Nereu de Oliveira Ramos (1888-1958) |
Cena familiar.
– Porque fulano tem casa, carro,
dinheiro e tudo mais, e você, que passou a vida inteira trabalhando na
Prefeitura, continua pobre?
– Porque “eles” nunca me deixaram chegar
perto do cofre!!
Mestre Sergio Ramos, que Deus o tenha,
costumava contar uma história interessante. Nereu de Oliveira Ramos,
governador de Santa Catarina (1935-1945), nomeou um amigo para um importante cargo
na administração estadual.
O amigo logo depois da nomeação procurou
o governador e disse:
– Nereu, não posso aceitar o cargo.
– Por quê?
– Vai ter muita pressão, muitos
interesses em jogo e eu não vou conseguir aguentar tanta gente me incomodando.
– Deixe disso, meu amigo, aceite o
cargo. Sei que você vai conseguir desempenhar essa tarefa com competência.
Passou algum tempo. Em conversa com
Nereu, o amigo voltou a afirmar:
– Está difícil, Nereu. “Eles” não me
deixam em paz! Estão oferecendo muitos benefícios!
– Ora, você está controlando tudo.
Continue trabalhando.
Seis meses depois, Nereu recebeu um
bilhete:
– Agora você precisa me despedir, “eles”
estão chegando no meu preço!
Se alguém der um Google, provavelmente
encontrará essa história com outros personagens. O folclore político costuma se
repetir. Não importa. Se o Sérgio disse que ocorreu com Nereu, eu acredito que
foi assim. Sérgio, que inventou um dos conceitos basilares do machismo lageano
(mulheres de prateleira), não mentia. Quer dizer, nunca mentiu para mim. E
isso basta.
Essas duas histórias são para ilustrar
um rápido comentário sobre os mecanismos de controle interno do serviço
público.
Não é nenhum segredo que poucas pessoas
conseguem driblar as tentações. O espírito do capitalismo, aliado com a Lei de
Gerson (levar vantagem em tudo), produz distorções morais. Além disso, o
sistema político não possui interesse em estabelecer limites.
Nos últimos anos, algumas ações do
Ministério Público resultaram em mudanças de comportamento. Mas, isso ainda não
é suficiente para prevenir os desvios. Esporadicamente surgem notícias, aqui e
ali, de assaltos ao erário, fraudes em licitações e pagamento de propinas.
Essas atividades ilícitas, na maioria
dos casos, contam com dois tipos de ajuda: a “contabilidade criativa” e a
cegueira seletiva. Nos dois casos, os personagens aceitam a aposta e pagam para
ver.
Fausto sempre faz acordo com
Mefistófeles.
O sistema corrompido por mentes sedentas de capital e medo da pobreza. Adorei a leitura!
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