação constituem os principais elementos de uma narrativa que está centrado no complicado mundo dos adolescentes (descoberta da sexualidade, drogas e violência em cada esquina). Personagens como White Mike, Charlie, Chris, Claude e Hunter reavivam as tragédias que acompanham os perdedores.

Alguns críticos mais empolgados compararam Doze com O apanhador no canto de centeio (J. D. Salinger). Bobagem. Nem chega perto. Os personagens de McDonnell são superficiais, sem muito conteúdo, inimigos da reflexão − o que está mais do que explícito na horrível versão cinematográfica (Twelve − vidas sem rumo. Dir. Joel Schumacher, 2010).

Nick McDonell precisou de um intervalo de três anos para uma nova aventura com o romance e publicar o segundo livro. Como sempre acontece com algumas narrativas estadunidenses, O terceiro irmão foi acompanhado por inúmeros golpes de publicidade (notas plantadas em jornais e revistas literárias, entrevistas, "vazamento" de alguns trechos). Além disso, todos os interessados por literatura ficaram bastante ansiosos porque parte da ação narrativa acontece no dia 11 de setembro de 2001. Independente de discussões sobre os atributos do texto, esse conjunto de ingredientes é suficiente para garantir boas vendas.

O terceiro irmão é um livro estranho, quase desconexo. Dividido em três partes, segue a receita infalível do pré−roteiro. As 253 páginas estão divididas em 108 capítulos, nenhum deles se estende por mais de quatro páginas. Os diálogos são cortantes, eficazes. Nada é desperdício narrativo. Sem se descuidar de questões significativas da carpintaria literária, McDonell se utiliza implacavelmente do contraponto, criando uma dinâmica eficaz para a alternância de cenas.

O descompasso é de outra ordem. O protagonista, Mike, é um peixe fora d’água. Como a primeira parte da narrativa se passa na Tailândia, todas as cenas estão espelhadas no estranhamento, na falta de sintonia, na ausência de integração. O grande problema do situar uma narrativa em tempo e espaço muito nítido é o déjà vu. O leitor com alguma formação literária é tomado pela sensação de já ter visto a situação em outros textos. Ou seja, as primeiras cem páginas de O terceiro irmão parece ter sido "inspiradas" em narrativas mais conhecidas como O americano tranqüilo (Grahan Greene) ou A ilha (Alex Garland). Tenha sido proposital – ou não − McDonell beirou perigosamente o plágio.

Outra questão está na ambientação da segunda parte do romance. Mais uma vez, a comparação surge no horizonte – e de maneira pejorativa. As melhores descrições de um homem caminhando pela região de conflagração do dia 11 de setembro são da autoria de Don DeLillo, em Homem em queda. Qualquer um que queira seguir essa trilha provavelmente não conseguirá acrescentar algo relevante.

No final da segunda parte, o texto perde o nexo causal. Nem mesmo a mudança de ponto de vista narrativo (da terceira pessoa para a primeira), a volta do personagem à universidade ou a sutil incorporação da esquizofrenia do irmão suicida servem para estruturar o que parece estar caindo lentamente na direção do colapso narrativo. Falta fôlego e/ou tesão - e sem esses ingredientes é impossível produzir um livro palatável.

Só nos resta esperar pelo terceiro livro (An Education Expensive, publicado em 2009, em Estados Unidos). A síndrome Françoise Sagan envolveu e sufocou o segundo.

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