Edouard Monet. Le Rendez-vous de Chats, 1868. |
Um dos meus projetos
que nunca vai se concretizar é uma antologia literária sobre gatos. Imaginei um
livro repleto de fotos de escritores e seus felinos. A integração entre texto e
imagem. Além de contos e poemas, haveria espaço para curiosidades, frases,
trechos de romances. A ninhada completa.
Inúmeros percalços nessa empreitada.
O principal chama-se direitos autorais (narrativas e fotografias). Depois, precisaria resolver as questões
relacionadas com as traduções. Por fim, encontrar uma editora que apostasse no
projeto. É preciso ter fôlego e sete vidas para uma tarefa tão exaustiva.
Uma possibilidade era trabalhar com
material inédito. Reunir alguns escritores e solicitar ajuda. Depois de pensar um pouco,
concluí que não tenho espírito aglutinador e que, no meio do processo, poderia,
digamos, ser indelicado com alguém. Escritores são almas sensíveis.
Abandonei a ideia. Se alguém a
quiser, que faça bom proveito. Prometo comprar um exemplar. E antes que alguém pergunte
sobre o que gostaria de reunir nesse volume, deixo aqui algumas sugestões. Nos
romances de Haruki Murakami, os gatos são personagens sempre presentes - basta pinçar algumas passagens. Os
contos Os Gatos (John Updike) e Orientação para os Gatos (Julio Cortázar)
são excelentes. A novela A Gata, Um
Homem e Duas Mulheres (Jun’ichiro Tanizaki) e os romances Eu Sou um Gato (Natsume Soseki), Relato de um Gato Viajante (Hiro Arikawa) e Reflexões do
Gato Murr (E. T. A. Hoffmann) são clássicos do tema. No que se refere à
produção nacional, não é possível deixar de fora os contos Emanuel (Lygia Fagundes
Telles) e Gato Gato Gato (Otto Lara Resende). O livro Sete
Vidas (Heloisa Seixas) reúne sete histórias minimalistas. O romance Um Náufrago que Ri (Rogério
Menezes) é narrado por um gato. No campo da poesia, não é possível deixar de lado Entre Arranhões e Lambidas (Alvaro Posselt) e Da
Existência Enquanto Gato (André Ricardo Aguiar). Por fim, não há como ignorar o belíssimo Sobre
Gatos (Doris Lessing). Será que esqueci alguma coisa? É possível, o mundo daqueles
que são fascinados pelos felinos se estende pela vastidão das bibliotecas.
Quem quiser ajuda nesse labirinto,
pode consultar duas antologias: Os melhores Contos de Cães e Gatos (Org.
Flávio Moreira da Costa. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007) e O Grande Livro dos
Gatos (Rio de Janeiro: Alfaguara, 2020). Um pequeno obstáculo:
oito contos estão presentes nos dois livros. Não é um demérito, mas...
Alguns anos atrás, no instrutivo
livro de ensaios sobre literatura russa, Os Possessos (Elif Batuman),
encontrei uma palavra desconhecida: ailurofobia. Foi usado ao se referir a
Sofia Andreevna, esposa de Liev Nikolaivitch Tolstoi. Surpreendentemente, esse
vocábulo não está dicionarizado. O Aurelião o desconhece e o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) também o ignora. Foi no Oxford Dictionary
que encontrei a chave de significado. Ailuro é palavra grega. Sofia Andreevna
detestava gatos. Por extensão, Ailurofilia é o contrário.
Essa história nos leva ao
entendimento que há pessoas que não possuem afeto pelos gatos. Seja porque
preferem outros animais de estimação (cães, lagartos, cobras, papagaios, etc.),
seja porque possuem alergias ou sequer se interessam pelos felinos. Faz parte
do show.
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