A Noite de dia 11 de novembro de 2011, no Teatro Marajoara, não foi a hora e a vez da Orquestra Sinfônica de Lages. Apesar de o público ter aplaudido o espetáculo, não houve a consagração. Nem poderia. Em noites infelizes, o ideal é esquecer a catástrofe e começar tudo de novo.
Reunir trinta músicos e obter algo que pareça uníssono é uma tarefa gigantesca. E que exige um esforço extraordinário. Iniciativas desse porte precisam ser incentivadas pelo apoio crítico e por doações financeiras. Música é um trabalho muito difícil. Quase ingrato. Principalmente porque a possibilidade de algum desastre é constante. Basta pequena desatenção, qualquer nota equivocada ou erros de cálculo – a perfeição das notas inscritas na partitura é transmitida ao ouvinte através do som produzido pelo tropeçar.
Para impedir a execução (literal) de algumas músicas, é necessário voltar à sala de ensaios e repetir incontáveis vezes os trechos mais difíceis. Somente a prática exaustiva permite diminuir o número de erros e esconder as falhas técnicas. O improviso não faz parte do trabalho que precisa ser desenvolvido em uma orquestra. Fábulas como a que foi proposta no filme O Concerto (Dir. Radu Mihaileanu, 2009) não se repetem na vida prática. Além disso, nunca é excessivo recordar que boas intenções não produzem música de boa qualidade.
Provavelmente não foram os deslizes de alguns músicos que comprometeram a noite de sexta−feira. A incoerência do programa apresentado foi muito mais desastrosa. Como disse, certa vez, Noël Coward, A força da musica vagabunda é extraordinária. Independente de gostos específicos ou da proposta de selecionar algumas peças mais acessíveis ao ouvido do público desacostumado a espetáculos de musica orquestral, reunir trinta instrumentistas para tocar trilha sonora de cinema ou um medley de Tim Maia (um incontestável mestre na difícil arte de combinar menos de dois acordes) é praticamente uma agressão ao bom senso. Não há justificativa para confundir concessão ao gosto popular e mediocridade. Os fãs da música não precisam sair de casa para ouvir esse tipo de bobagem: basta ligar a televisão. Música de verdade é outra coisa.
Se a música é uma forma de conversar com Deus, indiscutivelmente faltou fé. Também faltou sensibilidade para resolver um problema específico: os dois corais foram sufocados pelo volume da orquestra. A ausência de diálogo entre os instrumentos e as vozes (que desapareceram diante da intensidade orquestral) caracterizaram duas unidades distintas caminhando em direções opostas, talvez para jamais se encontrarem. Patético.
O que se viu e ouviu na noite de sexta−feira foi – para não dizer coisa pior − um desajeitado Ensaio de orquestra (sem o glorioso final do filme de Federico Fellini, 1979). Nenhuma novidade, pois como afirmou João Gilberto: No Brasil, até os canarinhos desafinam.
Noite infeliz, sem o amor das musas.
ResponderExcluirMais infeliz ainda é este comentário RIDÍCULO. Ou este (que se diz) comentarista não ouviu atentamente ou esta com sérios problemas auditivos, pois esta (como nos anos anteriores) foi uma das maiores demonstrações do real amor pela música e despreendimento, pois todos ali estavam se espondo gratuitamente e por amor àquilo que faziam.
ResponderExcluirVocê tem o direito de não ter gostado, mas comentários de muitos que ali estiveram, inclusive gente que mora e assiste programas semelhantes em grandes capitais é que este foi um grande espetáculo para uma cidade pequena e que não sabe valorizar as coisas do seu povo.
Sr. Raul, seria melhor o senhor ter ficado quieto. Recomendo o senhor fazer um exame de audição e/ou deixar de escrever besteiras como esta.
Senhor Enio,
ResponderExcluirObrigado por sua leitura. Escrever só se justifica quando o texto se encontra com o leitor. Suas observações foram interessantes, embora equivocadas.
A primeira questão a ser considerada é que audição da sexta-feira foi pública. Qualquer comentário sobre o evento também deve ser público.
A música (e, por extensão,todas as manifestações artísticas) não precisa de tapinhas nas costas ou de "amigos" (da onça?).
Ou seja, os meus ouvidos estão no lugar: perto do cérebro, longe da emoção. E os seus, estão no lugar certo?
Seu Raul, eu questionava sua audição, mas agora acho que ou é problema pessoal com alguém que tocou naquela noite ou problema de gosto seu, mas não generalize e menospreze as pessoas que fazem algo de útil para a cultura desta cidade, o que não é o seu caso...
ResponderExcluirA esmagadora maioria que lá esteve presente não compartilha da sua opinião, com certeza.
O evento era público e gratuíto, se não fosse do seu agrado o repertório, divulgado com antecedência, o senhor não precisava ter ido, ou poderia ter feito o favor de ir embora antes de ficar incomodado, como aparentemente ficou.
Quanto a emoção, sim me emociona ver pessoas tentando fazer o melhor para todos (o que não é o seu caso), mas a razão sempre está presente. Quanto ao Sr. tenho minhas dúvidas quanto a sua emoção e razão!?!?
Senhor Enio:
ResponderExcluirObrigado por suas palavras racionais, absolutamente isentas de emoção.
Você pode entender de leitura, mas de musica deu para notar que não entende nada. Se não entende, não tem o direito de fazer comentários absurdos como esse. A orquestra e os corais são compostos de pessoas que não são remunerados para representar LAGES em eventos. Cada um dispensa um pouco de seu precioso tempo para enriquecer um pouco mais a nossa cultura...e o que você faz por Lages?....
ResponderExcluirRaul, os que não concordam com você deveriam, ao menos, defender o seu direito de afirmar sua opinião. Atacar um argumento em vez de uma pessoa, é o que distingue um civilizado de um bárbaro. Sugiro mais idéias e menos ódios. Aliás, a música deveria acalmar as feras, e não enraivecê-las.
ResponderExcluirRafael R. Schmitt.
Edison: Minha área de trabalho é a LITERATURA. No entanto, isso não significa surdez ou hipocrisia. Fui ao espetáculo, sentei no corredor, ouvi as peças serem "executadas" (sic) e não gostei. Qual é o problema disso? Ah, já sei, ter expresso graficamente que o trabalho da orquestra foi ruim.
ResponderExcluirO mais divertido disso tudo é a falta de "simancol" de quem deveria estar ensaiando para melhorar a performance e perde o seu "precioso" tempo postando insultos no blog.
Olá Sr. Raul Arruda Filho
ResponderExcluirTodos temos o direito de ter gosto próprio por algo, mas acredito que o que o senhor disse, não foi nem um pouco legal. Alguem dos integrantes da orquestra lhe ofendeu? Tem problema particular com alguem? Porque para agredir da forma que o senhor agredio essas pessoas, não é algo que seja dito sem motivo. Particularmente, adorei a apresentação, gostei das músicas, e se o senhor não gostou, pode assistir ao New York Philharmonic: Mahler's Symphony No. 10, talvez goste desse, pois lá são todos músicos profissionais formados. Na orquestra sinfônica de Lages, pouquissimos são profissionais, e alguns só tem contato com a música graças a esse grupo que mudou a vida de muitas pessoas. Respeito sua opnião, mas acredito que não seria necessário escrever tudo isso, foi muito baixo e pobre. Sua crítica não foi construtiva, pois todas as críticas mostram o que tem que melhorar e o que foi bom. Com certeza, a pessoa mais pessimista que estava lá não diria tudo o que o senhor escreveu.
Jean Carlos:
ResponderExcluirChega desse discurso condescendente de que a apresentação foi gratuita e de que todo mundo que participa da Orquestra é amador. Mudanças somente ocorrem quando os exemplos são de qualidade.
Durante a última semana, por exemplo, Lages teve a oportunidade de assistir a três shows musicais muito acima da média. Estou quase apostando que nenhum integrante da Orquestra os foi ver. Na quinta feira, no Teatro do SESC, o fantástico Paulo Freire (viola) mostrou com quantos acordes se faz uma obra-prima. A dupla Janete e Joel (acompanhados pelo baterista lageano André Meyer) se apresentou no teatro do SESC no sábado. No domingo, no Tanque, Yamandu Costa e Borghette.
Chega de tapinha nas costas e boas intensões!
O que quer dizer com chega de boas intensões?
ResponderExcluirEntão é isso o que ocorre, o senhor não tem boas intensões em nada que faz....Afinal, que escritor que se preze bloga.
Não sei nem o que estou rebaixando meu nível e escrevendo algo indiscutível aqui
Como podemos ver Raul, escrever você sabe, mas agora sobre música tenho minhas dúvidas, até porque de musica eu entendo pode ter certeza, e não concordo com tamanha crítica, creio que o senhor foi infeliz nos comentarios.
ResponderExcluirConcordo com o Jean que na orquestra não são todos profissionais, por isso ninguém deveria ir ao teatro esperando um trabalho altamente profissional, até arrisco dizer que se fosse não seria entrada franca.
Particularmente gostei da apresentação, não gosto de Tim Maia, mas a música foi bem executada, sobre a trilha sonora de Pirates of the Caribbean foi interessante a ideia, eu mesmo adorei, foi a que mais me chamou atenção naquela noite.
Os jovens desta orquestra ensaiam bastante e concluiram muito bem sua apresentação, na próxima estarei lá.
Esse discursinho condescendente de "músicos amadores", apresentações gratuitas e outras bobagens de igual quilate não leva a nada. Inclusive porque todo esse ressentimento, típico de "tropa de choque", deve estar ligado ao fato de que a minha postagem (encarada como crítica negativa) incidiu no bolso de alguém - e, óbvio, não foi no meu!
ResponderExcluirO povo precisa de música, não de "salvadores da pátria" ou de "philantropos"!
Também não leva a lugar nenhum a tentativa de desqualificar quem não está no mesmo patamar que aqueles que foram aspergidos pela inspiração divina.
O que precisa ser feito é simples: oferecer mais qualidade (inclusive musical). Todo o resto é conversa para boi dormir.
Senhor Raul,
ResponderExcluirConcordo perfeitamente que a não música precisa de salvadores da pátria contudo, existe imensa necessidade hajam pessoas que tomem a frente dando sua cara a tapas para a crítica, para dar inicio a um projeto como esse!
É determinadamente impossível começar a construção de uma casa pelo telhado, devem-se construir primeiramente os alicerces. A Orquestra Sinfônica de Lages esta dando ainda seus primeiros passos, não se deve, portanto cobrar de maneira tão agressiva, a iniciativa que de alguma forma vem a contribuir para alavancar práticas culturais, esquecidas por boa parte do da população local!
Quanto ao repertório... Que mal há em interpretar temas de filmes? Não há pelo mundo todo, consagradas orquestras o fazendo?
Thiago Luis:
ResponderExcluirVocê está certo, não se deve começar a casa pelo telhado. Então, diante dessa constatação óbvia, junto com um pedido de desculpas, preciso fazer uma pergunta básica: para que é que serve Wolfgang Amadeus Mozart, Piotr Ilitch Tchaikovsky, Gustav Mahler e outros compositores menos cotados? Eu não sei. Você sabe? Provavelmente Tim Maia e Piratas do Caribe são mais palatáveis. Em outras palavras, a culpa é minha por ser “enjoado”, por querer algo mais saudável do que sanduíche vendido no boteco da esquina.
Penso que a questão não seria querer algo mais saudável do que sanduíche vendido no boteco da esquina, mas sim, tocar algo que fosse mais facilmente aceito pelo público. Com o passar do tempo a música erudita foi "elitizada" pela prática orquestral, acredito que a Orquestra Sinfônica de Lages poderia ter incluído em seu repertório, muitos dos grandes nomes que o senhor citou, e até mesmo outros grandes nomes do próprio decafonismo brasileiro, como Guerra Peixes e Claudio Santoro. Entretanto não é de agrado da maioria tais interpretações musicais, apenas de uma minoria, o que contribuiria diretamente para que acontecesse o oposto de um dos objetivos da Orquestra, que é de levar o público para o teatro para ouvir música. Desta forma o teatro lotado que vimos na sexta feira do dia 11/11/11, não passaria de um teatro com pouquíssimas cadeiras ocupadas...
ResponderExcluirO trabalho precisa ser gradativo. Aseguro-lhe que com mais um pouco de tempo de dedicação da orquestra os próximos concertos poderão apresentar em sua estrutura obras Grandiosas como as conhecidas óperas de Mozart e muitas outras peças de vários compositores da música erudita.
Mas por hora é preferível manter os pés no chão e não tentar dar passos maiores que as próprias pernas!
Espero ter sanado suas dúvidas...
Tiago Luis:
ResponderExcluirConcessão implica em perda da qualidade. Ou como gostava de repetir minha avó: “Quem não tem competência não se estabelece”!
Exatamente isso que penso senhor Raul, chegamos no ponto certo da questão “Quem não tem competência não se estabelece”! Porém aqueles que foram aspergidos pela inspiração divina, ou seja, quem tem competência, tendem também a não se estabelecerem por estas terras, pois, quando deveriam receber o apoio necessário apenas recebem grandes tapas na cara!
ResponderExcluirMuitos bons músicos estão se formando nessa orquestra, acontecesse que quando conquistarem o conhecimento desejado estarão longe daqui abrilhantando apresentações de outras orquestras...
Toda e qualquer crítica é absolutamente bem vinda senhor Raul, desde que ela venha acompanhada de um intuito de melhoria e não de desmotivação.
Tiago Luis:
ResponderExcluirApelou? "Grandes tapas na cara"? Por favor, menos. Muito menos. Ou melhor, mais. Mais ensaios, mais dedicação. Mais devoção! O suficiente para que todos os instrumentos toquem a mesma música. É chato ouvir que fulano entrou um pouco depois do tempo, atravessando a linha sonora. É terrível não ouvir o coral, porque a orquestra não respeitou o alcance da voz humana.
Ensaiar. Até cansar. Então, será hora de começar tudo outra vez. E ter coragem para sobreviver aos que não gostam do trabalho desenvolvido (agradar a todos é a receita mais fácil para o fracasso).
Não, não apelei apenas palavras fortes como as que o senhor usou...
ResponderExcluirAlém do mais não disse em momento algum que não era preciso ensaio ou que não havia necessidade de mais dedicação dos membros da orquestra.
Apenas uma duvida, não quero ser grosseiro me desculpe se soar assim, mas o que o senhor quer dizer quando menciona música boa de verdade? Pois em aproximadamente 12 anos convivendo com a música, pude constatar que a qualidade de uma música não é determinada pela complexidade de sua base harmônica e sim por sua intenção; o que ela deve proporcionar ao ouvinte.
Agora algumas coisas ficam mais claras, menos enevoadas pelo interesses que estavam escondendo. Nota publicada hoje (15/12) na coluna do Edson Varela, coloca tudo no lugar:
ResponderExcluirBOA NOTÍCIA PARA A ORQUESTRA
SINFÔNICA DE LAGES
Não foi por causa da apresentação na Catedral e nem no Largo, mas pelo conjunto da obra que vem apresentando ao longo de sua existência que rende a hipótese de um reconhecimento financeiro importante. A Câmara de Vereadores aprovou a possibilidade da Prefeitura de Lages repassar até R$ 3,5 mil mensais à Orquestra Sinfônica de Lages a título de ajuda de custos. Depende agora só do prefeito praticar esse gesto para ajudar manter essa estrutura que vem encantando lageanos. Como partiu do Executivo o projeto, vai se encaminhar!