A vida não é uma ideia, é uma potência indescritível.
(Ailton Krenak)
Tenho evitado fazer comentários sobre a
forma com que as três esferas de governo (municipal, estadual e nacional) estão
conduzindo as políticas de saúde em relação ao Covid-19. Está aquém do meu
alcance qualquer contribuição nesse tema, exceto ficar em casa. É o que tenho
feito. Só saio quando absolutamente necessário. Para o próximo mês, vou
autorizar o desconto automático das contas de luz, telefone e cartão de
crédito.
Também estou me esquivado de interpretar
as ações culturais nestes tempos de pandemia. Isso não significa que estou
compactuando com a mediocridade. Ao contrário. Almejando alcançar a serenidade
e a harmonia com o universo, tenho feito grandes esforços para manter alinhados
os chakras. Quero evitar o descontrole – momento em que parecerá adequado invocar
Kalki, a deusa da destruição.
Na área educacional, qualquer julgamento
constitui uma forma de “chover no molhado”. Límpida e transparente, a competência
desse setor será matéria de estudos nos próximos vinte anos. Manterei a minha isenção sobre o tema. A novidade é a
notícia que, naquela reunião ministerial que o governo não quer entregar a
gravação para o Ministro Celso de Melo, há várias ofensas ao egrégio tribunal.
Caso se confirme, o processo por calúnia, injúria, difamação, dano moral, ofensas
à ordem constitucional e etc., principalmente o etc., será gigantesco. Vai ser
divertido ver o sujeito “cantando na chuva”.
Não sou religioso. Se fosse, faria – diariamente
– preces em favor das populações indígenas. Não bastassem as centenas de mortes
por doenças transmitidas pelos brancos, os relatos de desmatamento e de
ocupação violenta dos territórios das reservas (inclusive com agressões físicas)
são o que há de mais selvagem em um mundo que transformou a natureza em
comércio.
Também não tenho disposição para
analisar o crescente índice de violência doméstica. Sempre sustentei que a vida
entre quatro paredes equivale a um artefato bélico prestes a explodir. Pode
funcionar bem, aqui e ali; mas, no geral, a catástrofe é inevitável. Somente os
ingênuos não percebem essa característica familiar.
Não existe racismo no Brasil. Contestar essa
afirmação, igualmente, não é minha tarefa. O máximo que poderia dizer é que, entre
a casa grande e a senzala, cento e trinta e dois anos de abolição não foram
suficientes para integrar o país – que continua sendo governado pelos brancos,
todos descendentes de escandinavos, como apregoa Caco Antibes (o guru dos
terraplanistas). Mas, isso seria extrapolar minhas funções de palpiteiro e
invadir a seara alheia, que é a dos usuários de remédio tarja preta.
Quero esquecer a necessidade da reforma
agrária e/ou de multiplicar o número de moradias nas áreas urbanas. Esses assuntos
não estão na pauta do dia, não resolvem o problema dos empreendedores à beira
da falência, não contribuem para diminuir o preço do dólar ou para ampliar a especulação
na Bolsa de Valores. Deixemos os pobres em paz!
Calado estou, calado vou ficar. Nada
falarei ou escreverei sobre política. Meu terreno é o das amenidades: maratonas
de séries televisivas, shows de roqueiros decadentes, atrizes sem talento,
novelas remasterizadas, romances de verão e passeios em áreas turísticas.
Alienação acima de tudo, dinheiro acima
de todos!
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