Ir ao supermercado está se tornando uma
aventura. O Covid-19 instituiu uma série de procedimentos de segurança. Não
bastasse a máscara obrigatória e o lambuzar das mãos com álcool gel, agora têm a
medição de temperatura. O segurança aponta um aparelho esquisito para tua testa
e dispara sei lá o quê. Se você não estiver com febre, ele permite a entrada no templo do consumismo.
Foi isso que aconteceu comigo, hoje pela
manhã. Fui comprar alguns produtos básicos, o fim de semana está batendo na
porta e, aos sábados, esses lugares se transformam em sinônimo de multidão.
Depois de conferir armários e a geladeira, fiz uma lista relativamente extensa
do necessário para atravessar em segurança os próximos dias.
O supermercado é perto, uns quinhentos
metros de distância do apartamento, talvez menos, não sou bom nesse negócio de
calcular distâncias. Vesti a jaqueta e fui. Fui sem a lista. Ficou esquecida em
cima da mesa do escritório. Só percebi o detalhe na metade do caminho. Não quis
voltar. Confiei na memória, afinal tinha conferido – várias vezes – o que estava
precisando comprar.
Frutas, iogurte, leite, manteiga, pão. Não.
Pão ainda tem em casa. Não vai ser preciso. Mas, quem pode resistir a alguns
croissants ou um pedaço de apfelstrudel? A moça da padaria já conhece os meus
gostos, sou um cliente previsível. Sigamos em frente. Sorvete de pistache – esse
sim um artigo de primeira necessidade! Salame, suco de laranja, sabonete
líquido, esponja para lavar louça, Bombril, água mineral com gás. Será que é só
isso? Tenho a impressão que está faltando alguma coisa.
Chocolate. Quero aquele com castanha do
Pará. É nacional, mas isso não importa. É quase tão bom quanto o da loja de
nome estrangeiro, franquia dos sujeitos que possuem uma lavanderia financeira. Eba!
Está em promoção. Compre três, pague dois. Quem há de resistir? Eu, não!
No caixa, tento pagar com o vale-refeição.
A atendente me avisa que não tenho saldo. Deveria ter. Alguma coisa aconteceu,
preciso verificar depois. Sem escolha, uso o cartão de crédito. Débito, por
favor.
Com as sacolas na mão, paro no totem do álcool
gel para engraxar as mãos outra vez. Todo cuidado é pouco, sussurra o grilo
falante higienizador que mora dentro de mim.
Na praça de alimentação, decido levar
para casa o almoço. Depois de mais uma rodada de álcool gel, precisei calçar
umas luvas de plástico, um inferno em forma de prevenção sanitária. Com as mãos
besuntadas, a tarefa se torna uma espécie de missão impossível. Nem preciso
dizer que há uma fila e que o idiota que não sabe usar as luvas está
atrapalhando o trafego. Depois de uma eternidade, o suor ameaçando surgir na
testa, consegui comprar um pouco de comida. Paguei em dinheiro.
Livre de toda aquela agitação sai à rua
e comecei a caminhar na direção do lugar onde moro. Em casa, descubro que esqueci
o queijo. Também não trouxe alguns produtos de limpeza. Todas essas coisas
constavam da lista.
Amanhã será outro dia.
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