Se for necessário, vou vasculhar os porões
da internet. Preciso descobrir uma maneira de eliminar as manchas que aparecem
“do nada” no chão da cozinha. São, guardadas as devidas proporções, as ervas
daninhas do meu (metafórico) jardim doméstico.
Tem tutorial para tudo no mundo virtual.
Se o sujeito quiser pregar botão na camisa ou jogar bolinha de gude, basta
escolher o tema e acionar o Google. É o que vou fazer. Deve existir algum que
indique como resolver esse enigma. Deve ter.
Estou ficando cansado de passar pano
molhado, ver o chão brilhando (desculpe, brilhando talvez seja um exagero), e
algum tempo depois, para meu assombro, lá estão elas, as manchas, em lugares
diferentes. Será que caminham? Estou começando a suspeitar de alguma conspiração.
Ou então estou passando por alguma síndrome
decorrente do isolamento social. Há relatos de casos em que o sujeito, em caso
de grande estresse, começa a ver fantasmas persecutórios a todo instante. Não
creio que seja a minha situação. Inclusive porque não estou com algum tipo de
cansaço mental ou me sentindo isolado do mundo. Digo isso porque não estou cumprindo o isolamento
de forma integral. Pelo menos uns dois dias por semana vejo gente no supermercado, na farmácia, no banco, na padaria. Sempre de máscara, sempre untado em álcool gel.
O ponto fulcral talvez seja outro. Quando
iniciei esse regime de autoexílio, quarentena para os íntimos, pensei em usar o
tempo livre para escrever, talvez colocar ponto final naqueles dois ou três ensaios
literários que vivo ensaiando e que nunca termino. Triste ilusão. Cuidar da
limpeza do apartamento rouba muito tempo. Mas, não é só isso. Estou dormindo
tarde, acordando tarde. Em dias de sol, coloco uma cadeira na sacada e fico lá,
sentado, lendo, ouvindo música, olhando os carros que passam pela avenida.
Quando volto à frente do computador não há mais tempo para fazer o que deveria
fazer.
A preguiça é a mãe de todos os males,
dizia minha avó. Sim, sofro desse mal. Deixar para depois de amanhã o que
deveria fazer amanhã é um prazer indescritível. Nunca tive a mínima vontade de
obedecer aos prazos. Evidentemente, isso me causou algumas dificuldades no
trabalho e na vida pessoal. É outro item que preciso contabilizar nas ações,
quer dizer, na falta de ações do dia a dia.
Com a caneca de chá na mão, olho para as
manchas no chão da cozinha e me sinto incompetente. Provavelmente a solução é simples
e fácil. Falta-me expertise. Será que posso preparar uma solução com água
sanitária diluída (1/100, 1/1000)? Que tal usar um pouco de sabão em pó? Vale diluir
detergente em água? Talvez cada uma dessas tentativas de solução sirva para
aumentar o problema. Por que não fui ao supermercado e comprei um daqueles
produtos tóxicos que resolvem todas as dificuldades possíveis?
Caso a Internet não forneça uma resposta
satisfatória à questão, nada mais me restará senão implorar auxílio à famosa e fabulosa Assistente para Assuntos de Limpeza Doméstica (AALD). Ela,
com certeza, vai rir em alto e bom som dos meus desacertos. Nenhuma novidade. Essa
cena está se tornando repetitiva. Tenho dificuldades para
ser domesticado nos rituais domésticos. De qualquer forma, recebo lições todos
os dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário