Uma das grandes alegrias de minha
infância e pré-adolescência era ir ao cinema. Talvez a maior. O meu imaginário
está povoado por aventuras que se distanciam da verossimilhança: Spartacus
lutando no Coliseu, Flash Gordon no Planeta Mongo, piratas atacando navios
carregados de ouro, D’Artagnam na corte de Luís XIV, o prisioneiro de Zenda, Sansão
derrotando os filisteus, o submarino Náutilus tentando fugir dos monstros que
habitam as profundezas abissais.
Meus preferidos eram os faroestes. O xerife lutando contra os assaltantes de diligência, os duelos ao
por do sol, as brigas no saloon (depois de várias doses de uísque), a cavalaria
do General Custer, a mocinha ingênua, os ataques dos índios aos carroções dos
colonos, o desajustado que se transforma em herói. Os revolveres e rifles com munição
interminável, o personagem que morria duas ou três vezes no mesma cena. Assuntos
para uma semana no recreio da escola.
Toda semana, um filme diferente. Cine
Tamoio. Algumas vezes no Cine Marajoara. Sentado naquelas cadeiras
desconfortáveis, chupando bala azedinha ou pirulito Zorro, ficava entretido por
duas horas. Só existia o que estava sendo projetado na tela. O mundo exterior
se tornava ficcional.
Meus irmãos, nas poucas vezes em que nos
reunimos, costumam reclamar da vez que fomos assistir Meu Pé de Laranja Lima,
um dramalhão infanto-juvenil. Dizem eles que, para obrigá-los a ficar quietos,
não economizei beliscões. Mostrando as marcas, me denunciaram para a mãe – que,
por sua vez, transferiu o castigo para o pai.
Era um tempo mágico e ninguém reclamava da existência simultânea de dois Zorros. E completamente diferentes. Hi-yo, Silver!, gritava The Lone Ranger (Zorro, no Brasil), enquanto o cavalo saia em disparada pela imensidão da planície. Na companhia de Tonto, um nativo estadunidense, sua luta contra os fora-da-lei do velho Oeste era implacável. Na outra ponta, na Califórnia espanhola, Don Diego de La Vega era um pacato filho de um estancieiro, que procurava fugir de qualquer confusão. Mascarado, lutava contra os bandidos (e os marcava com um Z). Usando a espada e o chicote com habilidade, Zorro enlouquecia o Sargento Garcia – típico policial trapalhão.
No ramo das comédias, a dupla imbatível
era formada por Bud Spencer e Terence Hill. As trapalhadas, em efeito cascata, sugeriam
que a trama era apenas um festival de gargalhadas.
Giuliano Gemma, John Wayne, Lee Van
Cliff, Allan Ladd, James Coburn, Randolph Scott, Audie Murphy, Joel McCrea, Lee
Marvin – são tantos os atores que povoaram o imaginário de quem ia ao cinema.
Um complemento indispensável para os
westerns spaghettis dirigidos pelo Sergio Leoni era as trilhas sonoras do Ennio
Morricone. A ação e a música em comunhão.
Tenho saudade do tempo em que a
ilusão sempre terminava em final feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário