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terça-feira, 5 de maio de 2020

DIÁRIO DA QUARENTENA (XLIV)




Amanheceu chovendo. Também está fazendo frio. Nenhuma novidade. A cidade está situada a 916 metros de altura do nível do mar. Guarda-chuvas, casacos de inverno, botas e fogão de lenha fazem parte dos equipamentos de sobrevivência de quem mora no Planalto Catarinense.

Costumo relacionar a chuva com a poesia. Por quê? Não sei explicar isso. Quer dizer,... Acredito que são complementares. Tanto a poesia quanto a chuva perdem parte da energia vital quando alguém tenta decifrá-las. 

Objetivamente, os esquartejadores de versos e os meteorologistas são inimigos da chuva. Falta-lhes sensibilidade. Ou sobra estrutura lógica. Fabricam explicações. Adotam com a luz da razão. Sem isso não conseguem sentir os pés no solo.

Existe poesia para todos os gostos. As rimas fáceis, as imagens pessoais, as metáforas complicadas, as referências obscuras, o equilíbrio diverso, A forma não importa, todas as expressões são válidas. Basta escolher um caminho.

Evidentemente, há aqueles que preferem ignorar os atalhos, desprezar as regras de segurança, implodir com as normas de condutas e os hábitos civilizatórios. Detestam tudo o que possa ser enquadrado como lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor (Salve Manuel Bandeira!). A transgressão como norma de conduta.


A chuva, por sua vez, também é incontrolável. Oscila entre a doçura da garoa e a potência dos temporais. A beleza manifesta nas lágrimas do mundo escorrendo pela vidraça, nos meninos que brincam nas poças d’água. O esplendor da natureza.

Os versos se materializam na emoção. Produzem a tessitura entre a matéria e a ideia. Pelas mãos do artífice, há o reelaborar da linguagem – carícia ou sevícia.

Chove na poesia. Alegria.

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